FORMAÇÃO DE
PROFESSORES E OS USOS PÚBLICOS DA HISTÓRIA
Nos
dias que se passam, temos convivido com embates político ideológicos que
adentram as salas de aula, se espalham pelas ruas, tvs, redes sociais, focados
na noção de cidadania como sinônimo de defesa dos interesses e projetos
patrióticos. Estamos mesmo diante de uma onda neoconservadora, neo fascista que
tem se apropriado da ideia de história como sendo um instrumento de formação de
sujeitos submetidos ao projeto de nação das classes dominantes como se fosse de
todos nós. Um poderoso instrumento para esse fim, sustentado sobre a moção de
pátria como constitutivo do sujeito, é o que chamamos de ‘usos públicos da
história’. Consideramos que um mecanismo usual e eficiente para sua efetivação
é a reedição anual dos eventos comemorativos conhecidas como datas cívicas. Esse
trabalho compõe os resultados parciais da pesquisa intitulada “Comemorações e
datas históricas: mudanças e permanências” em andamento, sob nossa coordenação,
vinculada ao DHUCA – Diálogos Humanidades, Ciência e Aprendizagem, Núcleo de
Pesquisa em Educação e Ciências Humanas, da Faculdade de Educação da UFG. O objeto
desta pesquisa é a incidência das comemorações e datas históricas no cotidiano
presente da vida brasileira, observando e problematizando suas mudanças e
permanências. Tendo como referência o conceito de cultura histórica, a partir
de Le Goff (1992) e a noção de usos públicos da história (Kallás, 2017) estamos
trabalhando a articulação entre História do Brasil e de Goiás, História da
Educação e a História da História Ensinada. Isso é possível a partir da
consideração da existência de uma história ensinada dentro e fora da sala de
aula, o que leva ao exame da escola existente em Goiás e da história nela
ensinada, em todos os níveis de escolaridade, assim como a história ensinada a
quem jamais adentrou um recinto dessa natureza, mas percorre as ruas da cidade,
assiste ou participa de desfiles, eventos e celebrações, ouve salvas de tiros
ou badaladas comemorativas dos sinos, observa monumentos, leu ou ouviu notícias
de jornal e seus comentários, ou descansou em feriados por datas históricas
comemorativas. Interessa discutir as relações entre história ensinada, escrita
da história, o uso público da história e a constituição e afirmação de projetos
de região e nação. Para realizar esse debate, estamos coletando depoimentos ao
longo dos desfiles de 7 de setembro e 24 de outubro, desde o ano de 2016. Aplicamos
questionários junto a alunos iniciantes, alunos do quarto período e alunos
concluintes do curso de pedagogia da UFG e da PUC/GO, em um total de 320
questionários respondidos. Neles inquirimos quais datas comemorativas históricas
as pessoas se lembram, qual papel elas tiveram em sua formação, que papel teriam
na formação geral da sociedade e se hoje em dia frequenta (e porque frequenta)
os desfiles referentes a essas mesmas comemorações. Observamos nos dados
coletados que tais noções permanecem muito próximas entre as várias faixas
etárias investigadas.
Para
realizar essa discussão, vale distinguir as datas históricas e as datas
cívicas. As datas históricas, em que pese a persistente hegemonia da concepção
positivista de história, tem, de alguma maneira, por algum viés interpretativo,
uma referência em um processo histórico reconhecido como componente de uma
cronologia assentada na historiografia. As diferentes interpretações elegem
diferentes datas ou mesmo as negam como referência pra pensar um processo em
estudo. As datas cívicas, em geral, tem uma referência histórica. Mas, não são
todas as datas de referência histórica que são alçadas a condição de datas
cívicas. Essas são as que foram apropriadas pelo projeto de nação e fazem parte
dos rituais comemorativos que reafirmam a nação, atualizam seu significado na
conjuntura presente, diante dos jogos de poder que mantem a noção de que somos
todos iguais porque somos desta mesma nação, enquanto continuamos a nos
considerar representados pelos interesses hegemônicos e dominantes. Uma data
que se referencie, por exemplo, em eventos de cunho popular como mobilizações,
greves e outros momentos de enfrentamento desta mesma hegemonia, não será
tratada como uma data cívica nem comporá calendários oficiais, aliás, não será
massivamente lembrada. Ou mais que isso, todos os mecanismos que possam
contribuir para o esquecimento social destes momentos, são acionados. Não a
comporia, a data da primeira ocupação secundarista em Goiânia, ocorrida em 9 de
dezembro de 2015, no Colégio Estadual José Carlos de Almeida, seguida de outras
28 ocupações estudantis, todas realizadas na luta contra a entrega de escolas
públicas estaduais para as Organizações Sociais. Dito isso, vamos nos deter nos
dados coletados entre os estudantes de pedagogia quanto às datas históricas
comemorativas.
Quando
perguntados sobre quais datas históricas comemorativas as pessoas se recordam,
observamos, de maneira generalizada, a dificuldade de conceituar o que seria
isso ou pelo menos, distinguir as datas de caráter histórico das datas de fundo
religioso ou de cunho familiar ou quase isso e sob aquele apelo comercial
conhecido. Assim, entre as datas citadas estão o natal - o recordista de
citações deste tipo, carnaval, páscoa, ano novo, festa de peão de Barretos (!),
dia dos namorados, dia das mães, dia dos pais, dia da criança. A questão
proposta anunciava, explicitamente, a solicitação das datas de caráter
histórico e ficou evidente a confusão entre história e religião, em primeiro
plano.
Consideramos
que isso não se dá ao acaso. Ao longo da história da educação brasileira, a
presença institucional do ensino religioso, como disciplina e como maior e mais
persistente tema transversal, tem sido objeto que profundos e sistemáticos
enfrentamentos entre os setores vinculados às escolas chamadas confessionais e
os defensores da escola pública laica como princípio. Esses últimos têm sido
também sistematicamente, derrotados total ou parcialmente. O cotidiano da
escola, nos dias que se passam, está permeado de intervenções religiosas. As
datas de fundo religioso fazem parte desse cotidiano, impondo uma noção de
naturalização da conduta religiosa como componente de cada um dos seres humanos,
o que efetivamente compromete o conceito de escola laica. Por isso, quando
perguntamos sobre datas históricas, as pessoas elencam datas religiosas. As
datas de caráter aparentemente pessoal, afetivo, vinculado às relações
familiares e seu entorno, não merecerão maiores articulações, reconhecidas como
objeto do apelo comercial, que, infelizmente se tornam quase critério de verdade
para as relações afetivas.
As
comemorações históricas citadas aparecem na ordem apresentada pela memória do
sujeito, o que não corresponde necessariamente à ordem cronológica. Podemos
aferir que há uma ordem de significados, independente de afirmativos ou de negação,
sobre as datas lembradas. Também é frequente que as pessoas se lembrem de
apenas uma das informações: ou da data ou do acontecimento. Não é frequente que
se refiram à data e ao acontecimento simultaneamente. Também ocorrem erros que
vinculam uma data a um acontecimento que não corresponde, mas isso não ocorre
com as datas mais lembradas.
A
data mais registrada nas respostas, alcançando quase a metade dos questionários
- 141 respostas - é o sete de setembro, a data escolhida como marco da proclamação
da Independência. Quando o indivíduo se refere a apenas uma data, essa é, quase
invariavelmente, o sete de setembro, raramente acompanhado da referência ao ano
de 1822. Procede. Desde a invenção da independência e sua data fundadora, pelos
idos dos anos 40 e 50 do século XIX, como obra do IHGB e seus elaboradores,
funcionários do Império, essa referência cronológica para a fundação da nação
vem sendo apropriada e reinventada, ensinada e reaprendida, permanecendo
imbatível como instrumento de afirmação do projeto de nação. Muitas datas que
percorreram o Império, não sobreviveram ao projeto republicano, pelas
obviedades da superação do modelo imperial, como a comemoração do nascimento do
imperador, realizada aos 2 de dezembro de todos os anos desde a abdicação, em
1831. Mas, o sete de setembro adapta-se aos interesses presentes do projeto
hegemônico, como teremos oportunidade de tratar quando analisarmos outras
fontes abarcadas por essa pesquisa, como as falas colhidas ao longo dos
desfiles comemorativos a independência.
A
segunda data mais citada, com 86 referências, é o aniversário de Goiânia, o 24
de outubro. Sendo todos, ou quase todos os inquiridos residentes em Goiânia, é
possível perceber a presença da história regional nesse cotidiano, mesmo que
restrito a datas e eventos. Além disso, há que se lembrar que essa é uma data
que não só instituiu um feriado local como também continua sendo objeto dos
desfiles anuais comemorativos. A data
regional é seguida pelo dia 21 de abril, dia da morte de Tiradentes, também
feriado. Para ele foram registradas 76 lembranças. Essa data é a segunda mais
lembrada quando o sujeito se lembra de apenas uma data. O que vai se
demonstrando é que as datas mais comemoradas são as mais lembradas, reafirmando
o trabalho realizado pela comemoração na constituição da memória e da lembrança.
Na sequência, temos o dia 15 de novembro, Proclamação da República, com 64
citações. Registre-se que esta é uma das datas com grande numero de erros de
dados: lembra-se a data e erra-se o fato. Essa data é seguida do dia do índio,
19 de abril, com 50 referências. Bem depois aparece o 1º de maio,
majoritariamente lembrado como dia do trabalho e não como dia do trabalhador,
com míseras 20 citações entre mais de 300 respostas, reafirmando a atualidade e
eficiência da apropriação burguesa de uma data colhida dos movimentos dos
trabalhadores. Na sequência, temos, empatadas, as datas de 13 de maio e 20 de
novembro, quase não lembradas, pois se resumiram a 6 lembranças cada.
Interessante observar que a constituição do dia 20 de novembro – referência à
morte de Zumbi dos Palmares e intitulado Dia Nacional Da Consciência Negra,
como contraponto ao 13 de maio, dia oficial da abolição da escravidão, não se
instalou como referencia efetiva, pelo menos ainda não. A oficialização da data
e do feriado (assim estabelecido em algumas cidades brasileiras) não garantiu o
contraponto ao 13 de maio.
A data que
completa a lista das comemorações históricas lembradas é a do chamado
‘descobrimento’ do Brasil, marcado para o dia 22 de abril. Mas, são mesmo
pouquíssimas referências, não chegando a meia dezena.
Quando
perguntadas se frequentam desfiles, a maioria afirma que não costuma comparecer
aos eventos anuais. Alguns, menos de 25% dos indivíduos, afirmam que vão sempre
e que gostam muito de assistir aos desfiles anuais. O que mais frequentemente os
motiva é a lembrança de seus tempos de escola quando desfilavam ou o fazem para
lembrar filhos e netos, para que eles tenham a mesma oportunidade de formação
patriótica que tiveram. Ocorrem rememorações do quanto era importante desfilar,
como a escola se preparava meses antes. Há várias referências sobre ir ver o
desfile, orgulhosamente, para acompanhar o desfile que conta com o filho
estudante da escola militar. Assistir o filho vestido de militar e desfilando
sob aquela disciplina comove e estimula as pessoas.
O que nos parece mais interessante é que,
mesmo não indo, muitas - mais da metade das respostas - são as referências a
esses desfiles, notadamente os que ainda se repetem anualmente, como o sete de
setembro e o dia 24 de outubro. Os que não vão, raramente renegam seu
significado e importância na formação das pessoas, do ponto de vista da
afirmação da ideia de nação e região como se apresenta pela história oficial ou
hegemônica. Muitas respostas parecem se desculpar por não frequentar os
desfiles, pois a negativa é seguida de uma defesa contundente de sua
permanência. Assim, para a maioria, não ir aos desfiles não corresponde à
negação de seu significado como afirmação do projeto colocado de nação e
região.
Quando perguntamos sobre qual papel
educativo podem ter as datas históricas na formação das pessoas, foram
produzidos três eixos de respostas [Para registrar as posições colhidas junto aos
alunos de pedagogia, não nomearemos individualmente as citações, apenas as
colocaremos entre aspas]. O primeiro e mais citado, em variadas formas de expressão,
é aquele que simples e objetivamente reapresenta a tarefa de afirmação do
projeto de história e nação como ele nos é estabelecido pela história que
podemos chamar de oficial, ou seja, a versão hegemônica, fundada no positivismo
e que traz elementos como a memorização das datas, fatos e respectivos heróis
como sinônimo de história e conteúdo da história ensinada.
Muitas das afirmações presentes
nesse campo são bastante curtas e diretas: ‘precisa ser ensinado’, ‘há que
relembrar os fatos históricos importantes’. São afirmações que bastam por si
mesmas, não se preocupando em explicar significados ou desdobrar
justificativas, demonstrando a profundidade das raízes desta ideia de história
e de nação.
Também nesse quadrante interpretativo,
temos afirmações como ‘Sempre achei importante para fixar datas e fatos.
Através das datas podem ser trabalhadas as questões do patriotismo e cidadania,
tão importantes para a constituição do indivíduo’. Ou: ‘participar sim para
tornar ciente da importância das datas’, ‘grande importância para formação
social’. Não fica claro qual conceito de formação social aqui se apresenta, mas
nos parece estar próximo à formação do indivíduo como ser pertencente a uma
sociedade. Essas afirmações revelam o papel das comemorações na produção do
sujeito que se espera formar via processos educativos e isso se limitaria a
reconhecer a ‘importância’ das datas e comemorações. A comemoração está,
também, associada à noção de patriotismo, então considerada componente
imprescindível dessa formação. Essa função atribuída à comemoração e ao
desfile, de ‘desenvolver o patriotismo’ é amplamente referendada, inclusive
pela ideia de que, naquele dia ‘os alunos são os donos da cidade’, enquanto
sabemos que o que ocorre é um exercício absolutamente disciplinado, contido,
muito distante da ideia de poder dos alunos sobre a cidade. ‘Tomar ciência’
corresponde, segundo essa interpretação, a se apropriar das informações, dos
dados descritos e aí se conclui a tarefa.
Também temos a preocupação
registrada de que não se trata de comemorar por si só, pois ‘importa ter
conhecimento das datas e saber o motivo’ ou ‘relembrar as datas comemorativas
para que os alunos tenham mais conhecimento sobre elas’. Assim, a data e sua
comemoração cumprem seu papel formativo para a além da data, mas sem que isso
se transforme em uma problematização do que se comemora: trata-se de aprofundar
o convencimento do mesmo como ele já está colocado. Lembrar implica na
possibilidade de saber o motivo da comemoração e isso é ensinar história, mesmo
que não se questione, de novo, qual história se ensina. Na mesma direção, temos
que ‘a comemoração é também reflexão sobre porque comemoramos’. A noção de
importância qualifica o discurso sem se explicitar para quem e para quê a
comemoração importa.
As comemorações têm também, segundo
as respostas, uma tarefa no campo da memória, pois, ir aos desfiles e comemorar
as datas serve ‘para relembrar as datas comemorativas pra ter mais conhecimento
sobre elas’, ‘para não esquecer os dias que foram marcantes’, ‘para lembrar
datas históricas que marcaram dias importantes’, ‘lembrar o que aconteceu
naquele dia, há anos e anos atrás’. Temos aqui o eixo estruturante na ideia
positivista de história – a descrição e sucessão das datas eleitas como
históricas – sempre reapresentada como tarefa das comemorações, com desfiles,
inclusive. Lembrar é aprender história, a mesma história, segundo essa ótica,
pois estaremos sempre falando do mesmo fato, no mesmo dia. Isso é o que se reforça
quando se diz que vamos lembrar o que aconteceu anos atrás e naquele dia. O
passado inerte, retomado pela lembrança – que sabemos não ser assim recuperado
por quem lembra ou quem assiste ao desfile. Quem lembra é o sujeito de hoje,
assim como quem conta a história é o projeto hegemônico em seu exercício e
interesses presentes. Isso se aprofunda quando observamos falas que afirmam que
‘as datas fazem o culto a momentos importantes na vida do homem’. Temos aqui
noção religiosa associada ao conceito de história, que retira do homem o
atributo de pensar sobre si e o mundo, pois o que lhe cabe é cultuar. Outra
forma de registro dessa posição é a que afirma que se trata de ‘reverenciar o passado e lembrar todo ano, da
importância desses dias’. Ou que ‘é importante para acompanhar os marcos da
história’, que se fundamenta na ideia de que a história e seu conhecimento
passa por datas e não por processos, e que os importantes são os eleitos por
alguém - que não nos inclui.
Há afirmações que qualificam o
desfile e a comemoração como ‘um reforço para relembrarmos as datas’, sendo que
o sujeito registra seu desapontamento como o fato de hoje ser ‘apenas feriado’.
Nesse sentido, há que ‘relembrar momentos marcantes da história’, além de
‘reafirmar costumes’ e ‘reavivar na memória a importância das datas históricas
e dos laços familiares’, pois ir ao desfile aproxima pais e filhos, netos e
avós, envoltos em um momento de patriotismo, especialmente quando se tem um
filho ou neto desfilando por uma escola militar, reproduzindo absolutamente a
conduta militar nesses eventos.
O
segundo grande eixo interpretativo observado nas respostas colhidas foi a ideia
de que se bem trabalhado, o evento comemorativo contribui de maneira importante
para a formação do sujeito, amplia a cultura.
A
referência à noção de comemoração como fonte de aquisição de cultura, reafirma
o conceito de cultura como algo a ser absorvido, desconsiderando o sujeito como
produtor e ressignificador potencial da cultura a quem tem acesso. Ou seja,
parte da ideia de que o sujeito que assiste ao desfile adquire,
unilateralmente, a cultura que lhe é exposta. Coletamos, nessa direção,
elaborações como essas: “Se for um trabalho contextualizado, pode fortalecer a
cultura”. Ou, “comemorar sempre traz cultura”. ‘O desfile atribui cultura que
passa a ser foco da cultura do país’. ‘É uma grande contribuição para aumentar
a cultura’, em uma acepção que vê na cultura, um processo acumulativo.
As
impressões percebidas na análise dos dados nos apresentam uma leitura do papel
das datas históricas e suas comemorações por parte dos professores em formação,
onde, mesmo considerando-se o acesso dos sujeitos a uma formação crítica na
área de Ciências Humanas, reafirma-se, hegemonicamente, uma noção moral do papel
dos heróis e das datas históricas na formação de seus futuros alunos e de si
mesmos. Temos, até aqui, que as formas hegemônicas de interpretação da história
não estão limitadas ao universo escolar, embora se reconheça o papel central e
articulador da escola nessa tarefa.
Referências
Miriam
Bianca Amaral Ribeiro: graduada, mestre e doutora em história pela UFG.
Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFG, na área de Fundamentos e
Metodologia do Ensino das Ciências Humanas.
KALLÁS,
Ana Lima. Usos públicos da história: origens do debate e desdobramentos no
ensino de história. Revista História Hoje, v.6, n.12, p.130-157, dez/2017,
EDUSP, SP.
LE
GOFF, Jaques. História e Memória. Ed. Unicamp, 1998, Campinas.
Boa tarde, Bianca.
ResponderExcluirDiante das atuais afirmações, presentes sobretudo em reportagens na internet, de que o Brasil não teria sofrido um Golpe Militar em 64, como podemos problematizar a questão, tendo como base os usos públicos da história?
Retomar as fontes, problematizar as falas fascistas e não deixar nada sem resposta. tempo de guerra, esses que vivemos. agradeço a questão
ResponderExcluirGrata pela resposta!
ExcluirMuito interessante a problemática de sua pesquisa, pois ela retoma um debate que é muitas vezes deixado meio de lado no processo formativo de professores de História. Muitas vezes ao logo de minha graduação em História e em algumas de minhas praticas escolares, foi dado muito mais importância aos contextos e processos históricos do que a datas comemorativas, o que, ao menos para mim, representa muitas vezes esquecimentos de muitas datas comemorativas, mas quando chegamos em sala de aula, nos deparamos, enquanto professores com uma realidade um pouco diferente, pois dependo da série/ano em que você está trabalhando parece-me que existe uma forte pressão da cultura escolar para se enfatizar datas e fatos específicos muitas vezes sem levar em consideração a complexidade e o significado desses "eventos históricos". Quando você coloca que "Lembrar implica na possibilidade de saber o motivo da comemoração e isso é ensinar história [...]", desperta em mim um dúvida, como podemos trabalhar o ensino de história para além de lembrar da data, mas mais que isso, lembrar do motivo de tal comemoração e entender esse motivo e a própria construção dessa data comemorativa?
ResponderExcluirSua pesquisa foi realizada com estudantes de pedagogia, ou seja, futuros professores das séries iniciais, como essa questão de pensar para além de uma data comemorativa, mas entendendo o sentido dela e o motivo de sua escolha e construção sociocultural mostrou-se presente nas respostas dos sujeitos de sua pesquisa e/ou em seu trabalho com eles?
Agradeço a atenção.
Sandiara Daíse Rosanelli
Oi, Sandiara. Obrigada pela questão. A maioria das respostas apenas e simplesmente reafirma a noção de data comemorativa como estabelecida pela história oficial hegemônica, de cunho positivista, demonstrando a poderosa intervenção dessa concepção de história, ainda nos nossos dias.Nossa intenção é contribuir para que se pense a história como coletivo e como processo, onde datas e heróis não ocupam a centralidade. Ocorre que a visão positivista de história, nas escolas, ainda é um tijolo sobre a cabeça dos professores, que, durante a formação, ate discutem o papel político e e ideológico dessa conduta, mas chegando na escola, as formas conservadoras, as políticas educacionais e o coronelismo ainda impõem as comemorações. Trabalhar a história para que nos situemos como sujeitos da história, capazes de intervir e mudar a história so se faz se reconhecemos cada um como capaz de produzir conhecimento, capaz de construir posições diante do que nos cerca. Nessa conduta, não cabem heróis nem datas que isolem fatos. Nos dias que vivemos, essa discussão é urgente diante da retomada de absurdos usos públicos da história, como temos visto ocorrer e diante das indicações de recrudescimento das perseguições a quem trabalha a sala de aula coo espaço da crítica e da participação política coletiva e individual.
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