O
CONCEITO DE HISTÓRIA NO ENSINO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO, SEUS LIMITES E SUAS NOVAS NECESSIDADES
1. Introdução
O campo sempre esteve
atrelado a visões urbanas como passíveis de solucionar seus impasses, em busca
de trazê-lo a modernidade, partindo da ideia de urbanidade, associada a saber,
contrapondo-se ao atraso, mas “Num mundo rural cada vez menos rural, sem ser
necessariamente cada vez mais urbano, o que a valorização ideológica do moderno
e urbano define como atraso e como passado precisa ser revisto à luz do que é
próprio das ciências sociais” (MARTINS, 2014, p. 27). A Educação do Campo – apesar
de seus defensores mais exaltados afirmarem que não – provém da cidade e tem
imposto ao campo sua visão de mundo, como que a agir sobre aqueles que estão na
condição de alunos, e assim tirá-los da condição de seres singulares, daí a
necessidade de atrelar “do campo” à educação, condição que não têm agregado
diferenças significativas, e mais parece uma forma de capitalizar aliados
políticos e justificativas aos ditames teóricos daqueles que tem planejado e
efetivado esses cursos.
Se o campo de fato for
singular, que seus alunos, aqueles que têm interesse em permanecer no campo,
fazer a sucessão familiar, especialmente entre aqueles de pequenas propriedades
e médias no porte econômico e mesmo aqueles que ainda estão na peleia por
terra, em acampamentos, a Educação do Campo não deveria ser diferente? Não
deveria partir da ideia de se pautar pelas necessidades daqueles que vivem da
terra? Sendo de outra forma, que legitimidade ela possui e, inclusive o que faz
com que se mantenha e atrele recursos públicos nisso?
Se não ocorrer uma
ressocialização por parte dos professores e daqueles que planejam esses cursos,
em que se diferencia a Educação “do campo” de outra qualquer, como a Educação
rural, termo que causa verdadeira ojeriza aos militantes da primeira?
E o conceito de
História que prevalece nesses cursos? Bem sabe-se que, geralmente dada as
habilitações dos cursos existentes em Educação do Campo, são pouquíssimas as
disciplinas que tratam da História propriamente, a não ser em enfoques de “uma
história da educação” por exemplo. Por outro lado, e aqui amparando-se na
experiência do primeiro autor como professor substituto em uma universidade
pública, nessa área, sabe-se que o que perpassa todas as disciplinas, as de
humanidades, em especial, nesses cursos, generalizando e pondo-se ao debate com
os colegas, é uma concepção de História que busca a universalização e não trata
o campo de forma singular, a não ser na forma mecânica que deve ser encadeado
aos modos de produção, em acepção bem vulgar, da forma como entendem aqueles
seguidores do marxismo-leninista, dentre outros “ista” ou “ismo” comumente
agregados dependendo do autor lido e transposto a essa realidade, mecanicamente,
por exemplo, lê-se Mao e logo será o “maoísmo” ou o
“marxismo-leninismo-maoísmo” e assim por diante.
A pedagogia da
Educação do campo não está isenta nesse sentido, seja qual o termo que se
empregue, “crítica”, “materialista”, “do campo”, “da terra”, enfim, aquelas que
“nasceram” a partir de militantes que escrevem pelos movimentos sociais e
organizações políticas (como o MST), também daquela que se vale na atualidade,
a última moda, leitura de Lunacharskiy, Lepeshinskiy, Pistrak e Krupskaia,
dentre outros, teóricos educacionais da Revolução Russa. Quase todos tentam
transpor uma realidade a outra. Piaget, Freinet, dentre outros, nem pensar.
Desta forma, busca-se
aqui trazer questionamentos ao conceito de História que têm prevalecido nos
cursos de Educação do Campo, a partir de mais esses questionamentos: qual é a
História prevalecente no ensino na Educação do Campo? Quais as especificidades
e singularidades do campo que se defrontam a ideia universalista e encadeante
do marxismo-leninista que se utiliza nesses cursos?
2. Questões metodológicas
Ampare-se nas reflexões a partir de
observações do primeiro autor enquanto professor na área, das inquietudes e dos
dilemas que se viveu, às vezes de forma velada e sem poder reagir, dada as
contingências e as relações de poder do momento e, de outras mais
transgressoras, como então, com o intuito de pôr quentura aos escritos sobre
Educação do Campo, que normalmente são mornos, generalizantes e retratam a
percepção idealizada do processo.
3. Por uma concepção de História que
faça jus a necessidade da Educação do Campo
Se a Educação do Campo
faz jus a esse termo em contraponto a outras formas de perceber a educação no campo – para além da militância que
só tem sentido para quem está em uma organização ou entidade que trabalha,
assessora o campo, mas que não tem muito sentido aos professores, pois
acadêmicos que são deveriam ser mais plurais e defensores do pensamento aberto,
formador e estimulante da própria formação, a controle do próprio aluno – ela
deveria rever seu conceito de História.
Se como exposto antes
– de forma generalizante a partir de uma experiência, e aqui com propósitos de
diálogo com os pares também preocupados com o estado das coisas da área – a
Educação do Campo vem impondo um conceito, uma visão da História insensível ao
que se vive no campo, a realidade social da maioria dos alunos.
Por quê? Porque é uma
percepção equivocada, da leitura apressada, seletiva que é, daquele marxismo que
é aceito antes exposto (não se permite a leitura do Marx jovem, porque mais
filosófico, sabiam? Muito menos autores nacionais, como Antonio Candido,
Florestan Fernandes, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Carlos Rodrigues Brandão,
José de Souza Martins, dentre outros), e essa forma de ler a realidade se
distancia da compreensão efetiva da realidade, porque seletiva, encadeante e,
que só se apercebe daquilo que é padronizante, do visto, do repetitivo, do
normal, do que tem sentido a teorização abstrata e que deforma a realidade, se
necessário, para encaixá-la.
Qual concepção, então?
Aquela que o professor se permita a ressocialização, necessária a todos que
trabalham com a educação. Se é “do campo” ainda mais, para fazer valer o
quantitativo como dizem os militantes, para se diferir daquela educação que
vigorava no campo, segundo acusam, que mais estimulava a sair do que ficar lá.
Tenho boas lembranças da formação que recebi, nasci no interior e vivi com meus
pais, por anos, até a experiência de acampamento e assentamento pelo MST, até a
cooperativização forçada, aos moldes stalinistas e com requintes mais tupiniquins
(por cá até os padres, “vermelhos”, ajudavam). Era uma educação que respeitava
a formação da pessoa, da origem do aluno, de suas habilidades e, especialmente,
naquilo que é verdadeiro tabu na Educação do Campo (pois só vale a “mística”
política”), se valorizava a religiosidade.
De que outra maneira
poderia ser? A religiosidade ou a espiritualidade, como queiram – esse é termo
que se adequa mais aos mais pós-modernos na tentativa vã de se livrar do
catolicismo fundante do brasileiro – era a forma formativa das comunidades
rurais. A religião é alma do colono, do agricultor, do sem-terra, do assentado,
do posseiro, enfim do termo que for, desde que respeite as autodenominações
deles próprios e sem a imposição e rotulação apressada da academia.
Na atualidade tem sido forçado a
busca de identidade que muitas vezes as pessoas do campo sequer lembram mais,
se é que a tinham, e a academia como que de classe média e com a consciência
pesada, a tudo faz para recuperar a identidade de certas comunidades, chegando
ao cúmulo de pesquisadores irem ensinar a fazer chá, porque acreditam e
defendem, que os antepassados daquelas pessoas faziam. Qual é a concepção de
História nessa relação? Fortalece a tutela ou leva possibilidades de
emancipação social?
Bem sabe-se que as gerações e, no
campo é muito forte isso, passam de uma outra, de pai para filho, saberes,
práticas e costumes muitas vezes até milenares. Mas isso deve ser deixado a
critério da própria comunidade, que em suas estratégias de reprodução social às
vezes esquece, dissimula e até reinventa, dá novo sentido, dependendo das
circunstâncias, a processos que os acadêmicos tende a ver de forma estanque,
pois são concepções de tempo distintas que há entre esses dois grupos sociais.
Por exemplo, o caso dos mutirões ou
ajutórios que, a qualquer pesquisador mais à esquerda é propagandeado como
exemplo dos últimos refúgios da solidariedade humana, presente em agricultores
de determinadas regiões, porém, para esses, às vezes é descartado pela
incidência de altos custos a tal prática. Para reunir as pessoas no campo e,
são outros tempos, famílias e população menores, já não é fácil, ainda mais ter
que bancar a comida e a bebida para os participantes. Antigamente, em
determinadas regiões virava uma verdadeira festa, com música. Na atualidade,
pode não é racional no cálculo que a família faz, dentro do apertado orçamento
familiar. E onde entra a concepção de História que a Educação “do campo” tem
lançado e, que a nosso ver, deveria ser vista de forma crítica?
Justamente pelo fato dessa concepção
que visa padronizar o agricultor, como que a determinar seus passos, impondo-lhe
o cabresto, dando previsibilidade a sua luta e a sua história, teleológica que
é e, de ajuste por parte do pesquisador ou do professor, não percebe que as
estratégias do agricultor, no caso citado, são incompreensíveis a esse tipo de
mentalidade. Não percebem que, em muitas regiões o agricultor pode lançar mão
de espécie de sociabilidade de reserva, para fazer enfrentamento aos desafios
que o seu tempo, a sua percepção, visualiza. Desta forma, o seu comportamento,
as suas escolhas, o seu voto, muitas vezes conservador, as suas estratégias não
cabem no modelo explicativo desse tipo de História.
Apesar de muitos acreditarem que
ocorre certa erosão cultural, que muitos saberes, práticas e costumes estão a
se perder e, isso é constatável em algumas regiões, em umas mais, noutras
menos, com a penetração do capitalismo em sua fase mais aguda que a tudo
mercantiliza, inclusive a vida social e traz novas sociabilidades antes
distantes e impensáveis ao meio rural, como aquelas próprias das redes sociais
e dos aplicativos de mensagens, disseminados também em algumas áreas e locais.
Nesse sentido, o homem do campo, em
certas paragens, vive espécie de duplicidade de relações ou como se fizesse
parte de duas sociedades distintas (para aqueles que acreditam no erro de que o
rural e o urbano são antagônicos) mas complementares, cada uma com sua
sociabilidade, noutros casos em ambas há a convivência de traços, mesmo que
residuais, dos dois modos de vida, campo e cidade.
Muitas vezes vivendo em regiões
próximas às cidades, o homem do campo trabalha nessa ou nela comercializa parte
de sua produção agrícola ou hortifrutigranjeira e, com os moradores daquele
centro urbano mantém relações, intensas (chega a frequentar espaços de cultura,
por exemplo) ou mais de contato para mercado (idas esporádicas e mantém toda
sua forma de sociabilidade restrita a comunidade de origem) a partir disso
reconstruindo sua sociabilidade, sua maneira de ver o mundo e dele tirar seu
sustento (haja vista, se a moda são os orgânicos, por que não aderir?).
Como que com duas consciências, pode
optar, por razões que explicam a sua forma de reprodução social, pelo
encaminhamento diverso daquele que os intelectuais mais apressados e mais
preocupados com a sua teoria esperavam. Suas ações só poderão ser compreendidas
se se entender essa espécie de sociabilidade de reserva que estes contêm e que
fazem uso e, por essa se explica suas ações, às vezes, conservadora.
Mas, sua consciência tradicional é
rebelde em muitos aspectos, o que positiva sua permanência no campo como muito
benéfica a sociedade geral: auxiliam a preservar a natureza, podem produzir
alimentos mais saudáveis, ficando no campo ajudam a aliviar as cidades que
estão densamente ocupadas, contribuem à economia interligando como que dois
mundos, mantêm sua religiosidade e sensibilidade que nos ajuda a compreender os
diferentes tempos da vida e da história etc.
Mas, a Educação “do campo” está
aberta a essa compreensão? Os seus professores, insiste-se, estão se
ressocializando? A concepção de História que os guia leva em conta o antes
exposto?
E os alunos, a concepção de História
vigente os privilegia? Pensando neles, a chegada a universidade, como que
estranhos que se sentem e são vistos pelos outros, logo são acometidos e
estimulados a se negar – pela tal concepção de História aqui criticada – como o
desestímulo e a orientação nada velada (pois se faz críticas a isso nas aulas,
com a presença desses alunos) a que deixem de valorizar, por exemplo, a sua
religiosidade e as particularidades de suas localidades em detrimento de
orientações teóricas descoladas da realidade, conflitantes, que instauram
verdadeiros conflitos mesmo com aquilo que acreditam, o que os conduziu até
aquele momento, o que teria sentido as suas vidas, o imaginário político desses
alunos. A esse respeito, Martins (2017) informa que:
“Mesmo nos últimos cinquenta anos, em
que o país passou por grandes transformações sociais e políticas e sofreu
acentuada e generalizada modernização, os milhares de conflitos sociais
envolvendo comunidades camponesas só podem ser compreendidos se levarmos em
conta que a motivação religiosa tem aí desempenhado uma função central”
(MARTINS, 2017, p. 72).
Se a Educação do Campo privilegia
esse enfoque (em descaso com o imaginário político do aluno como exposto
atrás), essa forma de conduzir a formação desses alunos, parece que mais vale
que esses tenham à ponta da língua as palavras de ordem (por exemplo, “Abaixo o
imperialismo”, dentre outras da época e que agora seriam acrescidas “Fora Temer
golpista” ou “Bolsonaro fascista”, verdadeiros mantras preventivos à
desnecessidade da autocrítica daquilo que se pensa ser a esquerda brasileira,
mais centrada no PT, que é o partido que mais se afastou dos trabalhadores, da
base, forte entre os alunos de Educação do Campo), que mais parece a reprodução
do coro de uma partida de futebol, do que propriamente a preocupação com o que
falam e escrevem, pois apresentam dificuldades extremas nesses quesitos,
provavelmente pela má-formação advinda das escolas precárias das localidades de
origem.
Mesmo frente a isso, são alunos com
potencial, com histórias de vida singulares, trajetórias marcadas pelo
sofrimento e pouco acesso as melhorias que chegam a muitos lugares, calejados
que estão com a lida dura que caracteriza muitas vezes a forma de reprodução de
suas famílias, mas que mantêm-se distantes de outros (na universidade cria-se
espécie de estereótipo, denunciado pelos próprios alunos a respeito desses por
parte dos demais, de outras áreas do conhecimento), reféns que são de
mediadores políticos e religiosos que muitas vezes os estimulam a largar tudo e
adentrar a universidade, mas essa deveria ser mais responsável com esse
público, respeitando-os e estimulando que, com a formação ampliada e plural,
desideologizada, que os incite e com melhores condições, à luta pela
emancipação humana, para além da mera emancipação política, aliás, como já foi
escrito por Marx, “A emancipação política de fato representa um grande
progresso; não chega a ser a forma definitiva da emancipação humana em geral”
(MARX, 2013, p. 41).
São alunos ávidos pelo conhecimento
e, acima da média no quesito disciplina, uma boa característica das
organizações que advêm e, mesmo da formação familiar diretamente com seus pais,
nos afazeres e na lida diária na lavoura ou pecuária, que estimula desde cedo a
realização de tarefas e a responsabilidade sobre os próprios atos e, que é
realidade da maioria dos ingressantes nesse tipo de curso. Extremamente
respeitosos, pacientes e ousados nas tarefas que a eles se oferece, vivi
experiência de ser professor deles e, ao mesmo tempo de outras turmas, de outras
áreas.
No entanto, da forma que a Educação
do Campo está organizada e conduzida, ficam perdidos e desencontrados, e
flertam com a desilusão e a insegurança quanto a empregabilidade de seus cursos
(pois quantos dos alunos desejam emprego e quantos desejam revolucionar o mundo
como desejam os seus professores?), também pelos estímulos a partir de leituras
reducionistas, geralmente de negação do que são, parecem estar em lugar algum,
sem identidade definida, desta forma, o transitório se instaura em suas vidas,
da negação da origem e do descompasso com aquilo que seus professores e
mediadores desejam em se tratando da leitura do mundo que devem fazer.
Assim se estabelece o conflito
interno que, em muitos casos, levou a desistência de alunos do curso. Lamentavelmente,
nessa e outras situações, como as já expostas, a universidade presta um
desserviço, pois lança a desconfiança sobre a própria capacidade de formação
entre aqueles que já estão com autoestima baixa pelos problemas que assolam as
regiões rurais, principalmente a falta de perspectivas de melhorar a vida e
ascensão social, de sucessão geracional.
4. Considerações finais
O texto buscou trazer
apontamentos críticos a Educação “do campo”, a forma como vem sendo conduzida,
generalizando-se como aposta de debate com os pares, e traz à tona uma série de
limitações que o conceito de História que perpassa as disciplinas e os
professores de humanidades nesses cursos adotam, pois não é prenhe da realidade
social dos alunos, ao contrário, tem buscado padronizá-los, e é insensível a
formas diferentes e, muitas vezes, incompreensíveis que o homem do campo lança
para sobreviver na peleja do dia a dia, da vida de sempre.
Quantos estarão
dispostos a ler esse relato e esses apontamentos ao debate? Será que os professores
estarão dispostos a alargar a sua visão de Educação do Campo para além daquela
idealizada e que povoa o imaginário acadêmico?
A defesa de um ensino
de História, e hoje todos se arrogam a ser professores de História, mesmo sem
seguir os métodos próprios da área, como era comum na experiência vivenciada,
passa pela valorização do aluno do campo, pela compreensão de seus anseios e de
seus dilemas, pela ressocialização dos professores. Para isso, “Necessitamos de
uma história que nos eduque, uma história que nos cure, oriente e discipline”
(BERRY, 1991, p. 133), conectada com os alunos do campo, pois, da forma que
está, “Ainda cremos em História?” (HARTOG, 2017, p. 9)?
E que esse conceito de
História não leve a mutilação da consciência dos alunos do campo, que esses não
se transformem em estranhos a si próprios, para poder, enfim adentrar o mundo
das letras. Com tudo isso, que ocupem a universidade, no bom sentido, e sem se
descaracterizar e perder a vivacidade de suas experiências de vida e de seus tempos
históricos que, estão em ligeiro desencontro com a modernidade de seus
professores.
É o carma dos que
adentram a Educação do Campo. Até quando?
Referências bibliográficas
Manoel Adir Kischener é Bacharel e
Licenciado em História, Mestre em Desenvolvimento Regional e Doutorando em
História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Everton Marcos Batistela é
licenciado em Filosofia, Mestre e Doutor em Sociologia, Professor na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
BERRY, Thomas. O sonho da terra.
Trad. Ephraim F. Alves. Petrópolis: Vozes, 1991.
HARTOG, François. Crer em história.
Trad. Camila Dias. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
MARTINS, José de Souza. Sociologia
da fotografia e da imagem. 2. ed., 4ª reimp. São Paulo: Contexto, 2017.
MARTINS, José de Souza. A
modernidade do “passado” no meio rural. In: BUAINAIN, Antônio M. et al (Edit.
tecs.). O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão
agrário e agrícola. Brasília: Embrapa, 2014, p. 22-30.
MARX, Karl. Sobre a questão judaica.
Trad. Nélio Schneider. 1ª ed., 1ª reimpr. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
Prezados,
ResponderExcluirO estudo sobre o conceito de história predominante no ensino de história na Educação do Campo é de suma importância, pois revela a necessidade de se pensar a prática do ensino de história para essa realidade,
ou seja, qual história vem sendo disseminada no ensino de história na Educação do Campo? Como bem
apontaram os autores, são múltiplas as perspectivas sobre o ensino de história, no entanto, são poucos os educadores dispostos a superarem as representações e ideias que foram naturalizadas sobre o ensino de história na Educação do Campo.
Parabéns pela reflexão!
Megi Monique Maria Dias
Para você, porque é importante ensinar história para as populações do campo? Como podemos efetivar uma narrativa de transformação social do campo diante da efetivação de uma política de despolitização das escolar em prol da militarização do espaço público escolar?
ResponderExcluirManoel Adir Kischener
ResponderExcluirAgradecido. Tentando responder: é importante porque as populações do campo não constituem humanidade à parte, portanto, têm os mesmos direitos dos citadinos, em que pese a influência destes últimos tenha prevalecido em se tratando de políticas públicas ao campo, e com as consequências que tenho tentado expor, amparando-me na vivência no espaço rural.
Quanto a segunda questão, i) como uma resposta pessoal, não sei se o co-autor irá concordar, não vejo tantos empecilhos no que coloca como “militarização do espaço público escolar” e nem acredito que isso ocorra, como imagino que deva ser compreendido esse trecho vosso; penso que mais ocorrerá, e em alguns casos, é a troca de administração de algumas escolas, alguns professores, mas militarizar não, aliás, nem nos locais que se espera militarização ocorre, vide que os soldados, em muitos quarteis, tem espécie de jornada apenas, nem dormem lá, quando a família mora na mesma cidade, me parece, está flexibilizado até nesse espaço; no quesito administração penso que há vantagens, os militares ligados aos colégios militares têm ampla experiência (se forem esses que farão essa “transição” em algumas escolas), ainda mais no quesito organização e disciplina, o que aliás precisa muito em algumas escolas e, sinceramente não acredito em conhecimento sem disciplina, esforço; disciplina aqui entendo como propiciar condições adequadas à docência, com respeito a hierarquia, para além da ideia de professor como mero facilitador, este precisa se ressocializar sim (como defendido no artigo), mas está nele a responsabilidade pela transmissão do conhecimento mais aprofundado, com o viés da ciência. E, com a violência que assola alguns colégios, contra os professores, a ideia de ter segurança, mínima, já é um alento. Mas não acredito que ocorrerá uma “militarização” em massa das escolas.
ii) quanto ao segundo aspecto que engloba vossa segunda questão, “efetivar uma narrativa de transformação social do campo diante da efetivação de uma política de despolitização das escolas”, antes de tudo, penso, é preciso criar as condições para a efetiva transformação social, antes da narrativa. Pois é o que tem acontecido em se tratando de movimentos sociais e a própria Educação do Campo, mais há alardeio, propaganda, do que efetivo ensino, como merecem as populações do campo. Em relação a despolitização, se for a partidária, sou de pleno acordo, pois a escola e mesmo as universidades não podem se transformar em espaço da política rasa, como tem sido a partidária (e infelizmente têm se alastrado em muitas universidades públicas); o que se deve estimular sim, são outras formas de política, no bom sentido do termo, e que propiciem possibilidades de efetiva emancipação das pessoas, como advoga, aliás, Marx nos seus escritos iniciais, infelizmente esquecidos (ou sequer conhecidos) de muitos defensores de movimentos sociais e ditos ativistas (o que denunciamos no artigo, é o uso restrito de Marx, apenas dos textos panfletários e o ocultamento dos textos filosóficos, por exemplo, que tratam da dialética). Por fim, a narrativa que deve tratar do campo, se com os próprios elementos ou com os seus mediadores, não deve ser político-partidária, deve ser científica, amparada em pesquisa empírica, que dê conta, com o artesanato metodológico que se possa dispor, reinventando-o, mas considerando o outro, para além de tipos-chave, informantes privilegiados, a pesquisa não pode se estabelecer legitimando distorções e relações de poder de uns sobre outros, especialmente se a ideia de emancipação estiver em xeque.
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