Wiliana Maiara do Nascimento


HISTÓRIA LOCAL NO ENSINO APRENDIZAGEM: UMA PERSPECTIVA PARA SE TRABALHAR O PRÓPRIO MEIO SOCIAL


Introdução
O estudo da História Local no contexto atual possibilita ao aluno ampla reflexão nas relações sociais entre determinado grupo e mundo social no qual está inserido, seja uma vila, bairro ou cidade. O ensino de História entra como fator determinante de formação do estudante despontando valores de praticas cotidianas e assim confrontando tal problemática histórica à sua localidade, região e até mesmo à sociedade nacional e mundial.

Esta interação faz com que o aluno possa compreender elementos presentes no mundo e como eles estabelecem relações entre si, proporcionando mudanças no seu modo de pensar e entender os outros, as relações sociais e até mesmo à própria História.

Superando a História decorativa
A disciplina de História sempre foi associada a um ensino decorativo de grandes nomes e fatos acontecidos. Os alunos dão muita pouca importância para sua real essência: entendê-la como transformação ao passar do tempo e que eles próprios tornam-se agentes na construção da história, pois, com a proposta do estudo da história local irão trabalhar com suas próprias realidades nos meios sociais entre educador, educando e o meio que atuam e vivem, são várias as possibilidades, como: dinamizar aluno e sua comunidade, desvendar sua identidade; despertar costumes investigativos, refletir sobre fatos que o cerca; visão de assiduidade e contendas com ênfases de mudanças, conflitos e permanências; despertar no aluno para uma história da multidão, onde todos os sujeitos da história tenham voz ativa no mundo.  Segundo Macedo:

“Considerar a História Local enquanto abordagem é pensar no modo de fazer adotado pelo historiador quando circunscreve a maneira como ele se apropria e observa a realidade, focando sua lente no espaço - um lugar, uma cidade, uma rua, um bairro, uma cidade. Macedo (2015, p.63)”

Ir além da História Geral, possibilita um processo de ensino-aprendizagem significativo, já que quando se estuda a coletividade das relações sociais  desenvolvemos reflexão critica acerca do espaço-tempo de identidades em contextos amplos de seus habitantes não se tornam isoladas do mundo, mas permanecem como parte imprescindível de um processo histórico em que populações locais constroem suas identidades culturais e sociais, se valoriza a visão do homem como agente social, político da História, não uma parcela da população, mas o todo das pessoas. Como nos afirma Samuel:

“A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador uma idéia mais imediata do passado. Ela é encontrada dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. (Samuel, 1990, p. 220).”

Por muito tempo o ensino de história não valorizou as experiências dos estudantes nas construções da disciplina e isso, motivou para o entender que ela é algo totalmente abstrato que não emociona e sem valor escolar para a vida dos educandos. Em contrapartida sabe-se que um objetivo básico do ensino de história dentro do ambiente escolar é fazer com que os alunos desenvolvam uma reflexão de natureza histórica e cientifica, para que possam refletir de forma critica dentro da sociedade que vivem sabendo-se impor diante das inúmeras situações que aparecem.

A escola como difusora do conhecimento social/local
Ir além das quatro paredes da sala de aula é o desejo de qualquer professor. Desenvolver habilidades e competências nos seus educandos pode fomentar toda historicidade do lugar que os cerca. O docente assumirá neste caso o papel de orientador instigando os próprios alunos a buscarem fontes que os auxiliem na construção da história local, sejam fontes orais, iconográficas, musicais, dentre tantos outros meios, através da coleta de tais documentos, os alunos poderão reconstruir e trazer a história da comunidade à tona, pois a finalidade social da História objetiva que os mesmos tenham uma compreensão do presente que estão inseridos. De acordo com Oriá, a escola é:

“O locus privilegiado para o exercício e formação da cidadania, que se traduz, também, no conhecimento e na valorização dos elementos que compõem nosso patrimônio cultural. Ao socializar o conhecimento socialmente produzido e ao preparar as atuais e futuras gerações para a produção de novos conhecimentos, a história está cumprindo o seu papel social. Ricardo Oriá (1998, p. 130)        

A escola se torna um agente importante na difusão do conhecimento local, pois, irá trabalhar a ética dos educandos, orientando-os a uma ação consciente e reflexiva dos conhecimentos sobre o homem e a sociedade. Trabalhar com a história dos fundadores, famílias tradicionais, cultura local, praticas religiosas locais revela-se na capacidade de lidar com circunstâncias novas, pois, identificando, traços, permanências características, desenvolverá outros conhecimentos ampliando as possibilidades de inter-relação de saberes dos alunos.
  
“O trabalho com a história local pode produzir a inserção do aluno na comunidade da qual faz parte, criar a historicidade e a identidade dele. O estudo com a história local ajuda a gerar atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de ajudá-lo a refletir acerca do sentido da realidade social. Como estratégia pedagógica as atividades com a história local ajudam o aluno na análise dos diferentes níveis da realidade: econômico, político, social e cultural (SCHMIDT, 2009, p. 139)

Por fim, cabe aos professores em especial aos de História mostrar uma postura crítica em relação ao conhecimento, que trabalhe de forma concreta e não só abstrata na qual a formação dos sujeitos seja pensada como um artifício de diversas veemências, diversos campos que possam se entrelaçam, transmitindo e recebendo conhecimentos que deem o entendimento da complexidade do conhecimento. Só assim será possível aprende e difundir a História local. Somos sujeitos da história, da ciência, participamos dos vários modos de se construir história.

Conclusão
Para acordar o interesse dos alunos para a disciplina da História e ter um melhor entendimento dos conteúdos ofertados na disciplina e no seu Currículo, é cogente levá-los fixamente a entenderem suas origens e sociedade em que vivem. Ler e compreender e criticar suas realidades, posicionarem-se como sujeitos ativos do processo histórico, desenvolve elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais e até mesmo políticos  compõem a identidade dos próprios e a dos outros que estão ao seu redor gerando o entendimento que participam da história que um dia não davam o devido valor.

Referências
Wiliana Maiara do Nascimento é graduada no curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. De como se constrói uma História Local: aspectos da produção e da utilização no Ensino de História. In: Carmen Margarida Oliveira Alveal; José Evangelista Fagundes; Raimundo Nonato Araújo da Rocha. (Org.). Reflexões sobre História Local e Produção de Material Didático. 1ed.Natal: EDUFRN, 2015, v. , p. 85-110.
ORIÁ, R. Memória e Ensino de História. In: BITTERCOURT, C. (Org). O
saber historico a sala de aula. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1998. p. 128-148.

SAMUEL, Raphael. História Local e História Oral. In: Revista Brasileira de História. Pp. 219-242. V. 9, n.º 19, set. 1989 / fev. 1990.

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. O ensino de História Local e os desafios da formação de consciência histórica. In: MONTEIRO, Ana Maria. Et all (org.) Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: MauadX: Faperj, 2009


12 comentários:

  1. Boa noite, Wiliana.

    Gostei do tema e do texto. Acredito que o trabalho com a História Local pode contribuir para que os alunos percebam como é importante a comunidade em que vivem e como eles também fazem História.
    Acredito que valorizar as pessoas, os lugares e a História de pequenas comunidades, por exemplo, colabora para que os estudantes se vejam representados em sala de aula e demonstrem mais interesse pelo conhecimento histórico.

    Aline Nunes Rangel

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Parabéns, Wiliana! Gosto muito desse tema, pois assim como você acredito que o ensino de História local possibilita ao aluno se enxergar como sujeito histórico. Entretanto, acredito também que muitas vezes o aluno acaba se sentido desmotivado pois, dependendo da região em se vive, no meu caso o extremo norte do Brasil, esse conhecimento adquirido acaba sendo ignorado quando se trata de exames nacionais como o Enem, por exemplo. O que fazer para rompermos com essa barreira?
    Maria Izeth Braga Beltrão

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    1. Continuarmos nossa batalha para que a disciplina deixe de ser colocada em segundo plano por muitas pessoas e por "autoridades". O ensino de história local é sem dúvida um ponto de partida para a aprendizagem histórica, pela possibilidade de trabalhar com a realidade mais próxima das relações sociais que se estabelecem entre educador / educando / sociedade e o meio em que vivem e atuam.


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      Wiliana Maiara do Nascimento

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  4. Boa tarde!

    Visto que sua apresentação possui aspectos de natureza regional, gostaria de saber como você pensa o conceito de região e como enxerga a contribuição deste conceito para os estudos locais?

    Obrigado e parabéns pela apresentação.

    Comentário de: Nikolas Corrent

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    1. Conhecer, respeitar as raízes e a origem de um povo, comunidade ou uma região é sobre tudo disponibilizar a esse povo a condição de existir e proteger a sua identidade, valorizando a sua historia local, facilitando o entendimento e a inserção dos alunos no contexto histórico não só regional mais também nacional.


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      Wiliana Maiara do Nascimento

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  5. Olá boa noite Wiliana!Parabéns pelo seu trabalho!
    Sempre considerei a problemática da história local muito significativa e pertinente. Creio que o espaço destinado nas salas de aulas, nos livros didáticos e nas estruturas curriculares para tal tem ainda é irrisório.
    Gostaria de saber que percursos metodológicos você traça em sua prática escolar pra se desvencilhar de tais estruturas, e produzir de fato o ensino de uma historia local mais significativo para os próprios alunos?
    Att Flávio

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  6. Priscila Benevides de Araújo10 de abril de 2019 às 20:32

    O estudo da história local desperta a curiosidade dos alunos por ser um fato que ocorreu mais próximo de onde vive, porém o currículo escolar abrange em sua maior parte a história geral, cabe ao professor trazer temáticas que remetem ao estudo local. Como podemos trabalhar a história local em sala de aula a partir das temáticas trazidas pela história geral?

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  7. Olá, boa tarde Wiliana. Parabéns excelente texto. Gostei bastante de suas colocações.
    O ensino de história que traz pessoas e espaços comuns ao educando tende à aproximar o aluno a disciplina, compreendendo o passado e o presente recente. Dessa forma, levar em consideração seus conhecimentos prévios e guiá-los a um conhecimento analítico da realidade é contribuir para a formação de sua consciência histórica. Quando o aluno conhece, entende, respeita e preserva as raízes e de um povo, comunidade ou região, estão assegurando a esse povo a condição de existência e dessa forma protegendo sua identidade. Portanto, valorizar a história local é inserir os educandos no contexto regional e local.

    Ghibson Gabriel da Silva Oliveira

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  8. Parabéns pelo seu texto. Gostaria de saber quais as sugestões de atividades você daria, para trabalhar a história local e regional, nos primeiros anos do Ensino Fundamental?

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  9. Boa noite. Sobre a questão da história local, também podemos pensar na questão dos lugares de memória, espaços que podem constituir a identidade de um determinado grupo social. Creio que para a reflexão da história local seja pertinente pensar nos locais de memória.

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