Vinícius Machado Ferreira


­O ENSINO DE HISTÓRIA E OS INDÍGENAS (IN)VISÍVEIS: A NARRATIVA REGIONAL PARAENSE E NACIONAL (SÉCULOS XX-XXI)



Os estudos sobre livros didáticos são relativamente recentes (CHOPPIN, 2004), portanto busca-se nesse ensaio, refletir de forma aprofundada, como alguns materiais didáticos na disciplina de História, foram e são trabalhadas as questões indígenas, no tocante as abordagens de textos e imagens (BITTENCOURT, 1998), desde a construção de uma História Oficial do Pará em livros como – “Apostilas de História do Pará” (BRAGA, 1915); “Pontos de História do Pará” (VIANNA, 1919) assim como os indígenas que estão representados na História oficial do Brasil atualmente, nos manuais – “História, sociedade e cidadania” (BOULOS JÚNIOR, 2015); “Estudar História, das origens do homem à era digital” (BRAICK, 2015), considerando a criação da lei 11.645/08, quando perspectivas sobre os sujeitos indígenas tomariam espaços de fala, e esses grupos se manifestariam em capítulos de livros destinados a essa temática. Para mais, se pensou como os sujeitos indígenas que estão representados nos materiais didáticos pesquisados, as formas dessas representações produziriam sentido (CHARTIER, 1991), ou seja, como o livro didático em suas possibilidades de uso, influencia na prática e construção das noções sobre as pessoas indígenas, na cultura escolar do aluno.

Theodoro Braga e a construção da história oficial do Pará Republicano (1915)

“A docilidade do gentio não opunha a mais insignificante barreira a esse trabalho dos religiosos, e por isso não poucos foram aqueles que nascidos nas florestas amazônicas, recebendo de princípio os são ensinamentos, não tardassem a apaixonar-se pela realidade da vida nova, cujas doutrinas receberam, e de discípulos que, em começo, tornaram-se mestres...” (BRAGA, 1915. p. 44)

O trecho acima é parte da V tese de Theodoro Braga, do manual “Apostilas da História do Pará” publicado em 1915, esse material foi escolhido para ser trabalhado nas escolas de Belém como a História Oficial do Pará. Segundo Wanessa Cardoso (2013), o artista historiador Theodoro Braga era ativamente envolvido em ações intelectuais que se realizavam na região, a exemplo da fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP). Por ser assim, Braga foi o responsável por escrever uma das primeiras edições didáticas que seria o modelo de uma História Oficial paraense, no início de um Brasil republicano. Desse modo, lendo o trecho do livro citado acima, o historiador paraense trabalha um olhar colonizador sobre os indígenas, de comportamentos de uma “passividade”, “apaixonar-se pela realidade da vida nova”, são presentes nos escritos desse autor do século XX, ou seja, os indígenas para Theodoro Braga demonstraram total aceitação de todo o conjunto de ações que o colonizador estabeleceu na Amazônia, sem qualquer resistência desses nativos – posto assim um silenciamento sobre as vozes indígenas nesse processo de colonização.


Uma História exclusivamente política, Arthur Vianna diante do fenômeno da colonização na Amazônia paraense (1919)

“Em 1637 appareceram em Belém os frades franciscanos frei André de Toledo e frei Domingos de Brieda, ambos hespanhóis, acompanhados por seis soldados, todos vindos do Alto Amazonas num pequeno e frágil barco... Os índios destroçaram a expedição e mataram-lhe o commandante de muitos soldados; então haviam todos os que escaparam voltado ao Perú, com excepção d’elles e dos seis soldados.” (VIANNA, 1919. p. 21)

Este trecho encontra-se no 4º ponto de “Pontos da História do Pará” em que Arthur Vianna escreve a partir de um olhar exclusivamente político, sendo assim, o autor trabalha a ideia dos conflitos, de maneira em que os nativos são cruéis aos colonizadores ao ponto de “destroçarem a expedição” que fazia sua missão religiosa, lideradas pelos frades franciscanos André de Toledo e Domingos de Brieda. Assim, pode se perceber que o indígena é trabalhado nesse material didático como Bárbaro, Selvagem, que está principalmente destroçando os espanhóis, no lugar de apenas defenderem o seu território. Dessa forma, as ideias que estão contidas nos materiais didáticos republicanos paraenses do início do século XX, imprimem imagens dos indígenas como “passivos” (BRAGA, 1915), “destroçadores” (VIANNA, 1919), que devem atender as demandas da colonização, ou seja, há um silenciamento desses sujeitos, que desvela uma invisibilidade no processo de participação ativa da construção da História Oficial do Pará.

Novas perspectivas!? As edições didáticas do século XXI, criadas após a Lei 11.645/08


Fig. 1
Fonte: (BRAICK, 2015, pp. 62)

A imagem acima traz um recorte mais atual sobre as representações dos indígenas no livro didático, Patrícia Braick em “Estudar História, das origens do homem à era digital” (2015), destinado ao 6º ano do ensino fundamental, trabalha a questão indígena com um olhar bem diferente daqueles mostrados até aqui nestes escritos, do início do século XX, com elementos na imagem do livro que trabalham a ideia de interculturalidade do indígena utilizando um aparelho celular para registrar momentos de seu cotidiano, tendo em vista que a lei 11.645/08 já está em vigor no contexto da produção desse manual. No entanto, é imprescindível considerar o que Marcio Couto (2014) pontua sobre a construção de estereótipos que a historiografia construiu sobre os indígenas, esse sujeitos ainda não falam, Braick trabalha um olhar estereotipado sobre a existência dos sujeitos nativos, não há uma problematização da realidade e o contexto em que esses sujeitos estão inseridos.

A autora se propõe a trabalhar “os primeiros habitantes da América”, mas não se preocupa em chamar a atenção de que esses sujeitos passaram por um processo histórico de resistência, a imagem daquele livro imprime uma imagem de que esses sujeitos ajudaram na formação da cultura americana, no entanto, as lutas são silenciadas, a autora não problematiza essa realidade em que descreve dos dias de hoje. Outro exemplo é o livro de Alfredo Boulos Júnior (2015) intitulado “História, sociedade e cidadania”, destinado ao público de 6º ano do ensino fundamental, nesse manual o autor enfoca na questão da diversidade indígena, como se pode perceber na imagem abaixo:


Fig. 2
(BOULOS JÚNIOR, 2015. p.96)

Boulos, traz noções de diversidade linguística, traços físicos, o que é interessante para o aluno de 6º ano que está em desconstrução de noções genéricas sobre a questão indígena, entretanto, o autor focaliza em aspectos ligados exclusivamente as aldeias, assim, não há uma abordagem da interculturalidade com o espaço não indígena, e o aluno, carregado de noções estereotipadas (HENRIQUE, 2014) pode reforçar os pressupostos de que o índio só é índio se estiver usando seus ornamentos e falando suas línguas maternas.

Ensino de História e os silenciamentos indígenas
As presentes investigações e análises até aqui, permitem entender quem são os sujeitos que produzem as narrativas didáticas que tecem o pensar e a cultura histórica dos sujeitos da Amazônia e do Brasil, assim como a escrita da “história regional” está intrinsecamente ligada aos processos, ações e estruturas que regem os projetos políticos para a educação, desmistificando a ideia de que a História oficial “Nacional” é diferente da História construída no âmbito local. Além disso, a partir dessas investigações, se permite pensar a educação que está situada em um determinado tempo, como grande veículo de difusão dos interesses políticos dos grupos pertencentes a diversas elites, e ainda, como a ideia de uma “História verdade” que segundo Elza Nadai (1993), continua se fazendo presente na compreensão da cultura histórica dos alunos, e que deve ser desconstruída com mais pesquisas e metodologias para o ensino de História:

“O ensino de História atualmente passa por uma conjuntura de crise, que é, seguramente, uma crise da “História historicista”, resultante de descompassos existentes e as múltiplas e diferenciadas demandas sociais e a incapacidade da instituição escolar em atendê-las ou em responder afirmativamente, de maneira coerente, a elas...” (NADAI, 1993, p.114)

Considerando as ideias de Elza Nadai, reconhecendo a importância das demandas educacionais e, sobretudo, das lutas das minorias que se fazem fundamentais na amenização dos silenciamentos dos sujeitos indígenas, no que tange as suas experiências de luta cotidianas, suas formas de expressarem-se, pensar e viver a História, não como o pensamento colonial enxerga essas populações, mas de forma que esses sujeitos tenham espaço de fala nos novos materiais didáticos, que a lei 11.645/2008 garante a inclusão das Histórias indígenas. Para mais, se faz importante a fala do indígena Ailton Krenak, do povo Krenak, comentando:

“E muito significativamente as literaturas dos historiadores, dos pesquisadores registram aquela parte da nossa memória que eles chamam de mitos ou mitologia, ele separa mito e História. Eles separam o que é um personagem mitológico e um personagem da História. E eles chegam a dizer: isso aqui existiu é da História e aquilo ali não; aquilo ali é mitologia, mito; é piração da cabeça dos índios ou dos negros...” (KRENAK, 2012, p.126)

Sob as reflexões do indígena Ailton Krenak, os historiadores devem olhar com mais cuidado para a produção da historiografia, percebendo qual contexto os autores produzem suas ideias, e de que maneira essas podem influenciar nos usos e apropriações dessas, por isso, cabe o questionamento de Krenak, do por que considerar a História dos indígenas como “mitologia” no lugar do próprio lugar de fala desses na historiografia? Dessa forma, pela voz de um indígena se percebe os silenciamentos e a invisibilidade desses sujeitos na participação e na construção da escrita da História, difundida nos manuais didáticos desde o início da construção de uma História Oficial “regional” e “nacional”.

Referências
Vinícius Machado Ferreira é aluno do curso de História da Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), pesquisador de iniciação científica do projeto “Histórias que os livros didáticos regionais contam: narrativas didáticas da História da Amazônia (Séculos XX-XXI)”.

BITTENCOURT, Circe. “Livros didáticos entre textos e imagens”. In: BITTENCOURT, Circe. (org.). O saber histórico na sala de aula. 12 ed. São Paulo: Contexto, 2013.

BRASIL. Lei 11.645/08 de 10 de Março de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.

CARDOSO, Wanessa Carla Rodrigues. Theodoro Braga: o Artista-historiador / In: “Alma e coração”: o instituto histórico e geográfico do pará e a constituição do corpus disciplinar da história escolar no pará republicano (1900-1920). Dissertação de Mestrado / PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO-PPGED. Universidade Federal do Pará: Belém, 2013.
                                                                                      
CHARTIER, R. (1991). O mundo como representaçãoEstudos Avançados5(11), 173-191. Recuperado de http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8601.


CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez. 2004

HENRIQUE, Márcio Couto. A temática indígena na sala de aula In: Diálogos entre História e Educação / Márcio Couto Henrique (Org.), Belém: Editora Açaí, 2014.

NADAI, Elza. O ensino de História no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista Brasileira de História, nº 25/6. São Paulo, ANPUH, 1993.

KRENAK. Ailton. História indígena e o eterno retorno do encontro. In: LIMA, Pablo (org.). Fontes e reflexões para o ensino de História indígena e afro-brasileira: uma contribuição da área de História do PIBID/ FaE/UFMG. Belo Horizonte: UFMG, 2012, pp. 114-132.



37 comentários:

  1. Qual foi a metodologia utilizada para o desenvolvimento do seu trabalho e como essa temática chamou a sua atenção?

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    3. Olá, muito obrigado pela pergunta.

      Apesar de que eu não tenha deixado claro, minha pesquisa foi de caráter qualitativo, onde analisei as rupturas e permanências de narrativas didáticas, que a Lei 11.645 pôde trazer para a produção de manuais didáticos em relação a temática indígena.

      Atenciosamente,

      Vinícius Machado Ferreira

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  2. Qual foi o seu referencial teórico que vc mais se aproximou a sua linha de pesquisa ?

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    3. Dentre as diversas leituras que se realizaram durante 1 ano que pesquiso o assunto, Allain Choppin (2004), ao escrever sobre as funções que os manuais didáticos assumem na cultura escolar do aluno, inclusive, esse referencial está citado nas referencias deste texto. E de acordo com o amadurecimento da pesquisa, outras leituras vão incorporando de maneira mais significativa minha narrativa como Aldrin Moura Figueiredo, Mauro Cezar Coelho, entre outros que são autores mais pontuais em minha pesquisa.

      Atenciosamente,

      Vinícius Machado Ferreira

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  3. Gostei do trabalho,parabéns,só achei pouco o referencial teórico. Tem algum trabalho com referencial Manoela Carneiro da Cunha e Maria Regina Celestino de Almeida? Se tiver manda para meu email. Obrigado. ivanilsonmartins762@gmail.com

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    1. Olá, obrigado pela leitura do meu trabalho.

      Sobre os referenciais teóricos, eu me dispus daqueles que entendo como mais pontuais na análise de narrativas didáticas. A exemplo de Alain Choppin (2004) e Ailton Krenak (2012), entendo que para o recorte que fiz, os referenciais que estão contidos são suficientes para a mensagem central que quero discutir, pois tive receio de ultrapassar a proposta do evento.

      Sobre as autoras que você citou, tenho alguns texto de Manoela Carneiro, posso lhe enviar, agora, a segunda não tive contato com seus textos. Ficaria grato se me enviasse materiais que somariam a minha pesquisa pelo endereço viniciusfermachado@gmail.com

      Atenciosamente,

      Vinícius Machado Ferreira
      Belém-Pa

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  4. Boa tarde. Percebemos que ainda é muito pequena a inclusão de conteúdos sobre os povos indígenas nos livros didáticos,s e comparados com a prevalência de conteúdos sobre a História da Europa. Na sua visão, qual medidas podem ser tomadas pelo professor em sala de aula visando "combater" o eurocentrismo dominante nos livros da educação básica?

    Márcio Douglas de Carvalho e Silva

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    1. Olá Marcio, agradeço a sua leitura, gostei muito da pergunta.

      Uma possibilidade de combater o eurocentrismo dentro de sala de aula é trabalhando textos escritos por autores indígenas. Um exemplo: no assunto "povos indígenas e populações afro-brasileiras" que são recorrentes ao 7º ano do Ensino Fundamental, seria interessante comparar em uma atividade os dois tipos de narrativa 1)Livro didático 2)Texto de autoria indígena. Se você preferir ler para o seu aluno, vais perceber que há objetivos muito bem distintos das duas narrativas, agora, se você pedir para que o aluno leia, peça a ele grifar as palavras chaves dos dois textos e discuta o sentido dessas palavras. No meu referencial teórico deste presente texto do simpósio, Ailton Krenak problematiza que os historiadores não fazem história dos índios, portanto é interessante essa possibilidade. Tenho outros referenciais como Daniel Munduruku,Artionka Capiberibe, Oiara Bonilla, posso mandar para seu e-mail.

      Atenciosamente,

      Vinicius Machado Ferreira
      Belém-Pa


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  5. Caro Vinicius, parabéns pelo trabalho.

    Diante desse longo silenciamento em relação aos indígenas nos livros didáticos de História, que fontes você utilizaria em sala de aula que poderiam expressar o ponto de vista dos indígenas da História?

    Geraldo Magella de Menezes Neto.

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    1. Olá caro Prof. Geraldo Neto. Existem algumas possibilidades que posso listar, a primeira pode ser trabalhar as literaturas indígenas, de autores como Ailton Krenak e Daniel Munduruku, são autores bem conhecidos e que seus escritos são fáceis de encontrar, por exemplo "Contos indígenas brasileiros" escrito por Munduruku e "O lugar onde a terra descansa" de Krenak. Além da própria literatura indígena, seria interessante trabalhar noções de diversidade e alteridade, existe um autor chamado Luís Grupioni (antropólogo) que descreve a diversidade de etnias indígenas, a partir de desenhos feitos por crianças indígenas de diferentes povos, o nome do livro é "viagem ao mundo indígena". Uma última possibilidade que posso citar aqui, é mostrar o protagonismo indígena a partir de mobilizações políticas, como por exemplo a fala de Ailton Krenak na Constituinte de 1984, e as várias mobilizações que acontecem posteriormente, essas são disponíveis no youtube.

      Atenciosamente,

      Vinicius Machado Ferreira

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  6. Olá, Vinícius, boa noite! Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela pesquisa e por proporcionar essa leitura esclarecedora e rica, principalmente pelo momento em que estamos vivendo.
    Bom, trazendo a perspectiva do próprio indígena Ailton Krenak quando diz “E muito significativamente as literaturas dos historiadores, dos pesquisadores registram aquela parte da nossa memória que eles chamam de mitos ou mitologia, ele separa mito e História. Eles separam o que é um personagem mitológico e um personagem da História. E eles chegam a dizer: isso aqui existiu é da História e aquilo ali não; aquilo ali é mitologia, mito; é piração da cabeça dos índios ou dos negros...” (KRENAK, 2012, p.126), qual a sua visão a respeito da culpa que a História possui ao trazer os conhecimentos como mitologias e apontar os indígenas de forma marginalizada? E outra, como foi demonstrado no seu texto, tem-se toda uma abordagem colonial dos povos indígenas que os livros didáticos vem trazendo, gostaria de saber como desconstruir a generalização, dar voz a esses povos e contribuir para um pensamento decolonial através de dinâmicas facilitadoras para o aprendizado, que coloque o indígena como protagonista e não personagem?

    Muito obrigada e sucesso sempre!

    Emily Maria Pantoja Maia (ehist.clio@gmail.com)
    Belém-Pa

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    1. Olá Emily, fico feliz e agradecido pela pergunta tão atenciosa que você colocou.

      Vou tentar responder suas perguntas de uma forma conjunta. Fica evidente que os livros didáticos não trabalham falas indígenas, portanto, existem alguns autores que conheço que posso listar: Kaka Werá Jacupé com os escritos "A terra dos mil povos"; "Kurumi Guaré no coração da Amazônia" de Yaguarê Yamã. Esses escritos são importantes para entender as lógicas indígenas e expressões de identidade, e a leitura narrada pelo professor seria muito interessante. Sobre uma dinâmica, é possível fazer uma oficina de artes, cujos alunos expressariam o que identificaria eles a partir de um desenho, ao final seria levantado questionamentos sobre as características de cada um, portanto isso seria util para desconstruir a ideia de uma identidade genérica atribuída aos índios. Citei acima um autor chamado Luís Grupioni e ele faz essa mesma atividade, mas com crianças indígenas, portanto isso ajudaria na desconstrução de um índio genérico. Me desculpe se não consegui responder por completo suas perguntas, ainda estou caminhando nas leituras de literaturas indígenas e na pesquisa, portanto consegui listar as leituras e práticas que já tive contato.

      Atenciosamente

      Vinícius Machado Ferreira

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    2. Muito obrigada pela resposta satisfatória!
      Emily Maia

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  7. Olá, Vinicius! Parabéns pelo trabalho.

    Bem, ainda que os livros didáticos apresentem problemas em sua formulação sobre os indígenas, acredito que a participação dos professores é fundamental na construção dessa nova história indígena, portanto, como você avalia a participação dos professores nesse intermédio de material didático e aula ministrada?

    Jessica Maria de Queiroz Costa

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    1. Olá Jessica Maria, muito obrigado pela contribuição de sua pergunta.

      Allain Choppin (2004, p.553) fala das funções que o material didático pode assumir na cultura escolar do aluno, uma delas é a função instrumental, assim, muitos professores utilizam o material didático como o único recurso nas suas abordagens, o que acaba dificultando em novas formas de entender os indígenas. Citei nas respostas anteriores algumas literaturas que podem ser usadas em sala de aula, portanto isso ajuda na desconstrução da imagem imposta por não indígenas, como eu falei no presente texto deste simpósio, os livros produzidos após 2008 ainda não trazem falas de indígenas, portanto, os professores não devem se limitar ao manual didático, é preciso entender os indígenas a partir de suas falas e seus ecritos.

      Atencionsamente,

      Vinícius Machado Ferreira
      Belém-Pa

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  8. Gostei do trabalho, achei de extrema relevância, principalmente para o momento político.
    Pergunta: na sua perspectiva, quais as dificuldades que o professor em sala de aula encontra ao lecionar história indígena?

    Matheus Matos Nery Pinheiro
    nerymatheus3102@gmail.com

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    1. Olá Matheus Nery, muito obrigado pela pergunta.

      O professor encontra dificuldades em lecionar a história indígena porque a lei 11.645 que obriga essa discussão na educação básica entrou em vigor somente em 2008, ou seja, ainda é recente e existe uma falta de formação nesse assunto muito expressiva na realidade de muitos profissionais da Educação, então, o professor de História precisa desconstruir representações sobre indígenas estabelecidas já no ensino infantil, o que é muito difícil e precisa de um diálogo entre historiadores e pedagogos que as vezes não acontecem.

      Vinícius Machado Ferreira

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  9. Boa Noite. Parabéns Vinícius pelo trabalho.
    É interessante lembrar que o Pará era uma referência na produção materiais didáticos sendo produzido como instrumento do estado. como pensar a produção de livros didáticos e a mudança na representação dos povos indígenas saindo de meros coadjuvantes ou apêndices da história européia sendo que a Amazônia ainda é um considerada um "espaço vazio socialmente" carregada de preconceitos e esteriótipos?
    Desde já, agradeço. (Amilton Bitencourt Azevedo)

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    3. Olá caro Amilton, fico agradecido pela sua importante pergunta.

      Concordo, é uma dificuldade ainda maior a historiografia pensar os indígenas locais da Amazônia para um lugar de protagonismo, se a própria região é marginalizada. Por isso, me apoio em um autor muito conhecido chamado Durval Muniz de Albuquerque Júnior (2008), onde ele trata que o conceito de região é inventado para uma hierarquia e disputa de poder que sempre o "regional" será inferior ao "nacional". Portanto, à exemplo de Theodoro Braga (1915), a ideia é construir uma historia oficial da região paraense republicana com o fim de desvincular a memória do Império dessa História, ou seja, é sempre atendendo a uma demanda política maior. Entendo que se a descolonização da escrita da História também atende a uma demanda maior, onde todos os processos estão interligados.

      Atenciosamente,

      Vinicius Machado Ferreira

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    4. Caro Amilton, sua pergunta me causou mais fôlego para aprofundar minha pesquisa, pode ter certeza que nas próximas produções você identificará mais respostas para sua pergunta em minha escrita.

      Agradecido,

      Vinicius Machado Ferreira

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  10. Olá Vinicius, lhe parabenizo pelo seu trabalho e pela temática abordada conferindo a devida problematização deste imaginário construído sobre os povos indígenas. Lembro-me bem de quando estava na educação básica em que a visão possuía a partir dos livros didáticos sobre os indígenas era justamente sobre os mesmos serem estas criaturas passivas no processo histórico. A minha pergunta é justamente sobre isto, para você como haveria de ser remodelado os instrumentos didáticos para que a imagem dos ameríndios fosse explorada mais dignamente e se tornasse mais fiel a toda sua história, luta, resistência e culturalidade?
    Renato da Silva Sampaio de Oliveira

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    1. Olá Renato, obrigado por dispor de uma pergunta tão importante.

      Uma alterantiva para essa remodelação dos instrumentos didáticos, é dar espaços de fala aos indígenas nos manuais didáticos, existem tantos autores indígenas que escrevem sobre sua própria história, que deveriam estar pelo menos como fonte de análise nos livros didáticos, e nem isso acontece. Portanto, os autores e pessoas indígenas deveriam ser consultados ou trabalhados nas abordagens, se isso não mudar, a lei 11.645 continuará válida somente no "dia do índio". Nas perguntas acima, eu listei muitos autores indígenas que poderiam ser trabalhados em sala de aula, são alguns autores que eu tenho o contato com os textos.

      Vinicius Machado Ferreira

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  11. Olá boa noite! Parabéns pelo seu trabalho, como podemos trabalhar a construção historiografica do índio com embasamento nos livros didáticos? Pois muitos apresentam ideias questionáveis sobre os indígenas, com a visão de que eles compõem um grupo único, com as mesmas semelhanças culturais, primitivas e atrasadas, o que limita culturas tão distintas. Ana Valéria de Queiroz Andrade

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    1. Olá Ana Valéria, obrigado pela pergunta.

      É possível sim utilizar manuais didáticos antigos como fonte de análise, pois a ideia de uma Nova História indígena é descolonizar toda a História produzia sobre os indígenas, então, uma possibilidade a se trabalhar em sala de aula é comparar a narrativas de autores indígenas a autores não indígenas, mostrando o lugar de fala de cada sujeito e seus objetivos.


      Vinicius Machado Ferreira

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  12. Vinícius, mais uma vez parabéns pelo texto, li e amei!!

    A ideia de perceber as continuidades das narrativas construídas sobre o índio no livro didático, pegando livros do início do século XX, como Apostilas de História do Pará de Theodoro Braga e outros mais atuais, poderia soar superficial, graças ao longo período, mais não ficou. E isso se deve a clareza dos seus objetivos, e o olhar atento ao seu objeto. Parabéns, texto de grande relevância para pensar os silenciamentos impostos historicamente a esses povos nos livros didáticos e na produção de uma história escolar.

    Grande abraço!!

    Wanessa Carla Rodrigues Cardoso

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    2. Olá Wanessa, muito obrigado por suas palavras.

      A leitura de sua tese foi muito importante para eu traçar alguns objetivos da minha narrativa e poder me aprofundar na temática. Apesar de eu estar no início da minha pesquisa, acredito que os próximos capítulos serão ainda mais proveitosos para a História Cultural.

      Vinicius Machado Ferreira

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