O ROTEIRO IMAGÉTICO NO ENSINO DE
HISTÓRIA PARA ALUNOS SURDOS
A aula de História é eminentemente narrativa (ALBUQUERQUE
JÚNIOR, 2016). Valendo-se dos saberes acadêmicos, os professores dessa
disciplina tecem enredos repletos de personagens, lugares, conflitos e
conceitos intentando conduzir os alunos em uma espécie de viagem no tempo, na
qual deslocam-se num constante vai-e-vem entre o presente e o passado.
Ouvintes, em sua maioria, esses docentes utilizam a oralidade como meio para
expor aquilo que narram. Em turmas com alunos surdos incluídos, esse habitus
(MONTEIRO, 2010, p. 6)
torna-se um problema, uma vez que compromete a aprendizagem dos referidos
educandos, podendo inclusive inviabilizá-la. Mesmo o trabalho dos intérpretes
de Língua Brasileira de Sinais (Libras) é insuficiente, pois a metodologia
empregada pelo professor não respeita a singularidade surda.
Os sujeitos
surdos experimentam o mundo de uma forma distinta, na qual a visão é o sentido
predominante. Skliar define a vivência surda como aquela onde “todos os
mecanismos de processamento da informação, e todas as formas de compreender o
universo em seu entorno, se constroem como experiência visual” (2016, p. 28).
Tal característica basilar é reconhecida pela legislação brasileira. No Decreto
5.626/05, que regulamenta a “Lei de Libras” (BRASIL, 2002), “considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda
auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais”
(BRASIL, 2005). Nesta perspectiva, Lebedeff chama a atenção para a
necessidade de a visualidade fundamentar “propostas educacionais para surdos”
(2017, p. 230). Verri e Alegro reforçam essa posição ao afirmar que “se o som e
a fala são determinantes para o ouvinte; para o surdo, a imagem é que melhor
permite seu aprendizado” (2006, p. 105). Entre os estudos relacionados ao
ensino de História para surdos é unânime a defesa de metodologias que incorporam
o uso de imagens, uma vez que elas facilitam a cognição, potencializando o
aprendizado desses sujeitos. E não somente deles, como se depreende do que
sugere o MEC:
“desenhos/ilustrações/fotografias – poderão ser aliados
importantes, pois trazem, concretamente, a referência ao tema que se apresenta.
Toda a pista visual pictográfica enriquece o conteúdo e estimula o hemisfério
cerebral não-linguístico, tornando-se um recurso precioso de memorização para todos os alunos.” (BRASIL, 2006, p. 75,
grifo nosso)
Ensinar a ler imagens como se ensina a ler textos escritos
pode ser um meio interessante do professor de História levar seus alunos surdos
a acessarem conteúdos de modo significativo. “Uma imagem pode evocar a
compreensão de vários elementos de um determinado tempo histórico e, nesse
sentido, evocar significados sem a presença de qualquer texto escrito”
(LACERDA; SANTOS; CAETANO, 2014, p. 187). Contudo, tal tarefa não é tão simples
quanto possa parecer, conforme adverte Lilia Schwarcz:
“Há qualquer coisa de previsível, mas também de misterioso
no ato de analisar imagens. Por um lado, tudo parece fácil, já que não há quem
possa ‘ver’ e assim admirar uma obra de arte. Mas da mesma maneira como se
deixam compreender de imediato, essas mesmas obras carregam lá seus segredos,
genealogias e historicidades que pedem calma e cuidado: mais do que apenas
‘olhar’, quem sabe seja bom começar a ‘ler’ imagens.” (SCHWARCZ, 2004, p. 423)
Essa autora aponta que ler uma imagem vai além do que os
olhos veem. Como um mistério a ser desvendado é preciso saber qual é a sua
natureza, quem a fez, por qual motivo, o que quer nos dizer... Transformada em
desafio, a leitura de imagens pode ser instigante para o aluno, levando-o a se
interessar pela História. Sacks nos fala da dificuldade dos surdos quanto a
aquisição de informações prévias (2005, p. 71). Essas seriam fundamentais para
a construção do conhecimento na escola, uma vez que muitos pertencem a famílias
ouvintes que desconhecem a língua de sinais e a própria mídia nem sempre
fornece conteúdo acessível. Assim, embora seja tarefa difícil para o aluno
surdo contextualizar uma imagem a partir de informações prévias, nada o impede
de formular hipóteses sobre a mesma. Dessa forma, o professor de História pode
promover uma participação mais efetiva de seus alunos surdos, utilizando
métodos semelhantes aos dos pesquisadores da História.
Considerando as questões acima apresentadas, propomos uma
estratégia didática que intenta conciliar as narrativas do professor de
História com a proeminência da visualidade do estudante surdo. Trata-se do que
denominamos Roteiro Imagético, por meio do qual imagens são o fio condutor da
exposição dos conteúdos. Como pistas que precisam ser decifradas a fim de
chegarmos a uma visão de conjunto, assim é a proposta desse dispositivo
didático. Ele inverte o uso tradicional das imagens na aula de História, na
qual costumam ser apresentadas para ilustrar, exemplificar ou comprovar a fala
do professor e os textos utilizados. As imagens deixam assim de ser um ponto de
chegada para tornar-se a partida. A aula é construída a partir de sua leitura.
E essa leitura, em uma outra inversão, parte das informações fornecidas pelos
alunos, da descrição que fazem das imagens e dos conhecimentos prévios,
alicerces da construção da aprendizagem significativa (VERRI; ALEGRO, 2006, p.
100). Imagens e alunos, surdos ou ouvintes, elevam-se, assim, à condição de
protagonistas da aula.
A concepção do Roteiro Imagético aqui sugerido remonta à
prática docente de um dos autores desta comunicação, professor de classes
regulares com alunos surdos incluídos em uma escola da rede municipal de
educação de Duque de Caxias (RJ). Frente à necessidade de desenvolver um
recurso didático diferenciado capaz de considerar as especificidades daqueles
educandos e aos entraves para o uso de imagens por meio de recursos
tecnológicos em uma unidade escolar pública, o professor criou um roteiro para
a narrativa de sua aula utilizando uma série de imagens selecionadas na
internet e apresentadas aos educandos em folhas no formato A4. Na persistência
e valendo-se de recursos possíveis, materializou-se a primeira versão do que
seria denominado Roteiro Imagético. Posteriormente, no âmbito do Programa de
Pós-Graduação em Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PPGEH/UFRJ), o dispositivo foi reelaborado, à luz de um arcabouço teórico e
novas reflexões, sendo incluído na dissertação de Santos (2018), que contou com
a orientação dos professores Dr. Silvio de Almeida Carvalho Filho e Dr.ª
Celeste Azulay Kelman.
A proposta de leitura do Roteiro Imagético é feita em três
níveis, partindo de conceitos de Didi-Huberman (2005). O primeiro nível é o do
visível, ou seja, daquilo alcançado pelo sentido da visão. É a etapa da
descrição. O momento em que os alunos são convidados a descrever o que veem em
cada imagem apresentada no roteiro. Uma por vez. Como os surdos costumam ser
exímios observadores (BARRAL; PINTO-SILVA; RUMJANEK,
2017, p. 117), esta parte inicial da estratégia estimula a participação
desses alunos, retirados assim de uma condição de passividade a qual são
relegados em metodologias centradas exclusivamente na exposição oral dos
professores. Ainda nessa etapa, os estudantes costumam trazer os seus
conhecimentos prévios relacionados à imagem observada.
Importante destacar que o intérprete de Libras tem um papel
fundamental no processo de leitura do Roteiro Imagético, mediando e, dessa
forma, viabilizando a participação dos alunos surdos. Nesse caso, a fim de que
esteja melhor preparado para a atividade, o intérprete deve conhecer
previamente o roteiro e como o professor pretende explorá-lo.
A leitura do Roteiro Imagético prossegue em um segundo
nível, o do legível. De acordo com Didi-Huberman, trata-se da traduzibilidade
da história representada pela imagem (2005, p. 20-21). Em outras palavras, do
que ela trata: qual é o seu tema, quando e onde se passa, o que está
acontecendo. Seguindo o roteiro proposto é o momento no qual o professor dá
acabamento às falas iniciais dos alunos utilizando saberes acadêmicos. Aqui o
docente faz a exposição dos fatos ou conceitos evocados pelas imagens,
abordando também o contexto de sua produção. A exemplo do que empreendem
Schwarcz (2004) e Naves (1996) ao analisarem, respectivamente, fotografias do
Segundo Reinado e a obra de Jean Baptiste Debret. Deve evidenciar aos educandos
que imagens são produtos de um tempo específico, diferente do nosso, e que
carregam em si uma série de intencionalidades. Algumas conhecemos por
intermédio de outras fontes de natureza distinta. Outras, desapareceram no
tempo e apenas podemos presumir. O que conduz à etapa seguinte.
O último nível de leitura é o do virtual. Entendemos que
Didi-Huberman o trata como aquilo que não se apresenta como visível ou
facilmente legível na imagem, porém que nela existe como potência (2005, p.
26). Poderíamos dizer que são as possíveis leituras feitas a partir das
imagens, sobre elas mas também para além delas. Tal ideia se aplica ao Roteiro
Imagético como uma devolução da “voz” aos alunos. É o momento de instigá-los a
respeito do que as imagens podem revelar além do visível e do legível. Que
sentimentos elas despertam? Quais são as possíveis relações que podemos
estabelecer entre elas e outras imagens? Que rupturas e semelhanças podem nos
revelar na comparação com o presente?
Para fins de exemplo, utilizamos como tema o Segundo
Reinado, que faz parte do currículo de História proposto para o oitavo ano de
escolaridade (BRASIL, 2017). A escolha se deve à oportunidade de incorporar a
história dos surdos aos conteúdos da disciplina. Optamos por apresentar os
sinais e caracteres em Libras apenas no título, devido à exiguidade do espaço e
para evitar excesso de informações no roteiro. Os sinais apresentados foram
pesquisados na internet, sendo reproduzidos por um dos autores e registrados em
fotografias. A leitura das imagens já pode ser iniciada com a interpretação dos
sinais referentes ao conceito histórico, nos quais a configuração de mão em
forma de coroa indica a monarquia, que desce sobre o sinal do número ordinal
“2º”, e o movimento para o lado, remete à passagem do tempo (ideia de período).
Os caracteres em Língua Brasileira de Sinais foram obtidos com o uso da fonte Libras 2016. Ao longo do roteiro, no
entanto, inserimos palavras-chave em algumas imagens, de modo a facilitar o
aprendizado dos alunos a partir da associação entre o visual e o nome ou
conceito a ele relacionado.
(SANTOS, 2018, p. 104)
O roteiro para o Segundo Reinado foi dividido em quatro
eixos, configurados nas linhas de imagens, cada qual abordando um subtema. Desse
modo, na primeira linha, abaixo do título, a proposta é utilizar as imagens
para tratar da biografia de D. Pedro II e da política em seu governo. Há uma
sequência de imagens do imperador, com datas a elas correspondentes, procurando
demarcar a passagem do tempo daquele período (ideia reforçada pelas setas). A
ilustração do jovem D. Pedro II, que abre a sequência pretende estabelecer
empatia com os alunos (como seria para um adolescente ser governante de um
país?). Na imagem seguinte, o cenário (parlamento) e os personagens (família
real e políticos), destacados nesse recorte da pintura original, uma vez identificados,
devem conduzir a explicações sobre monarquia, parlamentarismo e os partidos do
período. A foto do velho imperador alude ao fim do Segundo Reinado e à invenção
da fotografia, no século XIX. Importante frisar que a diversidade de tipos de
imagens e possibilidades distintas de interpretação devem ser tratadas com os
estudantes. Pode soar exaustivo demais. Entretanto, a ideia é de que o roteiro
seja aplicado em todas as unidades de conteúdos. Assim, ao chegar a este ponto
da matéria, os estudantes já estariam familiarizados com a tipologia das
imagens e suas respectivas possibilidades de leitura.
Na segunda linha, os assuntos são a economia e a sociedade
do Segundo Reinado. Buscando proximidade com algo familiar aos alunos, o que
facilita a aprendizagem, a seção se abre com a foto de uma xícara de café,
principal produto brasileiro daquele período. Mas o aluno sabe de onde vem
aquela bebida? Ou melhor, de onde vinha? Quem trabalhava para que o café
chegasse às mesas das pessoas? Como trabalhava? A quem o produto enriquecia? A descrição dos
estudantes às duas fotografias do período que se seguem, que retratam,
respectivamente, a lavoura cafeeira e um barão de café à frente de seus
escravos, oferecem pistas a essas questões, conduzindo à abordagem acerca das
formas de trabalho e das relações sociais existentes então no Brasil. É
possível, no diálogo com o presente, estimular os alunos a discutir a respeito
de temas como a exploração e o preconceito, nesse último caso, inclusive em
relação aos surdos.
A terceira linha, abre espaço para a história dos surdos,
por meio da criação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que
ocorreu durante o Segundo Reinado. As imagens selecionadas são uma fotografia
atual da fachada da instituição e um detalhe de uma das páginas do primeiro
dicionário de língua de sinais criado no Brasil. A foto do INES, embora atual,
mostra uma arquitetura facilmente identificada pelos alunos como pertencente a
uma época pretérita, enquanto o recorte do dicionário possibilita trazer para a
sala de aula a origem da Libras (a língua e seus sinais também tem uma
história) e como eram educados os surdos no passado. Conteúdos de extrema
importância para o fortalecimento da identidade e autoestima surda, além de
estimular um olhar de seus colegas ouvintes que seja marcado pela alteridade.
Vale destacar que a inclusão da história dos surdos ao currículo da disciplina
pode ser feita por meio de inserções aos conteúdos tradicionais, como ocorre
aqui. Sem a necessidade de criação de uma unidade específica para tratar do
assunto.
A última linha de imagens corresponde à política externa do
Segundo Reinado, enfocando na Guerra do Paraguai e em suas consequências,
partindo de um detalhe da Trinchera de
Curupaytí, pintura de Cándido López, e de uma charge de Angelo Agostini (o
soldado negro que volta para casa e se depara com a permanência da escravidão).
Para além de conteúdos factuais ou conceituais a elas relacionados, a seleção
justifica-se sobretudo por seu potencial em despertar sensibilidades nos
discentes quanto aos horrores da guerra e da escravidão. Por meio da pintura de
López, é possível provocar na turma uma discussão a respeito do conceito de
deficiência, uma vez que o pintor, deficiente físico (perdeu uma mão na
guerra), conseguiu retratar o conflito com uma impressionante riqueza de
detalhes. Característica essa que pode ser explorada na leitura da imagem pelos
alunos surdos. A última imagem é de leitura mais
complexa por sua ironia – a qual deve ser explicitada aos alunos. O drama da
escravidão, aqui retomado, pode ser abordado a partir da descrição de detalhes
da charge, como a expressão do soldado e a cena que provoca sua reação. Como em
uma obra de suspense é possível deixar a temática suscitada pela imagem em
aberto, de modo a despertar a curiosidade dos alunos para o conteúdo
programático seguinte: a abolição da escravidão no Brasil.
São diversas as possibilidades de leitura das imagens do roteiro aqui proposto. A fim de não se perder neste multiverso que se abre, o professor que dele fizer uso, deve manter o foco em seus objetivos. Também não precisa tomar o roteiro ao pé da letra. Considerando as particularidades de cada sala de aula de História, outras temáticas, seleções e leituras são possíveis. A potencialidade estende-se também aos meios de apresentação do roteiro. Nesse caso, havendo disponibilidade de recursos tecnológicos, como computador e datashow, é possível apresentar o roteiro projetando-o para a turma. Esta forma de exibição permite, por exemplo, a abordagem de detalhes das imagens por meio de sua ampliação. No entanto, a necessidade de reduzir a iluminação do ambiente comprometer o trabalho do intérprete.
São diversas as possibilidades de leitura das imagens do roteiro aqui proposto. A fim de não se perder neste multiverso que se abre, o professor que dele fizer uso, deve manter o foco em seus objetivos. Também não precisa tomar o roteiro ao pé da letra. Considerando as particularidades de cada sala de aula de História, outras temáticas, seleções e leituras são possíveis. A potencialidade estende-se também aos meios de apresentação do roteiro. Nesse caso, havendo disponibilidade de recursos tecnológicos, como computador e datashow, é possível apresentar o roteiro projetando-o para a turma. Esta forma de exibição permite, por exemplo, a abordagem de detalhes das imagens por meio de sua ampliação. No entanto, a necessidade de reduzir a iluminação do ambiente comprometer o trabalho do intérprete.
O Roteiro Imagético pode ainda culminar em uma avaliação, na
qual os alunos seriam convidados a criar e apresentar a sua própria versão do
roteiro. Ou, em mais uma inversão, seriam os responsáveis pelos roteiros
imagéticos dos conteúdos subsequentes, ampliando mais o seu protagonismo na
aula. Pensariam em problemáticas, selecionariam suas imagens a partir de seus
critérios, provocariam questionamentos, muito a semelhança do próprio ofício do
historiador. Dado o grau de dificuldade presente na atividade, sugerimos a sua
realização em grupo. Sendo de suma importância que os alunos surdos se
incluam/sejam incluídos em diferentes grupos e não em um à parte. A proposta,
neste caso, é que todos aprendam. Sobre o diferente e COM o diferente.
Referências
Paulo José Assumpção dos Santos é professor de História do
município de Duque de Caxias (RJ), doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRJ, mestre em Ensino de História pela UFRJ e membro do Grupo de
Estudos e Pesquisas Sobre Surdez (GEPeSS).
Silvio de Almeida Carvalho Filho é Pós-Doutor pelo
Centro de Estudos Africanos do ISCTE (Lisboa), Doutor em História pela USP,
Mestre em História pela UFF e professor do Programa de Pós-Graduação em Ensino
de História da UFRJ.
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Acesso em 19 abr. 2018.
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Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá
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jun. 1870. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/vida_fluminense/vida_fluminense_1870/128.pdf>.
Acesso em: 30 mai. 2018.
Parabéns pelo trabalho professor! Em minha prática, em uma Unidade Especializada, venho ao longo dos anos constatando que relacionar a palavra em português a um conceito dificilmente resolve o problema educacional do Surdo. Mesmo a Libras por si só não é suficiente, uma vez que por vezes o aluno desconhece o sinal específico da disciplina História. Porém as imagens conseguem conectá-lo a uma memória visual das experiências que esse aluno já obteve, através da TV, do cinema, de revistas, games, etc. No seu texto o Sr.º avança no sentido de ir além da imagem ilustração, ou seja, problematizar as intencionalidades da imagem, mutas vezes essa abordagem requer um certo grau grau de abstração que é um grande desafio para quem trabalha com surdos, já que possuem uma relação mundo concreta com o mundo. Gostaria que o Sr.º expusesse um pouco mais sobre as repostas que os alunos lhe tem dado, como tem sido a compreensão dos alunos diante da subjetividade de algumas análises imagéticas?
ResponderExcluirErnesto Padovani Netto
Prezado Ernesto, em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-lo por seu produto realizado no âmbito do ProfHistória e voltado ao ensino de alunos surdos. Quanto à questão feita, agradeço. Embora ainda não tenha realizado reflexões e análises mais elaboradas a respeito da recepção dos alunos à metodologia proposta, observo que a mesma tem sido capaz de mobilizar o interesse e a participação dos discentes. Sejam surdos ou ouvintes, que, alias, conseguem compreender com mais clareza os conteúdos expostos. É possível observar ainda que, de um modo geral, passam a ter um olhar mais atento e indagador em relação às imagens. Contudo é preciso salientar que essas respostas não são imediatas, uma vez que é preciso, antes de mais nada, levar os educandos a desconstruir a ideia de que as imagens são meros retratos da realidade. Esbarro também nas dificuldades impostas pela falta de estrutura na escola pública onde leciono. Como não domino Libras, o sucesso desse trabalho depende muito da parceria com os TILSPs. No momento, na referida unidade, contamos com apenas uma intérprete para atender a todas as turmas com surdos. À disposição para mais esclarecimentos. Att.
ExcluirPAULO JOSÉ ASSUMPÇÃO DOS SANTOS
Boa Noite Profs. Paulo José e Sílvio,
ResponderExcluirQue prática maravilhosa que os senhores estão realizando! Parabéns pela iniciativa e por desafiarem-se a repensar o ensino da História de forma a realmente incluir os alunos portadores de necessidades especiais, aqui no caso, surdez. Sou professora do Estado do Rio Grande do Sul e ano passado tive uma experiência de inclusão em sala de aula, também com um aluno surdo que estava cursando o 8º ano do Ensino Fundamental. Desde o início do ano letivo busquei novas metodologias e recursos para que o aluno pudesse construir o seu conhecimento, acompanhando a turma, mas não há como negar que nas primeiras semanas me senti perdida, sem ter um "norte" que indicasse por quais caminhos deveria seguir. O importante é que nessa escola possuía todo o aparato necessário, seja da intérprete, da coordenação pedagógica e união entre os professores, o que na maioria das vezes não acontece em outras instituições. E é importante salientar que os debates acerca da inclusão e diversidade no currículo dos cursos de formação de professores é algo recente, e até mesmo não há uma reflexão acerca dos suportes didáticos para a prática inclusiva. Por isso, temos muito a caminhar, problematizar e aprender a sermos professores includentes, inclusive com os próprios alunos. Como os senhores veem essa formação acadêmica aliada a inclusão nas universidades brasileiras? Há realmente um trabalho voltado nessa perspectiva?
Atenciosamente,
Laís Francine Weyh
Prezada Profa. Laís Francine Weyh
ResponderExcluirOs reitores das universidades públicas brasileiras frequentemente têm denunciado a falta de estímulo e de recursos para atendimentos de estudantes com necessidades especiais. Contudo, ressalta-se que as universidades, ainda que precariamente, se preocupam com esse grupo de estudantes.
Há que se declarar, contudo, que os poucos estudantes surdos que conseguiram ingressar nas universidades brasileira parecem se sentir menos integrados à vida universitárias que seus colegas ouvintes e muitos poucos professores do ensino superior preocupam-se em fazem adaptações metodológicas em suas aulas para facilitar a aprendizagem dos alunos surdos. Em suma, o ensino superior ainda está pouco preparado para receber alunos surdos em suas salas.
Nas licenciaturas a formação de professores que lidem com surdos em classes inclusivas, apesar da legislação estimular esse tipo de qualificação, ainda é precária em sua real efetivação. Os nossos professores são na maioria ouvintes e ainda não são suficientemente formados para ser professores que manejem a língua de Libras com destreza ou mesmo para terem uma profunda sensibilidade para com as metodologias que possam facilitar a aprendizagem dos surdos. É sempre bom lembrar aos futuros professores que o intérprete de Libras, figura importante nas classes inclusivas, não é o professor. Não cabe a ele a responsabilidade de garantir que a metodologia do ensino leve em conta a surdez e que o currículo escolar sofra ajustes para contemplar peculiaridades e aspectos culturais da comunidade surda. Isso cabe ao professor e a quem é responsável por sua formação. Apesar da introdução do ensino de Libras nas licenciaturas, etapa importante para um melhor formação dos docentes, sinto que ainda estamos distantes de atingir a excelência no intento de formar professores realmente comprometidos com esse tipo de inclusão.
Atenciosamente,
Silvio de Almeida Carvalho Filho
Prezada Laís, grato por suas palavras e pela pergunta. No que se refere à inclusão de alunos surdos, observo que a academia ainda ensaia uma aproximação com a temática e os desafios que a envolvem. De um modo geral, os cursos de licenciatura oferecem apenas a disciplina Libras, muito por força da legislação, não integrando em seus currículos matérias que abordem questões metodológicas voltadas ao ensino de surdos. Mesmo a disciplina Libras se revela insuficiente, uma vez que realiza-se em apenas um período, tempo extremamente curto para que o futuro docente aprenda mais do que cumprimentos e datilologia. Contudo, há que se considerar o fato de que a graduação talvez não possa mesmo dar conta de tratar da surdez e de diversas outras especificidades relacionadas à inclusão de alunos com deficiência. Afinal, novas disciplinas sobre tais temas demandariam grades curriculares que se estenderiam por anos a fio. Talvez a saída para não deixar o professor sem "norte", cono voce ficou esteja na formação continuada, a ser oferecida pelas redes de ensino (em parceria com as universidades) e por cursos de extensão e pós-graduação, sempre respeitando a carga horária de trabalho docente. À disposição para mais esclarecimentos. Att.
ResponderExcluirPAULO JOSÉ ASSUMPÇÃO DOS SANTOS