Andréa Giordanna Araujo da Silva


OS DOCUMENTOS OFICIAIS E ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: OBJETIVOS E CONTEÚDOS




Introdução

O estudo apresenta-se como uma reflexão a respeito dos conteúdos e objetivos para o ensino da Historia nos anos iniciais do ensino fundamental. Foi motivado pelo constante questionamento dos professores atuantes, dos graduandos do curso de Pedagogia e dos alunos das escolas públicas, com os quais tenho trabalhado como professora das disciplinas “Saberes e Metodologia do Ensino de História I e II” e como coordenadora de projetos de extensão, sobre a contribuição da aprendizagem dos conhecimentos e práticas da disciplina escolar História na formação dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental.

Para elaborar uma resposta a esta indagação é preciso transitar numa rede complexa de saberes e práticas institucionais, constituída por interesses ideológicos, disputas políticas, posições epistemológicas e escolhas didáticas variadas. O ensino de história, assim como qualquer outra disciplina, atende as demandas sociais e políticas do tempo presente, e passa por transformações a cada mudança ou ruptura política e/ou cultural vivida pela sociedade. Deste modo, selecionou-se três documentos que tratam do ensino de história, em âmbito nacional, para identificar quais são os possíveis conteúdos e objetivos propostos pelo currículo oficial para o ensino de história nos anos iniciais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Brasil,1996), Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs (Brasil, 1998) e Base Nacional Comum Curricular - BNCC (Brasil, 2017).

Nos estudos desenvolvidos por Fonseca T. (2003), Fonseca S. (2015) e Bittecourt (2011) é possível identificar as diferentes transmutações impostas ao currículo escolar no Brasil durante a emergência do Governo Imperial, depois com o fundamento da República, ainda com as rupturas políticas e sociais vividas durante a Era Vargas e a Ditadura Militar no Brasil. Em tempos de República Democrática, como a que está em curso (pelo menos no papel), a diversidade cultural e étnica e a identidade de gênero são, por exemplo, as novas demandas formativas advindas da sociedade e das plataformas políticas, originárias de interesses partidários e governamentais e resultantes ou não das reivindicações dos movimentos e instituições sociais. Neste cenário, definir o papel da disciplina História no currículo da Educação Básica, mais especificamente nos anos iniciais do ensino fundamental, torna-se um ato crucial para orientar o trabalho docente e os programas dos cursos de formação de professores.
         
Uma discussão atraente é a que informa ser o papel do ensino de História promover a Alfabetização Histórica. Segundo Freitas (2014, p. 7), outras disciplinas como “língua portuguesa, matemática e geografia já definiram o que seriam alfabetização linguística, alfabetização numérica e alfabetização cartográfica.” Neste raciocínio, caberia a Histórica também inventar um tipo específico de alfabetização, ou seja, definir um conjunto de habilidades técnicas (e, talvez, também sociais) a serem desenvolvidas de forma aferível no âmbito escolar. Para Serrano (2013), a alfabetização histórica ocorre como o resultado de um conjunto de habilidades desenvolvidas, que correspondem principalmente as capacidades de solucionar problemas, com o uso e a análise de fontes históricas, e de construir argumentos sobre a realidade, relacionando o passado e o presente.

Carretero e López (2009), inspirados nos estudos da área de psicologia cognitiva, informam que a alfabetização histórica ocorre quando o sujeito torna-se apto a avaliar as “evidências na obtenção de informações, a raciocinar para solucionar problemas e a analisar as narrativas históricas que explicam a realidade. Os autores também observam integração da aprendizagem de conceitos e de procedimentos como uma necessidade estrutural no ensino de história.

Segundo Stamatto (2009), o conceito alfabetização histórica sofre variações conforme os autores que empregam o termo para dar sentido às propostas pedagógicas no ambiente escolar, e mais, especificamente, aquelas “transplantadas” para as escolas por meio dos livros didáticos, como se fossem a tradução dos currículos oficiais. Efetivamente este é conceito que pouco aparece nos estudos sobre o ensino da história no Brasil, apenas alguns autores, como Oliveira e Freitas (2015, p. 57), têm dedicado tempo ao estudo da temática, fundamentados principalmente nos estudos de “Mario Carretero, Rafael Valls Montés e Joaquín Prats”
         
Outra perspectiva para o ensino de História é apontá-lo como instrumento para o desenvolvimento (ou aperfeiçoamento) da Consciência Histórica, ação que corresponde, segundo os estudos de Joan Rüsen (2010, p. 57), ao desenvolvimento de “[...] operações mentais com as quais os homens interpretam a experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo”. Segundo o autor, a origem e função da História como ciência moderna está diretamente relacionada à capacidade desta servir como instrumento de “orientação para a ação e como elemento de criação de identidade” (Rüsen, 1989, p. 306). Logo, o conhecimento histórico deve servir como instrumento de interpretação do presente, numa perspectiva mais pragmática e funcional. Sendo assim, o intelectual afirma que o conhecimento histórico produzido deve ser passível de compreensão pelos indivíduos de modo geral, não só pelos acadêmicos, deve ser um saber de fácil comunicação e útil a interpretação da realidade social em que se insere o sujeito (Rusen, 2010). Desta forma,

“[...] Por ser uma operação abstrata, um trabalho do intelecto de recorrer a dados da memória para interpretar o presente e possibilitar ações no mundo, a consciência histórica não seria visualizada ou percebida imediatamente, o que dificulta um pouco a sua instrumentalização pelas pesquisas científicas. Ela está implícita nas ações das pessoas, é percebida à posteriori, mesmo sendo condição necessária à ação” (Barom, 2017, p.169).

Observa-se que a consciência história não se concretiza como uma habilidade ou competência passível de aferição com o uso de instrumentos avaliativos que primam pela averiguação de dados e informações assimilados pelos estudantes, como parece poder ocorrer com a Alfabetização Histórica, todavia ela pode ser observada como um objetivo-fim para o ensino da história (Cerri, 2011).

Embora não sejam as bases teóricas dos textos oficiais analisados neste estudo, pode-se observar na organização dos programas curriculares para o ensino de História nos anos iniciais do ensino fundamental que a estrutura de cada documento pode se aproximar do ideário de Alfabetização Histórica ou de Consciência Histórica como perspectivas formativas para as escolas brasileiras.

Conteúdos e objetivos para o ensino de História

Na análise dos documentos oficiais: LDB (1996), PCNs- História (1998) e BNCC (2017) identificaram-se diferentes objetivos e conteúdos para o ensino de História nos anos iniciais do ensino fundamental. O artigo 26º da LDB (Brasil, 1996) aponta História do Brasil como conteúdo central do currículo da educação básica, e enfatiza que devem ser consideradas como objetos de reflexão “[...] as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia”. Ainda, devido à promulgação da Lei nº 11.645 de 2008 (Brasil, 2008), o texto imperativo define que:

§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.” (Brasil, 1996).

         
A ênfase na abordagem da história dos negros, dos africanos e dos indígenas realizada no artigo 26-A  foi uma necessidade histórica criada pelos movimentos negros e por instituições culturais e políticas que reivindicaram reparações históricas na produção do saber histórico nacional e na narrativa oficial sobre a formação cultural e política do povo brasileiro. Fundamentados no texto oficial, podemos afirmar que todos os conhecimentos científicos e culturais que possibilitam compreender a constituição do Brasil como um país e uma nação podem ser objeto do ensino nos anos iniciais, seja seguindo a forma da história temática, como propôs os PCNs-História na década de 1990, seja mantendo a perspectiva positivista de divisão tripartite (Colônia, Império e República) dos tempos e dos conteúdos no ensino da História.
         
Observa-se que a LDB não institui um método (teoria pedagógica) ou procedimentos (definição de práticas) para o ensino de história, mas defini objetivos e conteúdos, pois ao afirmar que é imperativo o estudo “da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil [...] resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil” (Brasil, 1996), o documento oficial busca apresentar a história como uma ferramenta formativa indispensável, visto que é obrigatório o “estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. Isto significa tornar a compreensão da diversidade étnica e da história de luta e de resistência dos negros e indígenas no Brasil um saber necessário à formação da identidade nacional. Podemos conjecturar que o texto oficial está mais próximo da perspectiva de formação da Consciência Histórica, do que de Alfabetização Histórica, descrito por Stamatto (2009). Isto porque não pretende contribuir com a realização de exames quantitativos de verificação dos conteúdos assimilados e validar o currículo oficial, mas volta-se para a transformação e a formação dos gestos e dos discursos, deseja inteferir nas práticas e interações cotidianas, logo se afasta da perspectiva de desenvolvimento de uma identidade nacional forjada pela ideia de progresso e pela prática da exclusão e eliminação de outro na narrativa histórica (Rusen, 1989, p. 325).
         
Os PCNs-História publicados nos anos 1990, como documentos orientadores do currículo, definiram alguns objetivos e dois eixos temáticos: HISTÓRIA LOCAL E DO COTIDIANO E HISTÓRIA DAS ORGANIZAÇÕES POPULACIONAIS para o ensino nos dois primeiros ciclos do ensino fundamental (os anos iniciais). Devido à amplitude de saberes e práticas relacionadas aos eixos descritos e possíveis de serem explorados na sala de aula, o documento apresenta um conjunto de temáticas, habilidades e recursos que poderiam ser mobilizados para o ensino da história. Como por exemplo, no tratamento da temática “Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos”, o texto aponta como possibilidades para o trabalho pedagógico o “Levantamento de diferenças e semelhanças entre grupos étnicos e sociais, que lutam e lutaram no passado por causas políticas, sociais, culturais, étnicas ou econômicas”, e, ainda descreve como possíveis conteúdos para o ensino, o estudo de:

“movimentos de âmbito local: trajetória do movimento, lutas travadas, conquistas e perdas, relações mantidas com grupos nacionais ou de outras regiões, meios de divulgação de idéias, pessoas e grupos envolvidos, ideais de luta (movimentos ambientalistas, feministas, de idosos, de indígenas, de classes sociais, de liberdade de expressão, de direitos humanos, de organização religiosa, dos negros, dos sem-terra, de construção de moradias ou de saneamento básico, em prol da saúde ou da educação)“ (Brasil, 1997, p. 49).

Embora apresente a definição de procedimentos de ensino (“Levantamento de diferenças e semelhanças entre grupos étnicos e sociais”), o texto amplia o conjunto de sujeitos históricos e os lugares por eles ocupados na narrativa histórica escolar e redefine os fatos que podem ser objeto de reflexão no ensino da história nacional. Sendo assim, mesmo inscrito numa perspectiva pedagógica mais próxima do ideário de Alfabetização História, visto que os PCNs-História se aproximam do ideário pedagógico do “Aprender a aprender”, que para Duarte (2001, p. 28), “[...] reside na desvalorização da transmissão do saber objetivo, na diluição do papel da escola em transmitir esse saber, na descaracterização do papel do professor como alguém que detém um saber a ser transmitido aos seus alunos, na própria negação do ato de ensinar”, e, para isto focaliza o trabalho pedagógico na identificação de habilidades e competências específicas a serem desenvolvidas pelas práticas escolares, os PNCs-História apresentaram novas possibilidades para o ensino de história, porque tinham como aporte teórico e político-ideológico os estudos da Escola dos Annales e da História Cultural, que abordavam a diversificação das fontes, a ampliação das temáticas e dos objetos de pesquisa no campo da História, e abriam espaço para a diversificação das práticas e dos recursos de ensino. Os PCNs estimulavam o uso, na sala de aula, de artefatos culturais materiais e imateriais (filmes e músicas) e de documentos históricos como ponto de partida para a reflexão de um problema social de caráter histórico, e a realização de aulas de campo em espaços museológicos, instituições culturais diversas e comunidade étnicas específicas (como as quilombolas e indígenas). Essas práticas podem ser observadas como instrumentos pedagógicos complementares ao trabalho docente e à formação cultural crítica do estudante nas aulas de história. O estudo de Silva (2008) menciona as modificações ocorridas na escrita e no desenho gráfico dos livros didáticos de história para anos iniciais do ensino fundamental nos últimos anos. Tais alterações foram provocadas pela ampliação os objetos de pesquisas do campo da História, das demandas sociais corporificas em leis, a exemplo da Lei nº 11.645, de 2008, e também das alterações promovidas pelas editoras, as quais têm utilizado os PCNs como documento orientador para selecionar os conteúdos e as práticas que podem expor nos livros didáticos e possibilitar a aprovação de coleções e obras didáticas no Programa Nacional do Livro Didático.

Em 2017 foi publicado do texto da BNCC para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, nele o desenvolvimento de competências e habilidades específicas é descrito como atribuição do ensino de História e os conteúdos de ensino são apresentados como unidades temáticas e objetos de aprendizagem.

Tabela 1 - Programa Curricular para o Ensino de História nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental



Unidade Temática
Objetos de Conhecimento

Mundo pessoal: meu lugar no mundo
As fases da vida e a ideia de temporalidade (passado, presente, futuro).
As diferentes formas de organização da família e da comunidade: os vínculos pessoais e as relações de amizade.
A escola e a diversidade do grupo social envolvido.
Mundo pessoal: eu, meu grupo social e meu tempo
A vida em casa, a vida na escola e formas de representação social e espacial: os jogos e brincadeiras como forma de interação social e espacial
A vida em família: diferentes configurações e vínculos
A escola, sua representação espacial, sua história e seu papel na comunidade
A comunidade e seus registros
A noção do “Eu” e do “Outro”: comunidade, convivências e interações entre pessoas
A noção do “Eu” e do “Outro”: registros de experiências pessoais e da comunidade no tempo e no espaço
Formas de registrar e narrar histórias (marcos de memória materiais e imateriais)
O tempo como medida
As formas de registrar as experiências da comunidade
As fontes: relatos orais, objetos, imagens (pinturas, fotografias, vídeos), músicas, escrita, tecnologias digitais de informação e comunicação e inscrições nas paredes, ruas e espaços sociais
O trabalho e a sustentabilidade na comunidade
A sobrevivência e a relação com a natureza
As pessoas e os grupos que compõem a cidade e o município
O “Eu”, o “Outro” e os diferentes grupos sociais e étnicos que compõem a cidade e os municípios: os desafios sociais, culturais e ambientais do lugar onde vive
Os patrimônios históricos e culturais da cidade e/ou do município em que vive
O lugar em que vive
A produção dos marcos da memória: os lugares de memória (ruas, praças, escolas, monumentos, museus etc.)
A produção dos marcos da memória: formação cultural da população
A produção dos marcos da memória: a cidade e o campo, aproximações e diferenças
A noção de espaço público e privado
A cidade, seus espaços públicos e privados e suas áreas de conservação ambiental
A cidade e suas atividades: trabalho, cultura e lazer
Transformações e permanências nas trajetórias dos grupos humanos
A ação das pessoas, grupos sociais e comunidades no tempo e no espaço: nomadismo, agricultura, escrita, navegações, indústria, entre outras
O passado e o presente: a noção de permanência e as lentas transformações sociais e culturais
Circulação de pessoas, produtos e culturas
A circulação de pessoas e as transformações no meio natural
A invenção do comércio e a circulação de produtos
As rotas terrestres, fluviais e marítimas e seus impactos para a formação de cidades e as transformações do meio natural.
As rotas terrestres, fluviais e marítimas e seus impactos para a formação de cidades e as transformações do meio natural

As questões históricas relativas às migrações
O surgimento da espécie humana no continente
africano e sua expansão pelo mundo
Os processos migratórios para a formação do Brasil: os grupos indígenas, a presença portuguesa e a diáspora forçada dos africanos
Os processos migratórios do final do século XIX e início do século XX no Brasil
As dinâmicas internas de migração no Brasil a partir dos anos 1960
Povos e culturas: meu lugar no mundo e meu grupo social
O que forma um povo: do nomadismo aos primeiros povos sedentarizados
As formas de organização social e política: a noção de Estado
O papel das religiões e da cultura para a formação dos povos antigos
Cidadania, diversidade cultural e respeito às diferenças sociais, culturais e históricas
Registros da história: linguagens e culturas
As tradições orais e a valorização da memória
O surgimento da escrita e a noção de fonte para a transmissão de saberes, culturas e histórias
Os patrimônios materiais e imateriais da humanidade



Fonte: BNCC (Brasil, 2017).

Diferente dos outros documentos, a BNCC define conteúdos específicos para o ensino e aponta procedimentos de ensino e recursos que podem (ou devem) ser utilizados pelos professores. Esta estrutura possibilita a criação de exames padronizados de avaliação de aprendizagem.

Ainda, embora o texto apresente um discurso que focaliza o conhecimento histórico como “[...] uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do tempo e do espaço” (Brasil, 2017, p. 399), parecendo aproximar-se da perspectiva teórica que busca o desenvolvimento da consciência história, na análise os objetos de aprendizagem descritos é possível perceber que vários dos conteúdos expostos não se tratam de conhecimentos produzidos no campo da História (trechos grifados em negrito na tabela 1), são saberes mais próximos do campo da geografia e do ensino de ciências, logo não colaboram para interpretação da realidade, a partir da análise de dados e informações sobre o passado (ou presente histórico).

Considerações

Observa-se a diversificação de sujeitos e de temáticas propostas pelos PCNs-História (1997) e a perspectiva de estudo da História do Brasil, considerando a origem histórica e os processos de luta e resistência dos negros e indígenas descritos na LDB, como avanços nos conteúdos e objetivos para o ensino da História, todavia a perspectiva apontada pela BNCC de definição de conteúdos fixos e distantes dos conhecimentos produzidos no campo da História representa um retrocesso no processo de formação dos estudantes do ensino fundamental, e pouco colaboram para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e competências cognitivas, como querem os defensores da alfabetização histórica, e menos ainda se a próxima da perspectiva de formação da consciência histórica.

Referências

Andréa Giordanna Araujo da Silva é Professora Adjunta do Centro de Educação da UFAL.

BAROM, W. Os principais conceitos da teoria da história de Jörn Rüsen: uma proposta didática de síntese. Albuquerque: revista de história. v. 9, n.18., p. 160-192,  jul.-dez. 2017.

BITTENCOURT, C. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, UNDIME, CONSED, 2017.

BRASIL. Lei n.º 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
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BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Brasília, 2008. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm >. Acesso em: 29 jan. 2019.

CARRETERO, M. ; LÓPEZ, C. Estudios cognitivos sobre el conocimiento histórico: aportaciones para la enseñanza y alfabetización histórica. Enseñanza de las Ciencias Sociales, n. 8, p. 79-93, 2009. Disponível em: <file:///E:/184396-237602-1-PB.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2019.

CERRI, L. F.. Ensino de história e consciência histórica. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2001.

FONSECA, S. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. Cortez, São Paulo, 2015.

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FREITAS, I. O que devemos ensinar às crianças de seis anos com o nome de história? Brasília, 18dez. 2014. Disponível em: < https://www.academia.edu/12442418/O_QUE_DEVEMOS_ENSINAR_%C3%80S_CRIAN%C3%87AS_DE_SEIS_ANOS_COM_O_NOME_DE_HIST%C3%93RIA> .Acesso em: 29 jan. 2019.

FREITAS, I.;  OLIVERIRA, M. M. “Papai, para que serve a história?”: funções e sentidos da aprendizagem histórica na literatura recente colhida na Espanha e apropriada pelos brasileiros. Tempos Gerais- Revista de Ciências Sociais e História. n. 7, p. 57- 69. 2015. Disponível em:< http://www.ub.edu/histodidactica/images/documentos/pdf/PAPAI_PARA_QUE_SERVE_A_HISTORIA.pdf>. Acesso em: 01. fev. 2019.

RÜSEN, J. Conscientização histórica frente à pós-modernidade:
a história na era da “nova intransparência. História: questões e debates, ano 10, n. 18-19,  p. 303-328, jan.-dez. 1989.

_____. História viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Editora UnB, 2007.

_____. Razão histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica.  Brasília: Editora UNB, 2010.

SERRANO, J. Alfabetización histórica y competencias básicas en libros de texto de historia y en aprendizajes de estudiantes. Didáctica de las Ciencias Experimentales y Sociales, n. 27, p. 43-66, 2013.

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STAMATTO, M. I. Alfabetização histórica em materiais didáticos: significados e usos. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Disponível em:<http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1020.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017.


16 comentários:

  1. Andréa, o seu texto é bem pertinente e atual. Ao apresentar importantes documentos legais como a LDB, os Parâmetros Curriculares e a BNCC, aponta muito bem, o que cada um discute. Ao ler seu texto fiquei ansioso para chegar até as considerações finais e verificar suas conclusões...acho que foi breve pela riqueza de dados e informações que você apresentou. Gosto das conclusões, pois elas sintetizam a descrição e análise do problema levantado mostram a posição do autor. Parabéns!

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    1. Andréa Giordanna Araujo da Silva10 de abril de 2019 às 04:48

      Bom Dia Luciano.
      Agradeço o seu comentário e elogio. Em breve estarei publicando um texto, um pouco mais amplo, em um libro, acredito que as considerações estarão melhor desenvolvidas.

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  2. Esse texto é sem dúvida um dos melhores dentre os apresentados no evento. A autora faz uso de expressões como "alfabetização histórica" e ainda "consciência histórica". Pergunto qual a diferença entre ambas e quais autores são indicados para quem pretenda se aprofundar no assunto.
    Obrigado. Roberto Carlos Simões Galvão

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    1. Andréa Giordanna Araujo da Silva10 de abril de 2019 às 05:24

      Bom Dia Roberto,

      De modo geral e bem simplificado, poderiamos pensar a "alfabetização histórica" como um processo de formação que defini, com mais especifidade, o que um aluno deve saber fazer (desenvolver um argumento, interpretar um texto de forma analítica ...) de forma mais objetiva (e até verificável). A "consciência histórica” seria algo mais próximo de quem o sujeito deve ser, como compreende o mundo onde se insere, como passa a definir o seu comportamento social, considerano a memória social e histórica a que teve acesso.

      Para aprofundar sobre:

      “Consciência histórica”:

      CERRI, L. F.. Ensino de história e consciência histórica. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

      RÜSEN, J. Conscientização histórica frente à pós-modernidade:
      a história na era da “nova intransparência. História: questões e debates, ano 10, n. 18-19, p. 303-328, jan.-dez. 1989.

      _____. História viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Editora UnB, 2007.

      _____. Razão histórica: teoria da história: fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora UNB, 2010.


      "Alfabetização histórica":



      CARRETERO, M; MONTANERE, M. nseñanza y aprendizaje de la Historia: aspectos cognitivos y culturales . Cultura y Educación, v. 20 (2),pp. 133-142, 2008.

      CARRETERO, R.,; LÓPEZ RODRÍGUEZ, C. Estudios cognitivos sobre el conocimiento histórico: aportaciones para la enseñanza y alfabetización histórica. Enseñanza De Las Ciencias Sociales, v.8, p. 75-89, 2009.

      MARTINEZ, Pedro Miralles; CARRASCO, Cosme Jesús Gómez (coords.). La educación histórica ante el reto de las competencias: Métodos, recursos y enfoques de enseñanza. Barcelona: Octaedro, 2018.

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  3. Andréa, seu texto traz a importância da consciência histórica. Penso que este é um caminho para aprendizagem histórica. E sobretudo, abordar a história do Brasil, o qual me identifico. podes me dizer se essa proposta que apresentas continua sendo desenvolvida?
    abs

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    1. Andréa Giordanna Araujo da Silva10 de abril de 2019 às 05:38

      Boa Tarde Jaqueline, agradeço o seu comentário.

      Embora tenha realizado a discussão de duas perspectivas teóricas para o ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental, em minha prática, como professora, adoto o conceito de experiência de Walter Benjamin (histórico-crítica) e a perspectiva de formação social de Lev Vygotsky (teoria socialcultural) como fundamentos pedagógicos.
      abraço.

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  4. Oi Andréa, gostei muito dessa temática e minha pergunta é sobre a formação inicial. Sabe informar como é conduzido nos cursos de Pedagogia essa importância do ensino de História no ensino fundamental- anos iniciais? Como é trabalhado esses conteúdos e objetivos para o ensino de História?
    Obrigada.
    Gisele Cristina da Câmara

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    1. Andréa Giordanna Araujo da Silva10 de abril de 2019 às 04:42

      Bom Dia Gisele,
      Cada instituição de nível superior, quando está (re)formulando o PPP do Curso de Pedagogia , define os objetivos, os conteúdos e as referências teóricas que irão fundamentar às práticas de formação, considerando as diretrizes e orientações dos documentos oficiais.

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  5. Olá, Andréa. Bom dia! Gostei da sua abordagem temática, pois se pauta numa importante vertente para o ensino de história por tratar do mesmo nos anos iniciais do ensino fundamental, fase do primeiro contato que alunos possuem com a História. Embora, os conteúdos estejam direcionados a uma aprendizagem do meio, vivências etc., dos discentes. Como vc mesmo aborda no texto "que são saberes mais próximos da geografia e o ensino de ciências". Mesmo os documentos oficiais mostrando caminhos para um ensino de história digamos mais competente, a realidade é bastante diferente, pois o ensino de história é muitas vezes suprimido por outras disciplinas como português, matemática. E principalmente acredito que o grande desafio é para os professores pedagogos que são generalistas. Você considera um desafio para os pedagogos? E quais medidas a Academia deveria tomar na formação de professores nos cursos de pedagogia em relação ao ensino de história?

    Erlane Maria da Silva

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    1. Boa Tarde Erlane,
      Uma questão fundamental é reconhecer, no campo acadêmico, o que tem ocorrido de forma muito restrita, que a História é um saber possível de ser ensinado e necessário à formação das crianças. De modo geral, são os cursos de educação (mestrado e doutorado) que dedicam espaço para os estudos e abordagens da questão do ensino de história nos anos iniciais, porém, usulamente, essas pesquisas tratam de problemas e experiências didáticas. Necessitamos pensar a história como parte da formação cultural das crianças e para isto precisamos ampliar o ENSINO DE HISTÓRIA nos cursos de formação de professores e tratá-lo mais como formação de caráter teórico e menos como espaço para exposição de práticas didáticas e instrumentalização para o uso de recursos didáticos.
      Cordialmente,
      Andréa Giordanna Araujo da Silva

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  6. Parabéns Andréa por gratificante conteúdo. Por muitas vezes a consciência histórica acaba se desenvolvendo nos que desejam seguir a carreira acadêmica de História, visto que o aprendizado perpassa pelas "demandas sociais e políticas do tempo presente, e passa por transformações a cada mudança ou ruptura política e/ou cultural", o que inevitavelmente não busca dotar as jovens mentes de uma criticidade e variadas lógicas interpretativas. Me pergunto como estudante inicial de História, que tipo de saída posso buscar para melhor compreender todo esse campo de lutas e desafios para que consiga em sala de aula no futuro, que os alunos em anos iniciais possam desenvolver o que somente na academia pude ter acesso?
    Viviane Roza de Lima

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    1. Olá Viviane, agradeço o seu comentário.
      Precisamos pensar(identificar) quais os problemas e as práticas sociais vividos ou afetados pelos estudantes-crianças e as quais memórias sociais são expostos em sua família, comunidade...e apresentar as origens destes problemas ou práticas sociais numa perspectiva histórica. Por isso, o currículo precisa ser flexível e o professor muito bem formado, formamos as crianças para entender e solucionar problemas do seu próprio presente, não para o futuro, por isso o conhecimento pode ser universal, como a História da África, da colonização, mas deve servir para explicar porque uma parte da população no Brasil e no mundo é negra, por exemplo.
      Cordialemente,
      Giordanna.

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  7. Parabéns pelo trabalho Andréa! Um dos maiores desafios é realmente trabalhar no campo da história com documentos oficiais, principalmente quando se trata do ensino inicial. Partindo desse pressuposto, qual seria esse documento oficial? e qual metodologia a ser utilizada para melhor aprendizagem dessas crianças/Jovens?
    att: Ayrton Costa da Silva.

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    1. Boa tarde Ayrton, obrigada pela comentário.
      Bom, ainda considero a LDB e, especialmente, a Constituição de 1988 um bom ponto de partida para pensar a formação de um sujeito que seja a favor da República, da democracia, da igualdade e justiça social e que se reconheça também como diferente. Precisamos primeiro saber que tipo de ser humano queremos ser...em qual tipo de sociedade queremos viver , este é o caminho para selecionar os objetivos e conteúdos de ensino para qualquer disciplina ou nível escolar.
      cordialmente,
      Giordanna.

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  8. Boa noite, o trabalho muito interessante e importante. Os cursos de Licenciatura em História priorizam a formação de professores para Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Na sua pesquisa, embora objetivando a análise a partir de documentos oficiais como a BNCC, pergunto se foi possível aferir ou mesmo perceber se os professores que deverão trabalhar os conteúdos relacionados na BNCC tem formação em Pedagogia ou História.
    Teresinha Marcis

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  9. Bom Dia Teresa,
    A BNCC não alterou a diretriz da LDB que responsabiliza o ensino nos anos iniciais aos Pedagogos, inclusive para o ensino de História. Porém, com o ideário do notório saber, isto pode ser modificado no piso da Escola e qualquer licenciado poderá ensinar história, como já acontece em algumas escolas de ensino médio e fundamental, onde professores de geografia, filosofia, artes, sociologia e etc também ensinam história.

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