O USO DA
INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO DA HISTÓRIA
Tentar conseguir a
atenção dos alunos que pouco se interessam ou ainda que não gostam de história
é, realmente, uma tarefa difícil para a boa dinâmica da aula. Uma possível
alternativa para tentarmos resolver ou minimizar este problema seria apostar na
grande possibilidade da interdisciplinaridade que a história nos oferece, pelo
simples fato de que tudo que se tenha acontecido faz parte da história.
Para isso, colocamos
em evidências alguns momentos ou fatos relacionados a outras áreas do
conhecimento, como a matemática, o desenvolvimento da arquitetura e urbanismo,
a física, a computação, a literatura, e todas as diversas áreas que considere
boa para atrair seus alunos. A seguir, temos alguns exemplos de como buscar
esta interdisciplinaridade ao ensinar a história.
O
início dos estudos da arquitetura e urbanismo.
Muito se fala nas
cidades gregas e romanas durante as aulas de história, com o início da democracia
ateniense, as formações das polis, a composição da formação da população. Contudo,
a construção de grandes cidades e impérios surge com algo quase nunca
mencionado, que é o nascimentos dos grandes primeiros arquitetos e seus estudos.
Dentre eles podemos citar, por exemplo Hipódamos de Mileto, um dos precursores
do sistema de ruas xadrez, no qual se estuda a orientação e dimensão das ruas
de acordo com seus usos para a locomoção na cidade. Hipódamos é conhecido por
ser o arquiteto responsável pelo estudos das cidades de Mileto, Pireu, Turi,
entre várias outras e ainda é mencionado na obra ‘Política’, do filósofo
Aristóteles, com uma seção dedicada somente a ele e suas ideias de divisão da polis.
Outra grande cidade
planejada urbanisticamente da época mencionada foi Roma, que chegou a alcançar
a marca de 1 milhão de habitante e possuir “[…]19 aquedutos que forneciam
1.000.000 m³/dia à cidade, esgotos dinâmicos, ruas pavimentadas, 46.602 prédios
de apartamentos, tendo alguns até 8 andares, 80 palácios para os nobres, além
de ser protegida por muralhas.” (Ferrari, 1977, p. 219).
A
invenção que atualizou o mundo durante a guerra
Durante as aulas
sobre a Segunda Guerra Mundial, fala-se sobre a expansão nazista, a política de
apaziguamento aplicada principalmente por Inglaterra e França, as atrocidades
do holocausto e as alianças formadas para a guerra. Contudo, é possível atrair
mais atenção às aulas, principalmente dos aficionados à matemática e à
tecnologia, comentando sobre uma das principais armas para acabar com a guerra:
o computador.
Este aparelho teve
suas origens em pleno caos da guerra. Criado pelo grande matemático britânico
Alan Turing, ajudou os Aliados a decifrar os códigos nazistas criptografados
pela Enigma, máquina de criptografia criada em 1918 pelo engenheiro
eletrotécnico alemão Arthur Scherbius. Decifrando os códigos, os Aliados
conseguiram levar a guerra a um final vitorioso, culminado na derrota do Eixo
em setembro de 1945. Christopher, como foi chamado a máquina de Turing, se
estenderia até se tornar o computador que hoje conhecemos.
Junto a essa
história, temos ainda uma curiosidade sobre uma das prováveis teorias de o
porquê a Apple tenha como símbolo uma maçã mordida e pintada com as cores do
arco-íris (no início da marca). Turing foi condenado à castração química após a
guerra por ser homossexual, segundo a lenda, ele teria envenenado uma maçã e
comido, para acabar com seu sofrimento. Como uma forma de prestigiar o pai da
computação, a Apple adotou como símbolo a maçã que teria sido usado por Turing
para cometer suicídio e pintada com as cores do arco-íris devido a sua
orientação sexual.
O
uso da literatura para momentos históricos
Não é nenhuma
novidade que a história sempre andou de mão dadas com a literatura, na qual
muitos escritores tiveram como expressar questões da sociedade da época nas
linhas que escreveram. Ficcional ou não, pode-se utilizar destas obras para
compreender um pouco melhor o momento por qual passou certa sociedade. Ao
ministrar aulas sobre a Idade Média e Contemporânea, por exemplo, podemos nos
utilizar de livros atuais que tratam de alguma maneira com o assunto e tempo
abordado, como os livros ‘Anjos e Demônios’, ‘O código da Vinci’ e ‘Inferno’,
do escritor norte-americano Dan Brown. Mesmo tratando-se de um enredo
ficcional, o protagonista utiliza-se de diversas passagens que ocorreram tanto
na Idade Média quanto na Contemporânea para resolver os problemas que o cercam.
Outra obra que
podemos ter o prazer de comentar nas aulas é Sherlock Holmes, de Sir Arthur
Conan Doyle. Durante os textos de Doyle, podemos perceber a passagem do tempo
do fim do século XIX e início do século XX. Vemos as revoluções, tanto na
indústria quanto na pessoas, durante a leitura desse clássico. Em um dos
últimos contos de Sherlock Holmes, por exemplo, vemos os equipamentos
interferindo na atividade das personagens, como em ‘A aventurada da pedra
Mazarin’, onde Sherlock utiliza-se da modernidade da época para ajudar a
solucionar os casos, como o gramofone utilizado por ele para distrair dois
homens durante um caso: “Deixe-o tocar! Esses gramofones modernos são uma
invenção notável” (Doyle, 2016, p.251).
A
expansão não só marítima.
Ao falar sobre o
“descobrimento” do Brasil, comenta-se que isto derivou-se de uma expansão
marítima realizada pelo reino de Portugal, sobre os escambos e extrativismo
realizados. Contudo, para que se conseguisse chegar à essa expansão foi
necessário anos de estudo para aprimoramento de questões relacionadas à
navegação, como o aperfeiçoamento de técnicas de navegação e localização,
construção de barcos mais eficazes e resistentes, entre outros.
Mesmo após o
descobrimento da bússola pelos chineses no século I a.C., ainda era necessário
aprimorar muito os métodos para guia-los durante suas expedições. Para isso, “No
ano de 1485, foi convocada uma junta de sábios com o propósito de elaboração e
codificação da nova navegação científica, de forma a ser mais bem entendida e
praticada pelos homens do mar.” (Motoyama, 2004, p.64). Com isso, chegou-se a
um nível que permitiu que as navegações portuguesas chegassem a lugares cada
vez mais distantes.
Conclusão
O ensino da história
por meio da interdisciplinaridade instiga, portanto, o aluno para que busque
sempre algo a mais do que é passado durante as aulas de história. Já que “Ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção.” (Freire, 1996, p. 57), vejo esse sendo um dos
melhores métodos para a procura do aluno ao conhecimento, motivado pela
curiosidade e pela interdisciplinaridade de acordo com seus gostos. Desta maneira, teríamos aulas mais
participativas, atraindo os alunos fisgados a partir do interesse sobre
determinado assunto ou conteúdo.
Referências
Eduardo Henrique
Martins Pagin é aluno do curso de Licenciatura em Ciências Exatas, Universidade
de São Paulo – USP.
Ferrari, Celson. Curso
de Planejamento Municipal Integrado – Urbanismo, 1977.
Doyle, Arthur Conan.
Sherlock Holmes – Obra completa – Vol. 4, Rio de Janeiro: Harper Collins, 2016.
Motoyama, Shozo.
Prelúdio para uma história – Ciência e Tecnologia no Brasil, São Paulo: Edusp, 2004.
Freire, Paulo.
Pedagogia da Autonomia, São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Olá,
ResponderExcluirColoco o assunto da interdisciplinaridade abordado de forma instigante. Como sugestão, seguindo a linha de pensamento do recorte da expansão marítima, convido a levantar a questão a respeito de como a história aborta as questões geográficas do período.
Grata pela atenção!
Anelisa Mota Gregoleti
Olá,
ResponderExcluirparabéns pelo trabalho, riquíssima contribuição para as metodologias de ensino.
Gostaria de perguntar de que forma por exemplo, poderíamos utilizar de outras áreas do saber para o Ensino de América Colonial, possui alguma sugestão?
Boa noite Eduardo,
ResponderExcluirSobre a sua perspectiva, acredita ser plausível afirmarmos que a História da Humanidade afeta diretamente a História Ambiental?
Nathália.
Boa tarde!
ResponderExcluirNa sua opinião, para um ensino fundamental II o qual os alunos ficam fascinados em "coisas novas" qual conteúdo e disciplina principalmente a História poderia interagir de modo imstigante?
Att
José Gilberto Targino de Medeiros
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, muito interessante sua contribuição, ao meu ver dialoga muito com a história da ciência. Minha pergunta é se você colocou em prática tais propostas e quais foram os resultados com os alunos? E também que autores podem ser consultados para trabalhar a matemática ao longo da história?
ResponderExcluirAtt,
Felipe Araújo de Melo.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirA amarração das disciplinas por seus conteúdos também pode ser visto, com obviedade, os seus assuntos semelhantes, porém de forma e visão distinta, por exemplo nos ¨primeiros¨ movimentos negros no Brasil na década de de 1930, FNB em especial, Existe toda uma explicação histórica, mas que também pode ser visto a questão dos movimentos sociais em outras disciplinas da área das Ciências Sociais e Humanas. Como também podemos fazer essa interdisciplinaridade com as co-irmãs humanas, com visão própria da disciplina agregada a aula?
CARLOS DAVID SOUSA GUEDES
Parabéns pelo texto. Sem dúvida um ótimo assunto, que nos faz refletir sobre as várias possibilidades de levar o conhecimento aos nossos alunos. A interdisciplinaridade ajuda não só o professor como também os alunos na hora de entender e produzir seu conhecimento a respeito de determinado assunto. Muito é falado sobre interdisciplinaridade e como ela é útil em sala de aula. Você acredita que existe uma pratica recorrente dessa interdisciplinaridade tanto por parte da escola como dos alunos?
ResponderExcluirSueli da Silva Lima
Qual seria o melhor caminho, na sua opinião, para maximizar o uso das novas tecnologias (como tabletes, e-readers, celulares) na interdisciplinaridade em relação ao ensino de História? Ticyana Silva Franco
ResponderExcluirolá!
ResponderExcluirmuito interessante o uso da prática interdisciplinar em sala de aula,muito já se tem falado de sua importância, entretanto como pedagoga sinto que ainda há um certo distanciamento do ensino fundamental I, então gostaria de saber, seguindo essa linha de pensamento do texto, nos conteúdos dessas series quais estratégias ou instrumentos auxiliariam para chamar a atenção destes alunos? obrigada pela atenção!
Clara Ana da Silva
Prezado Eduardo, boa tarde.
ResponderExcluirO tema da interdisciplinaridade é sempre uma excelente contribuição para os docentes, em formação ou em exercício.
Nessa perspectiva gostaria de saber sobre sua experiência a partir da utilização dessas outras abordagens em sala de aula. Além disso, você promove o diálogo com professores de outras disciplinas para promover uma aula "em conjunto"? Outra coisa que acredito que poderia chamar a atenção dos discentes seria a criação de jogos educativos com elementos de diversas disciplinas para que os alunos através do contato compreendessem alguns processos e construíssem seu conhecimento através da prática.
Atenciosamente
Caroline de Alencar Barbosa
Caro Eduardo, na interdisciplinaridade da Ciência da História com outras ciências sociais é possível fazer uso dos conceitos formulados pela Antropologia, Sociologia,Geografia,tais como classe, Poder, Papel Social etc. no trabalho do professor-pesquisador no ensino de História realocando esses conceitos para o "discurso" historiográfico?
ResponderExcluirAtenciosamente
José Alexandre Gomes de Freitas Morais
O livro didático, muitas vezes, se apresenta como a única fonte em comum entre professores e alunos - principalmente nas redes públicas de ensino, que não apresentam disponibilidade de outros recursos -. Tendo isso em vista, como você acha que se pode aplicar o método da interdisciplinaridade utilizando o livro didático de História como fonte principal?
ResponderExcluirMelina Gama de Bulhões
Boa noite, todos sabemos que a matéria história não chama a atenção de muitos dos alunos, o que acaba tornando a aula chata. Como você acha ou o que você acha que poderia ser feito para chamar a atenção desses alunos?
ResponderExcluirSabrina Cavalli