HISTÓRIA E FOTOGRAFIA: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE
HISTÓRIA LOCAL EM CAXIAS-MA, A PARTIR DAS FOTOGRAFIAS DE FAMÍLIA DE SINÉSIO
SANTOS
As aulas de História, sabidamente, podem
ser de grande proveito para os alunos que estão em um processo de construção da
sua cidadania, uma vez que elas oportunizam aos estudantes desenvolver uma
consciência histórica acerca da sua própria realidade. Isso acontece, porque o
ensino de História “possui objetivos específicos, sendo um dos mais relevantes,
o que se relaciona com a construção da noção de identidade” (BRASIL, 1997, p.
27).
Como pode ser visto, admitiu-se uma
aproximação entre a ideia de consciência e a de identidade. Ou seja, os alunos
só poderão desenvolver a consciência histórica acerca do lugar em que vivem,
mediante a percepção de que eles fazem parte desse lugar. E é nesse sentido que o ensino de História
local ocupa um “lócus” privilegiado, dado que ele é um importante instrumento
para a construção da identidade histórica e social dos sujeitos em formação
(SANTOS; AMORIM; CABRAL, 2013).
Evidentemente, para viabilizar o
trabalho com a História local em sala de aula é necessário o professor empregar
fontes históricas de variados tipos, incluindo fotografias, jornais,
depoimentos orais de antigos moradores e tudo que tiver relação com o passado
da cidade. Pode-se dizer que, dentre as fontes citadas, o registro fotográfico
se destaca, uma vez que, segundo Kossoy na sua obra ‘Fotografia & História’, a fotografia está intrinsicamente
ligada à memória, já que ela se constitui como uma das suas principais fontes.
Desde a sua criação, ocorrida na primeira
metade do século XIX, o registro fotográfico tem se mostrado muito presente na
vida da humanidade, (re)modelando as nossas visões de mundo e de nós mesmos
(BORGES, 2011). Inaugurando uma nova forma de representar a materialidade
existente, as pessoas e o mundo que nos circunda, as fotografias nos permitem
eternizar momentos especiais e significativos, extraídos da fugacidade do
tempo, impedindo-os de serem tragados, em definitivo, pelo esquecimento
(KOSSOY, 2001). Assim, com elas podemos preservar o presente e ao mesmo tempo
presentificar o passado.
Ainda que as fotografias tenham uma
relação muito próxima com o passado humano, elas só foram incluídas no rol de
fontes históricas no século XX, com o surgimento dos Annales (BORGES, 2011), nos
permitindo, desde então, captar elementos do tempo vivido, que de outra maneira
seria impossível captar, além é claro de nos auxiliar na tarefa de olhar para o
passado e compreendê-lo a partir das nossas inquietudes do presente.
Faz-se
necessário destacar que apesar de ter tido seu uso validado na investigação em
História, os pesquisadores que se propõem a trabalhar com a fotografia,
precisam tomar alguns cuidados, a começar pela própria natureza do documento
fotográfico. Isso quer dizer que, muito embora as fotografias nos permitam ter
uma maior aproximação com o passado, elas não podem ser consideradas um espelho
dos fatos, mas sim uma representação deles, uma vez que sua gênese é resultado
da ação humana, e, portanto, produto de uma intencionalidade específica, como
nos diz BORGES (2011).
Partindo do exposto, no presente
trabalho procurou-se analisar como as fotografias de famílias produzidas pelo
fotógrafo maranhense Sinésio Santos, entre os anos 50 e 80 do século XX em
Caxias-MA, pertencentes ao Fundo de Memória Sinésio Santos da Universidade
Estadual do Maranhão – UEMA, podem contribuir para a formulação de uma proposta
para o ensino de História local sobre o passado da população caxiense.
Em exploração preliminar, percebeu-se
que as fotografias de família do referido acervo, nos informam, em uma
perspectiva sociocultural, muitos detalhes interessantes sobre o passado da
população de Caxias-MA, e por consequência sobre a história da própria cidade.
Assim, valores, crenças, visões de mundo, relações afetivas, posições e papéis
sociais, moralidades, sociabilidades, cenários urbanos, festividades cívicas e
religiosas, saltam-nos aos olhos quando analisamos essas fotografias, que sem
nenhuma dúvida, apontam afirmativamente para a possibilidade da realização de
um sugestivo trabalho em sala de aula, a partir de uma perspectiva comparada,
com o fim de conhecer as permanências e as modificações no perfil do povo caxiense,
assim como em suas características culturais delineadoras.
Por
tudo isso, reconhecendo a necessidade de trabalhar na disciplina de História com
temas próximos à realidade dos alunos, a fim de que eles conheçam a história da
sua cidade e do seu povo, para que a partir daí eles possam desenvolver o sentimento
de pertença em relação à sua realidade, buscou-se com esse trabalho lançar luz
sobre a importância das fotografias produzidas pelo saudoso e ilustre fotógrafo
maranhense Sinésio Santos para divulgar em sala de aula a história da cidade de
Caxias-MA e da sua gente, por meio dos aspectos capturados através das suas
lentes fotográficas, dentre os quais: padrão familiar, vestuário, cenários
urbanos, condição feminina, festividades, expressões de gênero e representações
de moralidades e sociabilidades dos caxienses dos anos 50 e 80 do século XX.
Referências:
Raimundo
Nonato Santos de Sousa é Acadêmico do 6∘
período do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do
Maranhão – UEMA, pesquisador-bolsista PIBIC/FAPEMA e pesquisador-colaborador
FAPEMA/UNIVERSAL.
Orientadora:
Professora Drª. Antonia Valtéria Melo Alvarenga.
BORGES,
Maria Eliza Linhares. História &
Fotografia. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Secretaria
de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997. 166 p.
KOSSOY,
Boris. Fotografia & História.
São Paulo: Vértice, 1990.
SANTOS, Angélica Tenório; AMORIM, Aline
Luíza Peixoto de Santana; CABRAL, Karla Simony Vieira; LIMA, Marta Margarida
Andrade. A importância do ensino de
História local dentro da disciplina de história para a formação da identidade
dos alunos. XII Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão – JEPEX 2013 –
UFRPE: Recife.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite, Raimundo!
ResponderExcluirComeço parabenizando-o pela temática tratada, pois trabalhar com fotografias, de fato, demanda certas práticas e percepções que precisam ser, cada vez mais, empreendidas nas investigações sobre o passado - sobretudo ao pensar sua importância à história ensinada. Suas colocações reforçam isso e me auxiliam, inclusive, a pensar em parte de minha pesquisa - que se propõe a abordar, dentre outras coisas, as imagens (consubstanciadas não apenas em suporte fotográfico) empregadas em alguns livros didáticos. Enfim, quanto à sua apresentação, me vem à mente, de primeira, uma curiosidade:
- Estas fotografias, que correspondem às suas fontes, produzem ou reproduzem determinados fatos já consolidados pela história local? Ou seja, elas reforçam ou reorganizam as narrativas do regional?
Felipe Augusto dos Santos Vaz
Bom dia, Felipe Vaz. Obrigado pela pergunta. As fotografias mencionadas no texto estão sendo utilizada pioneiramente em minha pesquisa de Iniciação Científica, desenvolvida na Universidade Estadual do Maranhão. Por muitas décadas, essas fotografias permaneceram intocáveis e portanto distantes de qualquer abordagem historiográfica. Mas felizmente, graças ao trabalho, em que tenho o privilégio de participar, elas estão ajudando o povo caxiense a conhecer a história da sua própria cidade e da sua gente.
ExcluirRaimundo Nonato Santos de Sousa
Olá Raimundo!
ExcluirBem, realmente, apesar de não fazer parte do projeto aposto minhas fichas que sim: há uma grande contribuição ao povo caxiense. Contudo, quero saber, com a pergunta realizada, se você, ao lidar com essas fontes, consegue perceber se elas produzem uma narrativa consolidada pela história local - e, com isso, me refiro a uma narrativa histórica "tradicional", institucionalizada e ufânica - ou se elas rompem com esse tipo de narrativa e produzem outras que, de certo modo, possibilitam compreender os indícios de uma história marginalizada. O que você consegue notar ao analisá-las?
Felipe Augusto dos Santos Vaz
Certamente, elas ajudam a produzir outras narrativas históricas em que sujeitos comuns, antes silenciados e esquecidos, passam a ser ouvidos e vistos na História.
ExcluirRaimundo Nonato Santos de Sousa
Boa tarde Raimundo!
ResponderExcluirParabéns pelo Trabalho. As fotografias são fontes de memória para se rememorar as histórias das cidades. Assim foi Sinésio Santos, "filho de seu tempo" que fotografou as mais belas fotos da cidade de Caxias no Maranhão. Mas como você pretender contribuir através do acervo fotograficos de Sinésio Santos para o ensino de história de Caxias no Maranhão?
att: Ayrton Costa da Silva.
Boa noite, Ayrton. Obrigado pelas palavras. Nós do curso de História sabemos que nossa maior dificuldade é levar o que pesquisamos na academia para a Educação Básica. Essa preocupação norteou a elaboração desse texto. Através da perspectiva comparada, proponho a aplicação da minha pesquisa em sala de aula, com o objetivo de levar os alunos a identificar permanências e mudanças nas estruturas familiares caxienses, assim como nos seus costumes, imaginário e sociabilidades.
ExcluirRaimundo Nonato Santos de Sousa