Eduardo Henrique Martins Pagin


O USO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO DA HISTÓRIA


Tentar conseguir a atenção dos alunos que pouco se interessam ou ainda que não gostam de história é, realmente, uma tarefa difícil para a boa dinâmica da aula. Uma possível alternativa para tentarmos resolver ou minimizar este problema seria apostar na grande possibilidade da interdisciplinaridade que a história nos oferece, pelo simples fato de que tudo que se tenha acontecido faz parte da história.

Para isso, colocamos em evidências alguns momentos ou fatos relacionados a outras áreas do conhecimento, como a matemática, o desenvolvimento da arquitetura e urbanismo, a física, a computação, a literatura, e todas as diversas áreas que considere boa para atrair seus alunos. A seguir, temos alguns exemplos de como buscar esta interdisciplinaridade ao ensinar a história.

O início dos estudos da arquitetura e urbanismo.
Muito se fala nas cidades gregas e romanas durante as aulas de história, com o início da democracia ateniense, as formações das polis, a composição da formação da população. Contudo, a construção de grandes cidades e impérios surge com algo quase nunca mencionado, que é o nascimentos dos grandes primeiros arquitetos e seus estudos. Dentre eles podemos citar, por exemplo Hipódamos de Mileto, um dos precursores do sistema de ruas xadrez, no qual se estuda a orientação e dimensão das ruas de acordo com seus usos para a locomoção na cidade. Hipódamos é conhecido por ser o arquiteto responsável pelo estudos das cidades de Mileto, Pireu, Turi, entre várias outras e ainda é mencionado na obra ‘Política’, do filósofo Aristóteles, com uma seção dedicada somente a ele e suas ideias de divisão da polis.

Outra grande cidade planejada urbanisticamente da época mencionada foi Roma, que chegou a alcançar a marca de 1 milhão de habitante e possuir “[…]19 aquedutos que forneciam 1.000.000 m³/dia à cidade, esgotos dinâmicos, ruas pavimentadas, 46.602 prédios de apartamentos, tendo alguns até 8 andares, 80 palácios para os nobres, além de ser protegida por muralhas.” (Ferrari, 1977, p. 219).

A invenção que atualizou o mundo durante a guerra
Durante as aulas sobre a Segunda Guerra Mundial, fala-se sobre a expansão nazista, a política de apaziguamento aplicada principalmente por Inglaterra e França, as atrocidades do holocausto e as alianças formadas para a guerra. Contudo, é possível atrair mais atenção às aulas, principalmente dos aficionados à matemática e à tecnologia, comentando sobre uma das principais armas para acabar com a guerra: o computador.

Este aparelho teve suas origens em pleno caos da guerra. Criado pelo grande matemático britânico Alan Turing, ajudou os Aliados a decifrar os códigos nazistas criptografados pela Enigma, máquina de criptografia criada em 1918 pelo engenheiro eletrotécnico alemão Arthur Scherbius. Decifrando os códigos, os Aliados conseguiram levar a guerra a um final vitorioso, culminado na derrota do Eixo em setembro de 1945. Christopher, como foi chamado a máquina de Turing, se estenderia até se tornar o computador que hoje conhecemos.

Junto a essa história, temos ainda uma curiosidade sobre uma das prováveis teorias de o porquê a Apple tenha como símbolo uma maçã mordida e pintada com as cores do arco-íris (no início da marca). Turing foi condenado à castração química após a guerra por ser homossexual, segundo a lenda, ele teria envenenado uma maçã e comido, para acabar com seu sofrimento. Como uma forma de prestigiar o pai da computação, a Apple adotou como símbolo a maçã que teria sido usado por Turing para cometer suicídio e pintada com as cores do arco-íris devido a sua orientação sexual.

O uso da literatura para momentos históricos
Não é nenhuma novidade que a história sempre andou de mão dadas com a literatura, na qual muitos escritores tiveram como expressar questões da sociedade da época nas linhas que escreveram. Ficcional ou não, pode-se utilizar destas obras para compreender um pouco melhor o momento por qual passou certa sociedade. Ao ministrar aulas sobre a Idade Média e Contemporânea, por exemplo, podemos nos utilizar de livros atuais que tratam de alguma maneira com o assunto e tempo abordado, como os livros ‘Anjos e Demônios’, ‘O código da Vinci’ e ‘Inferno’, do escritor norte-americano Dan Brown. Mesmo tratando-se de um enredo ficcional, o protagonista utiliza-se de diversas passagens que ocorreram tanto na Idade Média quanto na Contemporânea para resolver os problemas que o cercam.

Outra obra que podemos ter o prazer de comentar nas aulas é Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle. Durante os textos de Doyle, podemos perceber a passagem do tempo do fim do século XIX e início do século XX. Vemos as revoluções, tanto na indústria quanto na pessoas, durante a leitura desse clássico. Em um dos últimos contos de Sherlock Holmes, por exemplo, vemos os equipamentos interferindo na atividade das personagens, como em ‘A aventurada da pedra Mazarin’, onde Sherlock utiliza-se da modernidade da época para ajudar a solucionar os casos, como o gramofone utilizado por ele para distrair dois homens durante um caso: “Deixe-o tocar! Esses gramofones modernos são uma invenção notável” (Doyle, 2016, p.251).

A expansão não só marítima.
Ao falar sobre o “descobrimento” do Brasil, comenta-se que isto derivou-se de uma expansão marítima realizada pelo reino de Portugal, sobre os escambos e extrativismo realizados. Contudo, para que se conseguisse chegar à essa expansão foi necessário anos de estudo para aprimoramento de questões relacionadas à navegação, como o aperfeiçoamento de técnicas de navegação e localização, construção de barcos mais eficazes e resistentes, entre outros.

Mesmo após o descobrimento da bússola pelos chineses no século I a.C., ainda era necessário aprimorar muito os métodos para guia-los durante suas expedições. Para isso, “No ano de 1485, foi convocada uma junta de sábios com o propósito de elaboração e codificação da nova navegação científica, de forma a ser mais bem entendida e praticada pelos homens do mar.” (Motoyama, 2004, p.64). Com isso, chegou-se a um nível que permitiu que as navegações portuguesas chegassem a lugares cada vez mais distantes.

Conclusão
O ensino da história por meio da interdisciplinaridade instiga, portanto, o aluno para que busque sempre algo a mais do que é passado durante as aulas de história. Já que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (Freire, 1996, p. 57), vejo esse sendo um dos melhores métodos para a procura do aluno ao conhecimento, motivado pela curiosidade e pela interdisciplinaridade de acordo com seus gostos.  Desta maneira, teríamos aulas mais participativas, atraindo os alunos fisgados a partir do interesse sobre determinado assunto ou conteúdo.


Referências
Eduardo Henrique Martins Pagin é aluno do curso de Licenciatura em Ciências Exatas, Universidade de São Paulo – USP.

Ferrari, Celson. Curso de Planejamento Municipal Integrado – Urbanismo, 1977.

Doyle, Arthur Conan. Sherlock Holmes – Obra completa – Vol. 4, Rio de Janeiro: Harper Collins, 2016.

Motoyama, Shozo. Prelúdio para uma história – Ciência e Tecnologia no Brasil, São Paulo: Edusp, 2004.

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia, São Paulo: Paz e Terra, 1996.

14 comentários:

  1. Olá,
    Coloco o assunto da interdisciplinaridade abordado de forma instigante. Como sugestão, seguindo a linha de pensamento do recorte da expansão marítima, convido a levantar a questão a respeito de como a história aborta as questões geográficas do período.
    Grata pela atenção!

    Anelisa Mota Gregoleti

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  2. Olá,
    parabéns pelo trabalho, riquíssima contribuição para as metodologias de ensino.
    Gostaria de perguntar de que forma por exemplo, poderíamos utilizar de outras áreas do saber para o Ensino de América Colonial, possui alguma sugestão?

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  3. Boa noite Eduardo,
    Sobre a sua perspectiva, acredita ser plausível afirmarmos que a História da Humanidade afeta diretamente a História Ambiental?

    Nathália.

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  4. Boa tarde!

    Na sua opinião, para um ensino fundamental II o qual os alunos ficam fascinados em "coisas novas" qual conteúdo e disciplina principalmente a História poderia interagir de modo imstigante?

    Att
    José Gilberto Targino de Medeiros

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  5. Olá, muito interessante sua contribuição, ao meu ver dialoga muito com a história da ciência. Minha pergunta é se você colocou em prática tais propostas e quais foram os resultados com os alunos? E também que autores podem ser consultados para trabalhar a matemática ao longo da história?
    Att,
    Felipe Araújo de Melo.

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  6. Olá, tudo bem?
    A amarração das disciplinas por seus conteúdos também pode ser visto, com obviedade, os seus assuntos semelhantes, porém de forma e visão distinta, por exemplo nos ¨primeiros¨ movimentos negros no Brasil na década de de 1930, FNB em especial, Existe toda uma explicação histórica, mas que também pode ser visto a questão dos movimentos sociais em outras disciplinas da área das Ciências Sociais e Humanas. Como também podemos fazer essa interdisciplinaridade com as co-irmãs humanas, com visão própria da disciplina agregada a aula?
    CARLOS DAVID SOUSA GUEDES

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  7. Parabéns pelo texto. Sem dúvida um ótimo assunto, que nos faz refletir sobre as várias possibilidades de levar o conhecimento aos nossos alunos. A interdisciplinaridade ajuda não só o professor como também os alunos na hora de entender e produzir seu conhecimento a respeito de determinado assunto. Muito é falado sobre interdisciplinaridade e como ela é útil em sala de aula. Você acredita que existe uma pratica recorrente dessa interdisciplinaridade tanto por parte da escola como dos alunos?

    Sueli da Silva Lima

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  8. Qual seria o melhor caminho, na sua opinião, para maximizar o uso das novas tecnologias (como tabletes, e-readers, celulares) na interdisciplinaridade em relação ao ensino de História? Ticyana Silva Franco

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  9. olá!
    muito interessante o uso da prática interdisciplinar em sala de aula,muito já se tem falado de sua importância, entretanto como pedagoga sinto que ainda há um certo distanciamento do ensino fundamental I, então gostaria de saber, seguindo essa linha de pensamento do texto, nos conteúdos dessas series quais estratégias ou instrumentos auxiliariam para chamar a atenção destes alunos? obrigada pela atenção!
    Clara Ana da Silva

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  10. Caroline de Alencar Barbosa11 de abril de 2019 às 14:10

    Prezado Eduardo, boa tarde.

    O tema da interdisciplinaridade é sempre uma excelente contribuição para os docentes, em formação ou em exercício.
    Nessa perspectiva gostaria de saber sobre sua experiência a partir da utilização dessas outras abordagens em sala de aula. Além disso, você promove o diálogo com professores de outras disciplinas para promover uma aula "em conjunto"? Outra coisa que acredito que poderia chamar a atenção dos discentes seria a criação de jogos educativos com elementos de diversas disciplinas para que os alunos através do contato compreendessem alguns processos e construíssem seu conhecimento através da prática.

    Atenciosamente
    Caroline de Alencar Barbosa

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  11. Caro Eduardo, na interdisciplinaridade da Ciência da História com outras ciências sociais é possível fazer uso dos conceitos formulados pela Antropologia, Sociologia,Geografia,tais como classe, Poder, Papel Social etc. no trabalho do professor-pesquisador no ensino de História realocando esses conceitos para o "discurso" historiográfico?

    Atenciosamente
    José Alexandre Gomes de Freitas Morais

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  12. O livro didático, muitas vezes, se apresenta como a única fonte em comum entre professores e alunos - principalmente nas redes públicas de ensino, que não apresentam disponibilidade de outros recursos -. Tendo isso em vista, como você acha que se pode aplicar o método da interdisciplinaridade utilizando o livro didático de História como fonte principal?

    Melina Gama de Bulhões

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  13. Boa noite, todos sabemos que a matéria história não chama a atenção de muitos dos alunos, o que acaba tornando a aula chata. Como você acha ou o que você acha que poderia ser feito para chamar a atenção desses alunos?

    Sabrina Cavalli

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