MINHA ROUPA NOVA: A ESCOLA
O
seguinte trabalho possui como finalidade apresentar algumas ações de
intervenções colocadas em prática pelo projeto de extensão “Processos de
Formação Docente: ações de ensino-aprendizagem em história”. O projeto possui
como objetivo ministrar aulas de reforço com o auxílio de novos recursos como
artes cênicas e materiais audiovisuais. As ações ocorreram na escola municipal
de ensino fundamental José Maria Moraes e Silva localizada em Ananindeua/PA. As
ações buscavam perceber as dificuldades dos alunos em determinados assuntos da
disciplina história e com base nessa
avaliação propor metodologias e recursos que viabilizassem a compreensão das
abordagens apresentadas em sala de aula.
O Corpo, a Cadeira e o
Lápis.
A
partir das vivências na escola que esse trabalho proporcionou, a reflexão sobre
o corpo do aluno se fez necessário na medida em que este é atravessado pelas
linhas de controle estabelecedoras de um ideal de corpo para se aprender. Os
conteúdos se movimentam do professor para o aluno que por sua vez constrói
conexões com a caneta, o lápis, a cadeira, o livro e o caderno. Conexões medidoras
da atenção nas aulas e seu nível em ser um “aluno ideal”.
Segundo
Foucault (1987), a disciplina molda os corpos, são igualados, mesmo andar e
ritmo para todos os indivíduos. O ambiente escolar assim expele seus controles
que influenciam o processo de ensino-aprendizagem. Uma educação bancária, como
afirma Freire (1998), ainda permeia a escola. Aliada aos controles sobre o
corpo, o aluno assim é visto como um receptor, um pote vazio. Sem cotidiano,
cultura ou conhecimento prévio sobre as coisas ao seu redor ou no mundo. O
ensino de história se torna uma atividade que reforça a memorização mecânica. Com
base em Circe Bittencourt (2004), pensar em metodologias de ensino que permitam
quebrar essas relações se faz necessário. Desta forma foi desenvolvida a atividade
de intervenção A História em Corpos
Interpretativos, com o objetivo de tornar a história mais atraente para os
alunos. A atividade consistiu em transformar os assuntos de história
ministrados em peças ou coreografias, nas quais os alunos foram convocados a
interpretar os sujeitos históricos, confrontando desta maneira com os controles
corporais instituídos pela escola.
Foram
montadas duas composições que abordaram os conteúdos de Revolução industrial e Grandes
Navegações com as turmas do 8° e 7° ano respectivamente. A base para a
criação se deu, principalmente, pela leitura de Isabel Marques (2010) e Olga
Reverbel (1996). Foram colhidos
questionários dos alunos que participaram como intérpretes e plateia com o
intuito de perceber como os mesmos associavam o conteúdo das apresentações ao
que estava sendo ministrado pelo professor.
A
montagem sobre Revolução Industrial,
denominada ”Entre Engrenagens”, teve como material de apoio uma cena do filme
Tempos Modernos de Charles Chaplin. Os movimentos consistiram em repetições com
sapatos e cadeiras como objetos cênicos e o figurino improvisado.
Fig. 1
Aluno
A: Nas aulas com o prof. Felipe foi muito legal porque era a coisa diferente na
escola e não tem apresentação de danças e tals sem ser de festas. Na dança do
artesanato fizemos sobre sapato, comparamos as coisas como o sapato é feito, e
outras coisas. Na dança sobre o filme “Tempos Modernos” fizemos baseado no
filme, no mesmo tinha movimentos repetitivos e fizemos o mesmo. Me senti naquele
tempo, não conseguindo para de fazer os movimentos, etc.
Aluna
B: Nós estudamos sobre a revolução industrial, as aulas com o professor Felipe
foram bem legais e diferentes, nós nunca tivemos aulas assim antes, foi
divertido principalmente os ensaios. Ele fez com que nós nos sentirmos com as
pessoas daquela época. A nossa peça foi dividida em 2 partes, a primeira dos
artesãos e a segunda das máquinas. Nós assistimos ao filme “Tempos Modernos”,
baseamos a peça no filme e no assunto do livro.
Na
composição sobre Grandes Navegações,
se montou um roteiro com personagens e suas falas, dentre eles os marinheiros,
as sereias, o monstro marinho e o indígena. Uma coreografia também foi montada
para as sereias e o enredo da história se interligava a chegada dos europeus na
América.
Fig.2
Vale
ressaltar que nesta turma foi passado um questionário com três perguntas Que relação você conseguiu perceber entre o
conteúdo de grandes navegações e a peça? O que você achou interessante? A peça
facilitou a sua compreensão sobre o assunto? De 29 alunos (interpretes e
plateia) 21 responderam as perguntas positivamente.
Aluno
A: resposta da primeira questão.
Que
o imaginário europeu era grande eles imaginavam que avia monstro marinho,
sereias etc mais vamos e mar aberto em buscas de riquezas, pedras preciosas e
etc.
Aluno
B: resposta da primeira questão.
Que
os europeus eles viajavam através de encontrar novas especiarias para as suas terras,
eles enfrentavam os perigos que tinham nos oceanos que eles tinham medo.
Enfim,
o que pode ser concluído das experiências junto aos relatórios, ainda em fase
de estudo, é que as artes cênicas possuem um grande potencial para estimular os
alunos a aprender. Não apenas aqueles que se envolvem enquanto intérpretes, mas
também aos que assistem e estabelecem as relações peça-conteúdo. A busca por um
ensino da história que desperte a curiosidade ou interesse do aluno permeia as
inovações metodológicas nas práticas educativas.
O Audiovisual e o Ensinar.
Ao
introduzir as mídias áudio visuais dentro da sala de aula o professor tende a
buscar por uma fuga da formalidade que permeia a disciplina de História,
leituras maçantes de um passado que nada tem a refletir no meu presente é a
grande barreira que esses professores encontram na mentalidade de muitos
alunos, cabe a este educador buscar formas de desmistificar essa ideia e tornar
o ensino mais atrativo. No ensino fundamental a busca por didáticas diferentes
que se adaptem a faixa etária de cada classe pode ser realizada com bastante
diversificação, música fotos e vídeos são fontes de ensino que tendem a reter
muito mais a atenção do aluno em relação ao livro didático, também é virtude das
fontes audiovisuais a possibilidade de uma reflexão que muitas vezes não
aparecem no livro didático. Comumente temos filmes que são verdadeiras
releituras da História, seja ele um filme clássico ou uma animação o professor
sempre pode retirar do enredo de um filme algo que possa interligar com o seu
conteúdo programático. Destaco que documentários ou vídeo aulas voltadas para o
público infantil também podem ser exploradas dentro das salas de aula.
A
análise desses recursos se através da investigação contextual tanto do filme
quanto do conteúdo que o professor estiver ministrando. Segundo Abud (2003), a linguagem imagética
apresenta formas e recursos que possibilitam a compreensão de outros aspectos
presentes nos conteúdos escolares. Outro ponto de extrema relevância é utilizar
filmes ou vídeos que sejam do agrado da classe, a escolha de um filme que não
seja capaz de prender a atenção dos alunos não irá ajudar nas intenções do
professor, isso porque os significantes contidos na produção cinematográfica
devem fazer sentido para os alunos, bem como a “imagem do mundo” que é trazida
para o universo da criança (ABUD , 2003, p. 188). Dentro do projeto “Processos
de Formação Docente: ações de ensino-aprendizagem em história” possibilitou ter
a vivência de duas turmas diferentes (6° e 7° ano) com diferentes conteúdos
programáticos e faixa etária onde a diversidade nos levou a utilizar duas
mídias diferentes.
Fig.3
Na turma de 6° ano onde há um maior déficit de
atenção, para ministrarmos o conteúdo “civilizações antigas” utilizamos uma
vídeo aula que tinha como carácter principal a linguagem de fácil compreensão e
animação de bonecos fantoche (https://youtu.be/0U2hNdUb1ks) aproveitando-se
da linguagem interativa do vídeo em questão foi possível contextualizar sobre
os legados das civilizações antigas, o que delas podemos encontrar hoje e
apontar pontos de curiosidades que não estavam no livro didático e que serviram
para voltar a atenção do aluno para o conteúdo avaliativo.
Já na turma do 7°ano que possui faixa etária
mais elevada, utilizamos um documentário que investigava as civilizações
pré-colombianas (https://youtu.be/n5maU8odoII) o vídeo possui caráter mais investigativo e
alterna momentos dublados e legendados, o vídeo mostra a fundo a vivência do
povo Maia antes do contato com o europeu o que nos oferta um grande arcabouço
para discutirmos processos de aculturação e formas civilizatórias, também
desmistificou o papel do indígena muitas das vezes empregado pelo próprio
livro, mas também reforçou o debate sobre choque cultural e etnocentrismo presentes
no conteúdo.
Fig.4
A atividade teve bastante receptividade por
parte dos alunos de ambas as turmas, uma vez que o objetivo de ministrar uma
aula diferente das que estavam acostumados e apresentar o conteúdo de forma
alternativa teve bastante êxito, os alunos puderam fazer questionamentos que
não estavam presentes no livro e também contextualizar com outros vídeos e
filmes que já tinham assistido, enriquecendo assim a aula é o conhecimento de
todos (inclusive o nosso).
Considerações sobre a experiência.
Percebemos nesse exercício de refletir sobre a
nossa prática que o programa de extensão pretende encaminhar as discussões
sobre o exercício da prática docente e os processos de construção de materiais
didático-pedagógicos como uma atividade complexa dentro do contexto
educacional. Argumentos que educadores como Isabel Alarcão (2002) e Kenneth
Zeichner (1993) ressaltam como fundamentais para a formação docente. AA partir
da articulação entre teoria e a prática de desenvolve por meio de uma constante
reflexão sobre o ambiente escolar e o seu cotidiano pedagógico, também foi
possível diagnosticar alguns problemas pela escola e na sala de aula,
percepções que serão tratadas em momento oportuno. Mas reforçamos que essa experiência
está nos possibilitando olhar para o cotidiano escolar também como objeto de
pesquisa. Está experiência nos oportunizará também construir subsídios para
refletir sobre nossa formação inicial e a importância de construir nossos materiais
e recursos pedagógicos para fundamentar a nossa prática profissional.
Referências
Felipe Araújo de Melo é graduando em História
na Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Universitário de Ananindeua/PA.
Lucas da Silva Leal é graduando em História
pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus Universitário de
Ananindeua/PA.
ABUD, Katia Maria. “A construção de uma
Didática da História: algumas ideias sobre a utilização de filmes no ensino”.
História, São Paulo, 22(1), pp. 183-193, 2003.
ALACÃO, Isabel. “Refletir na prática”. Artigo disponível
na seção Fala, mestre! da Revista Nova Escola, edição n° 154, agosto de 2002. No sítio: http://novaescola.abril.uol.com.br/.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortêz, 2004.
FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir: nascimento
da prisão; tradução de L. M. Ponde Vassalo. Petrópoles: Vozes, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 8ª ed. Rio de Janeiro: paz e Terra, 1998.
MARQUES, Isabel A. Linguagem da Dança: arte e
ensino. São Paulo: Digitexto, 2010.
REVERBEL, Olga Garcia. Jogos teatrais na
escola: atividades globais de expressão. 3 ed. [São Paulo]: Scipione, [1996], 159
p.
ZEICHNNER, Kenneth M. A formação reflexiva de
professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.
Olá, grande iniciativa professores! Sou estudante, logo percebi uma relação do corpo (estudante) com o professor e materiais escolares (lápis, caderno).
ResponderExcluirAo colocar um aluno, acostumado a sentar, ouvir o professor e escrever o que ele fala, perante um cenário criativo, interativo e social que é o teatro; coloca-se os alunos na liberdade do próprio corpo. Dando liberdade para a mente e estimulando a interação com os colegas.
O projeto "atividade de intervenção A História em Corpos Interpretativos" foi desenvolvido também para os estudantes terem uma interação social maior entre eles ao mesmo tempo em que aprendem?
Marcelo Eduardo Viotto Ignez
Olá! Não apenas a interação mas principalmente o interesse em aprender. Como os recursos foram a dança e o teatro, houve uma quebra nos controles que permeiam o ambiente escolar, que moldam por sua vez como se deve ensinar e aprender. Ressalto que nem todos os alunos participaram, mas isso não impediu que eles aprendessem estando na platéia. Isso porque antes da peça os alunos tiveram contato com o assunto em outras aulas com a professora oficial. Nosso trabalho foi focado no reforço dos assuntos trabalhados.
ExcluirAtt,
Felipe Araújo de Melo.
Muito interessante trazer diferentes metodologias para a sala de aula, fazendo com que os(as) alunos(as) se envolvam e participem mais ativamente do processo de ensino aprendizagem. Acredito que muitos professores possuem dificuldade em diversificar suas formas de trabalho, seja porque em sua trajetória escolar não teve contato com diferentes metodologias ou devido a falta de embasamento teórico/metodológico durante a formação docente, nesse sentido, quais sugestões para quebrar essas barreiras e assim inovar?
ResponderExcluirIsabelly Pietrzaki Pereira
Olá! Primeiramente creio ser indispensável (se possível) a busca por um curso técnico ou até mesmo a própria licenciatura em dança ou teatro. Existem também oficinas proporcionadas por instituições como a Funarte e o Sesc, viver no e pelo corpo é essencial. Em relação a leituras tem Augusto Boal, Isabel Marques, Laban, Olga Reverbel, teses de mestrado e doutorado que envolvem artes cênicas disponíveis na internet. Outro ponto que acredito ser importante é que os currículos de cursos de graduação tenham disciplinas específicas para a discussão de artes e o diálogo com o ensino de história, no entanto tal discussão é complexa pois assim como na escola, existem projetos políticos por trás de todas essas questões.
ExcluirÉ importante pensar que a história em si já é um roteiro com personagens e ambiente esperando para ser encenado e acima de tudo problematizado.
Att,
Felipe Araújo de Melo
Boa tarde,
ResponderExcluirParabéns pelos resultados da pesquisa.
As práticas pedagógicas apresentadas no texto podem ser vistas em todas as escolas do país? Ou essa realidade ainda está distante para a educação brasileira?
Na opinião do senhor qual o caminho para se efetivar essas praticas nas escolas públicas do Brasil?
Olá! Em minha visão sobre "em todas as escolas", não é possível afirmar. A respeito da realidade, creio que o uso de novos recursos é implementado (não em todas as escolas do país) contudo é importante problematizar qual o sentido da aula, se realmente esta proporcionando aos alunos refletirem sobre o assunto. Já a respeito dos caminhos para efetivação existem diversos elementos a serem modificados como a infraestrutura da escola e a visão da mesmamesma pe a sociedade, formação de professores que ao longo de sua graduação tenham contato com saberes de outras áreas e sua valorização. Isso de uma forma muito resumida, pois a educação é influenciada pelos ideais de governo e da própria aociesoci como um todo.
ExcluirAtt,
Felipe Araújo de Melo.
Obrigada professor.
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