Luciano dos Santos Ferreira


ESCRAVIDÃO E QUADRINHOS NA SALA DE AULA

Introdução
O preconceito é resultado da ignorância sobre os conceitos e que ainda assim formam certas bases de pensamento em uma sociedade. O Brasil está cheio desses conceitos mal concebidos sobre o índio, os afrodescendentes, as mulheres, os homossexuais, etc. Se instalam nas atitudes, conscientes ou não, muitas vezes sem explicitude, mas que silenciosamente repulsa o outro ou a outra, não dando-lhes direito a crescer, se desenvolver ou aprender a ser protagonista de si. Durante muito tempo se acreditou numa democracia racial no Brasil, mas sob as lentes de quem? Qual a origem de quem o afirmou? E a maior de todas as questões: nessa luta contra o poder opressor, quais ferramentas podem ser usadas na busca da extinção das intolerâncias?

É senso comum ouvir que a educação é a solução contra os preconceitos. De fato o é. Sendo assim, poderíamos apostar na escolarização dos professores e professoras ao alunado e certamente o problema seria dirimido com o passar do tempo; ledo engano. Se assim o fosse não teríamos mais a ignorância, a intolerância ou os abismos sociais que se aprofundam. Ou escola em vez de instrutora não seria mais uma reprodutora da opressão social e a manutenção do status quo como afirmou Bourdieu? Não basta apenas a inércia do ensino despretensioso e mecânico. É ponto pacífico que deve-se lutar contra os preconceitos, mas a grande questão é: como fazê-lo? Voltando a ferramenta para tal, o que propomos é apenas uma entre diversas que complementarmente podem suprir as lacunas na forma de sensibilizar para conscientizar: as histórias em quadrinhos.

O Início das HQs
É difícil precisar quando surgiram as histórias em quadrinhos. As figuras rupestres nas paredes das cavernas no Parque Nacional da Serra da Capivara ou os painéis de Lascaux, ou quem sabe os murais egípcios que contavam da vida dos faraós, rituais religiosos, adorações aos deuses até a vida cotidiana dos cidadãos numa sequência com intenção nítida de sequenciar imagens de modo narrativo, não poderiam ser ressignificadas como essência dos quadrinhos? Notoriamente narrativas com imagens não é algo novo nem exclusivo de uma cultura. Porém modernamente, podemos entender que as HQs como conhecemos surgiram por volta do final do século XIX, provavelmente o Yellow Kid ilustrado por Richard Felton Outcault seja o primeiro personagem marcante com o formato tal como conhecemos. Ainda sem usar os balões, mas com o texto escrito no corpo do personagem, sua primeira publicação foi em 1895 no jornal New York World.

As HQs sofreram muito preconceito, na verdade ainda sofrem, isso porque ainda há quem acredite que é uma leitura rasa e serve apenas para interter, outros afirmam ainda que é “leitura de preguiçoso”, ainda que as críticas venham diminuindo com o passar do tempo, seja por causa da inovação de abordagem, seja pela originalidade e profundidade dos roteiristas e ilustradores, o preconceito está longe de acabar. Mas o fato é que também é considerada a 9º arte, já que não é literatura, texto ou imagem sequencial, mas simplesmente quadrinhos. Hoje as HQs abordam os mais diversos temas, desde a quadrinização de clássicos da literatura universal, como “A Odisseia”, “Os Lusíadas”, “Dom Quixote”, “Os Três Mosqueteiros”, etc., até reportagens jornalísticas denunciando as atrocidades em Sarajevo ou Na Faixa de Gaza, portanto não se pode dizer que os quadrinhos sejam direcionados para um público específico ou uma única faixa etária; os quadrinhos atualmente alcançaram patamares muito superiores, mas, ainda assim, o preconceito insiste.

Em 1954 foi publicada uma obra que ficou muito conhecida, resultado de pesquisa que denunciava a nocividade dos quadrinhos à juventude americana, de autoria do psiquiatra Fredric Wertham, “A Sedução do Inocentes” propunha em dados estatísticos que a maioria da população carcerária dos Estados Unidos lia quadrinhos, conclusão: os quadrinhos eram os responsáveis por adultos desajustados socialmente, mesmo usando uma metodologia científica questionável. Como Wertham era conceituado no meio acadêmico por seus trabalhos na Universidade Johns Hopkins e na Clínica Universitária de Psiquiatria Philipps (VERGUEIRO et alli 2004 apud XAVIER, RICARDO. 2009), o preconceito acerca das HQs se alastrou causando repulsa na sociedade branca elitista dos EUA.

No Brasil não foi diferente, até pela repercussão das críticas dos americanos, que à época possuíam, como ainda possuem, enorme influência sobre os países da América; no clima de Guerra Fria, após a Segunda Grande Guerra, alardeou-se a fama de que as histórias em quadrinhos fossem uma invenção comunista para cooptar a sociedade para o socialismo soviético. Editoras brasileiras como a Editora Abril, Gráfica O Cruzeiro, Editora Brasil-América e Rio Gráfica e Editora se uniram e elaboraram uma espécie de código de ética que restringia e regulava o conteúdo dos gibis (XAVEIR, RICARDO 2009). Hoje, evidentemente não há mais tal regulação, mas ao observar a polêmica em torno da secretaria de Educação de São Paulo em 2009 ao adquirir material didático complementar para as escolas e bibliotecas através do programa “Ler e Escrever”, “Um Contrato com Deus” de Wiill Eisner e “Dez na Área, um na Banheira e Ninguém no Gol” por Orlando Cardoso e outros cartunistas, e que sofreu duras críticas. De fato cabíveis, já que a compra seria para a 3ª série do ensino fundamental; ambas as obras se destinam ao público adulto. Mas a questão é de inadequação etária, não de tipologia metodológica. O fato é que recaiu sobre os quadrinhos a falha pedagógica na escolha das obras.

Ao contrário do que se apregoou, que história em quadrinhos seriam leituras apenas de lazer, que estas e escola não dialogavam, com o passar do tempo percebeu-se que havia uma riqueza muito maior implícita, numa narrativa quadrinística, os espaços entre os quadros, chamados de calhas, denotam passagens de tempo, cabe ao leitor imaginar as lacunas deixadas pelo roteirista, ao tempo em que textos escritos e imagéticos se articulam numa narrativa que só os quadrinhos possuem. Isso no âmbito educacional é de suma importância. Imaginar, criar situações e possibilidade dá a esse tipo de mídia uma interatividade difícil de articular através de outros meios, e com uma vantagem: crianças, jovens e adultos adoram as histórias em quadrinhos.

HQs em sala de aula e a popularização de personagens infantis e super-heróis favoreceram a aceitação entre os adolescentes e jovens. A preocupação em utilizar HQs como recurso pedagógico não é uma novidade na literatura que trata do assunto. Assim, trabalhos produzidos por Rama e Vergueiro (2006), Adriane Sobanski (2009), Paulo Ramos (2009), Lovetro (2011) e Palhares (2013) há algum tempo apresentaram discussões sobre a origem das histórias em quadrinhos, as HQs como ferramenta pedagógica para o ensino de História, o uso de HQs em sala de aula, a leitura dos quadrinhos e o ensino e a aprendizagem de História a partir de HQs e canções, ou seja, uma diversificação enorme dos formatos de aprendizagem.

O historiador Amaro Xavier Braga Júnior no artigo Histórias em quadrinhos, informação e memória: uma análise de “passos perdidos, história desenhada: a presença judaica em Pernambuco” (2013) afirma o grande potencial das HQs na esfera do entretenimento, da educação e do exercício da cidadania, sob a égide de: “[...] uma cultura de massa integrada, que não distingue público leitor de consumidor ao agregar tanto elementos populares, quanto sofisticados. E que, sobretudo, se dispõe a atender a qualquer consumidor” (2013, p. 818).

Um interessante artigo intitulado Do Universo dos Quadrinhos a Sala de Aula: Mafalda À Aula de História (2017), de autoria de Vitória Duarte Winger e Jander Fernandes Martz, traz para o centro do debate o protagonismo de uma personagem feminina de seis anos, criada por Quino na década de 1960, abordando temáticas como Guerra do Vietnã, capitalismo, comunismo, direitos humanos e paz mundial com uma forte predisposição para o ensino da disciplina de História na educação básica.

Africanidade nas Histórias em Quadrinhos
As HQs como um produto midiático que reflete os anseios da sociedade e se transmuta em conformidade com ela, amadureceu como uma ferramenta de intervenção e de formação de opinião, evidentemente aí é que está a grande possibilidade de penetração das histórias em quadrinhos entre os jovens e, por que não entre os jovens negros das periferias das grandes cidades? Não haveria como os negros serem representados nas estórias dos grandes super-heróis que punham a vida em risco para salvar e proteger o planeta Terra? Certamente que sim.

E quando se trata de personagens negros nos quadrinhos há uma grande quantidade de referências nas HQs internacionais (Marvel & DC Comics) com enredos de ação e aventura, sendo muitos dos quais transportados para as telas de cinema. Uma lista de fãs de HQs online relaciona dez figuras importantes no cenário das Comics Histories: Pantera Negra (soberano de um país africano que ganha sua própria revista na década de 1970), Falcão (Sam Wilson, nascido no Harlem, o primeiro herói negro dos quadrinhos norte-americanos), Luke Cage (que ganhou recentemente uma série própria na Netflix), Tempestade dos X-Men (Ororo Monroe, uma afro-americana), Raio Negro (o primeiro herói negro a aparecer na DC Comics), Ciborgue dos Novos Titãs, Blade (o caçador de vampiros), Vixen ou Fox (Mari Jiwe McCabe, a primeira grande super-heroína negra da DC Comics, criada nos anos 70), Aço (John Henry Irons, um engenheiro afro-americano com armadura e martelo, muito semelhante ao Super-Homem), Super-Choque (que se popularizou como desenho animado de TV, mas teve a saga de Virgil Hawkings era um personagem do selo Milestone Media, de Dwayne McDuffie e Denis Cowan, dois proeminentes nomes negros dos quadrinhos americanos) (MIORANDO, 2017a).


Figura 1: Super-Heróis negros das Comics internacionais (A)

Mais adiante, uma nova lista revela mais 15 personagens negros das HQs: Lanterna Verde (John Stewart, o primeiro Lanterna Verde negro da terra), Spaw (um personagem dos anos 90, de Todd McFarlane, da Image Comics), Nick Fury (no início era branco nos quadrinhos, mas depois acabou sendo desenhado como negro inspirado no ator Samuel L. Jackson que deu vida ao personagem nos cinemas), Monica Rambeau (a Capitã Marvel), Bishop e sua irmã Lasca (participaram dos X-Men em uma determinada fase), Misty Knight (uma ex-policial de Nova York), Rainha Abelha e Arauto (Karen Beecher-Duncan e Mal Duncan, da DC Comics), Homem-Aranha (depois da morte de Peter Parker, o Homem-Aranha original do Universo Ultimate, outra aranha modificada da Oscorp picou um outro menino Miles Morales, um latino afro-americano de 13 anos de idade), Manto (Tyrone “Ty” Johnson, um teleportador, que fazia as pessoas atravessarem a dimensão da escuridão para chegar em outros lugares), Senhor Incrível (o magnata Michael Holt), Radical (o fundador da equipe de jovens super-heróis conhecida como Os Novos Guerreiros), Irmão Vodu (Jericho Drumm, feiticeiro mor do Haiti) e Batwing (David Zavimbe, um policial congolês, criado por Grant Morrison) (MIORANDO, 2017b).

Figura 2: Super-Heróis negros das Comics internacionais (B)

No Brasil o pesquisador Nobuyoshi Chinen defendeu a tese de doutorado O papel do negro e o negro no papel: representação e representatividade dos afrodescendentes nos quadrinhos brasileiros (2013), na Escola de Comunicações e Artes da USP. Em seu trabalho realiza um levantamento da presença dos negros nos HQs nacionais publicadas entre 1869 e 2011, sendo poucos e em papel subordinado e/ou estereotipado, com destaque para: Jeremias, Benjamin, Pererê, Azeitona, Pelezinho, Ronaldinho Gaucho, Luana e Aú.

Observa-se nas imagens que nem sempre houve um cuidado estético e muitas vezes o tom caricatural, surrealista de cores e feições sobrepôs-se a ideia de um protagonismo negro. A ausência do nariz ou sua configuração como uma vírgula (caso do Saci de Ziraldo), o ocultamento dos cabelos ou sua representação estereotipada.


Figura 3: Personagens negros das HQs nacionais

Nos 300 anos de Zumbi dos Palmares foi lançada uma edição comemorativa em HQ, ilustrada por Álvaro Moya, com roteirização de Clóvis Moura (1995), reeditada pela Secretaria de Educação e Cultura de Betim.


Figura 4: Parcial da página inicial da HQ Zumbi dos Palmares
Fonte: HQ disponível em: http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/hq%20zumbi.pdf, Acesso em: 24/08/2017.

Personificado na historiografia brasileira como o herói dos escravos brasileiros, Zumbi dos Palmares, teve sua trajetória primeiro estudada por Rocha Pitta na obra “História da América Portuguesa” que ao afirmar a lenda do suicídio da liderança negra é contraposto por Clóvis Moura, que na apresentação da HQ, termina seu escrito com uma citação da documentação pesquisada por Edison Carneiro em O Quilombo dos Palmares e no trabalho do historiador português Ernesto Ennes denominado As Guerras nos Palmares que afirma:

[...] o governador Caetano de Mello Menezes ordenou que sua cabeça fosse pendurada em um pau e exposta “no lugar mais público desta praça a satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam este imortal” (HQ ZUMBI, 1995).

Assim, a HQ preocupou-se em trazer uma atualização historiográfica que possa orientar professores e alunos em sala de aula sobre o caminhar das pesquisas em arquivos que têm encontrado novos documentos para subsidiar novas interpretações de antigos objetos. Entre 2016 e 2017, o ilustrador Hugo Canuto adquiriu visibilidade nas redes sociais ao iniciar a campanha de financiamento coletivo para a HQ Contos de Òrun Àiyé que trouxe as narrativas africanas dos Orixás, em dezembro de 2018 ele lançou O Conto dos Orixás repetindo a metodologia com grande sucesso.

Com arte inspirada no desenhista norte-americano Jack Kirb, a edição da HQ prevê uma publicação com 80 páginas trazendo duas histórias com base na saga de Xangô. Além de Canuto também contribuem para a obra Pedro Minho (desenvolvedor de animação) e o arte-finalista Marcelo Kina (integrante da equipe responsável pelo título “Turma da Mônica Jovem”).

Tiras” e Abordagens para Discussão
Há ainda outro formato de quadrinhos que pode ser utilizado com excelentes resultados na sala de aula, são as tiras, que se adaptam a utilização em debates sobre qualquer tema. As tiras normalmente são carregadas de críticas e sacadas rápidas que misturam humor e ironia, geralmente ligados a temas do cotidiano. A figura 5 foi idealizada por mim, é parte da HQ Caminhos de uma Escrava da África a Sergipe, sobre a escravidão africana e algumas tiras para debate em sala de aula, fazem parte do produto pedagógico do PROFHISTORIA da Universidade Federal de Sergipe, orientadas Pela Profa. Dra. Janaína Cardoso de Mello e ilustradas por Cauê Souza. Põe em cheque as lentes da sociedade para a questão do preconceito e do posicionamento dos próprios afrodescendentes, em um jogo de adaptação e aculturação para uma “aceitação” social.


Figura 5 – Tira Lentes da Sociedade
Fonte: Obra do ilustrador Cauê Souza

A abordagem é extremamente importante no processo de aprendizagem, cabe ao professor, o personagem mais capacitado para orientar as adequações, condução da discussão no sentido de construir uma crítica ao que está posto pela sociedade, questionar o posicionamento político de manutenção da marginalização dos afrodescendentes, e combater a naturalização da incapacidade de protagonismo de si pelo negro. Parece óbvio para muitos, mas certamente para uma parte considerável da sociedade brasileira a ideia de resgate social é mero assistencialismo, quando deveria ser o resgate de uma dignidade devida ao afrodescendente. Mas também possibilita a autocrítica do próprio afrobrasileiro, para que seja consciente e protagonize sua mudança orientada por subsídios consistentes para ocupação do seu espaço.

Na figura 6 e 7 já da HQ oferece uma sequência em que a violência sexual é abordada. Evidentemente que a cena contém violência, foi tomado o cuidado de não explicitá-la, já que não é o foco da abordagem, mas desperta o questionamento dos porquês os livros pouco ou nada falam da violência contra as escravas, que sofriam duplamente, mas em muitos casos fala-se de uma submissão voluntária, que durante muito tempo se aceitou como natural. Portanto abordar as resistências como a reação na HQ, se aproxima mais da realidade vivida pelos escravizados. Outro aspecto que pode ser abordado pelos professores e professoras é a rede de solidariedade que se forma entre os africanos e afrobrasileiros.



Figura 6 e 7 – Sequência violência sexual nos canaviais do engenho
Fonte: Obra do ilustrador Ênio Carvalho

A ajuda mútua, principalmente entre os da mesma etnia era característica marcante, bem exposta pelos cuidados na senzala pela mucama mais velhas, ou no furto de objetos da casa grande para os aquilombados que eram ajudados pelos que serviam nas fazendas de cana-de-açúcar ou de café. E que além dessas formas de resistência muitas outras foram praticadas entre escravos. Na figura 8 retrata a venda de verduras e frutas nas horas vagas, outra forma de resistência, que além das fugas eram comuns aos negros e negras na busca pela compra da própria alforria ou de marido, filhos e outras pessoas importantes do convívio que poderia levar anos a fio.


Figura 8 Venda de frutas e verduras na feira
Fonte: Obra do ilustrador Cauê Souza

Se se imaginar uma massa de escravizados que foi trazida ao continente americano, após séculos de expatriação e exploração, os descendentes não conhecem mais a África, tampouco parentes, amigos ou a geografia da pátria dos seus ascendentes e um dia lhes informam que foi assinada uma lei (Lei Áurea) que os libertou do jugo da escravidão; que agora eles podem ir e vir livremente, o que fariam? De fato é motivo de alegria e festa, porém para onde iriam? Sem nenhum plano de realocação dessa massa de trabalhadores e trabalhadoras que agora não teriam mais o chão duro da senzala, nem os lençóis rasgados, tampouco os retalhos que cobriam o corpo, que fizeram?

CONCLUSÃO
Não resta dúvida que a escravidão deixou sequelas e que estas ainda estão presentes na sociedade brasileira e americana, que ainda é raro encontrar afrobrasileiros em cargos de liderança ou funções proeminentes, isso ainda caminha na esfera das exceções e atualmente sem perspectivas de mudança. Ainda que pareça que as pessoas aprendem e crescem com o passar do tempo e das experiências, há ainda muitos outros que teimam em uma meritocracia irrestrita, na contramão do pouco que havia sendo feito. Todas as ferramentas que aproximem a lucidez histórica ao cotidiano será bem vinda, as HQs podem ter um papel importante e ajudar na sensibilização de estudantes pelo Brasil. E que se reconheça que os estudos sobre a temática não se encerram com a Lei Áurea.


BIBLIOGRAFIA
Luciano dos Santos Ferreira é graduado em História, Pós-graduado em Docência no Ensino Superior e História do Brasil, mestrado em Ensino de História, atua na assessoria pedagógica no IFS – N. S. da Glória.

BRAGA JÚNIOR, Amaro Xavier. Histórias em quadrinhos, informação e memória: uma análise de “passos perdidos, história desenhada: a presença judaica em Pernambuco”. Anais eletrônicos do V Colóquio de História da UNICAP. Recife, PE, 2011. Disponível em: http://www.unicap.br/coloquiodehistoria/wp-content/uploads/2013/11/5Col-p.817-830.pdf

FERREIRA, Luciano dos Santos. HQ Caminhos de uma Escrava da África a Sergipe. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/429226

HQ ZUMBI DOS PALMARES. Ilustração de Álvaro Moya e texto de Clóvis Moura. MG: Prefeitura Municipal de Betim, 1995.

MIORANDO, Guilherme “Smee” Sfredo. Os 10 heróis negros mais importantes das Comics. Disponível em: https://splashpages.wordpress.com/2015/11/20/os-10-super-herois-negros-mais-importantes-dos-comics/.
MIORANDO, Guilherme “Smee” Sfredo. Mais 15 super-heróis negros importantes dos Comics. Disponível em: https://splashpages.wordpress.com/2016/11/20/mais-15-super-herois-negros-importantes-dos-comics/.

PALHARES. M. C. História em Quadrinhos: Uma Ferramenta Pedagógica para o Ensino de História. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2262-8.pdf.

RAMA, A.; VERGUEIRO, W. (orgs). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 3ed. São Paulo: Contexto, 2006.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009.

SOBANSKI, Adriane de Q. et al. Ensinar e aprender História: histórias em quadrinhos e canções. Metodologia, ensino médio. Curitiba: Base Editorial, 2009.

XAVIER, Raoni; RICARDO, Alisson. Revista Eletrônica Temática: Dez na Área: polêmica e preconceito contra os Quadrinhos. v. 41 n. 9. setembro 2009. Disponível em: http://www.insite.pro.br/2009/setembro/deznaarea_quadrinhos_educacao.pdf

WINGER, Vitória Duarte; MARTZ, Jander Fernandes. Do Universo dos Quadrinhos a Sala de Aula: Mafalda À Aula de História. Revista Gestão Universitária, 2017, Disponível em: http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/do-universo-dos-quadrinhos-a-sala-de-aula-mafalda-a-aula-de-historia.


14 comentários:

  1. Bom dia! Muito interessante o artigo! Transmitir essa fase obscura da História do Brasil em HQs é um recurso excelente. Ja trabalhei escravidão com meus alunos e eles proprios montaram um revista. Quanto a indagação é a seguinte: muitos acreditam que existe uma exaltação ao preconceito em determinadas o ras de arte ou quaisquer ovra que se refira a esse periodo. Como você vê isso?

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    2. Bom dia. Obrigado Benedito. Sobre a questão dos preconceitos em obras de arte, penso que toda produção, seja cultural, artística, etc. é fruto de uma época e das sociedades, que refletem o pensamento vigente, por isso deve-se tomar cuidado para não ser anacrônico e transportar nossos conceitos atuais para épocas passadas. Mas existiram absurdos, diferenciar o que foi aceitável e não é mais é tarefa crítica do historiador e infelizmente tem sido tomada pelo senso comum. Creio ser importante fazer uma análise do contexto da produção da mentalidade, até pra analisar os interesses e as inclinações, já que sabemos que nenhuma produção humana é isenta de inclinações. Já observou quantos absurdos tem surgido pela falta desse critério metodológico? Grato pelo seu interesse.

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  2. Olá Luciano.
    Parabéns pelo seu texto. Alias muito bem fundamentado e com uma forma clara e prazerosa para o leitor.
    Tenho trabalhado com os meus alunos a imagem negativa que é atribuída as pessoas de origem africana (com pele negra), mas ainda é muito enraizado a forma negativa das ações ou do negro em sí.
    Mas acredito que a situação tem melhorado significavamente nos últimos anos, inclusiva com o sucesso do Filme Pantera Negra, esse filme como um aluno comentou na sala de aula, "ele me faz me sentir como um rei", da sua forma esse aluno comenta que antes os negros eram os marginalizados, os escravos, os sem sabedoria. Ao ponto de um homem inteligente e poderoso (sábio e honesto) assumir esse símbolo, ajuda a auto estima dos alunos.
    Como você comentou a escravidão e os negros eram uma figura caricata na nossa cultura, temos o exemplo do saci. Mas com a busca por acabar com essas caricaturas, as representações estão sendo melhor trabalhadas.
    Gostaria de saber se você ainda sente falta de uma figura com mais poder de identidade e representação dos negros no Brasil?
    Outro ponto que me lembrei agora, que por muito tempo um herói dos filmes quando se falava de continente africano era o "Fantasma" um europeu que defendia a África, papel esse ocupado pelo Pantera Negra agora. Você tem uma opinião sobre esse ponto?

    Obrigado

    Anderson da Silva Schmitt

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    1. Obrigado pelos seus comentários Anderson. Puxa, o comentário do seu aluno me deixou muito feliz! Sentir-se rei é um sentimento novo para o afrobrasileiro, e muito bem vindo. De fato houve uma melhoria do contexto social brasileiro, mas com a guinada política que o país vive, os avanços já se mostram em franca retração, ao que tudo indica os índices de pobreza estão voltando a patamares de décadas atrás. Esse é um ponto. Sobre a figura representativa, acho que as ações da sociedade organizada devem prevalecer sobre os ícones representativos; a consciência política deve estar à frente da passionalidade devocional a uma figura que nos represente, até porque teríamos que "criar" essa figura representativa, e até que ponto não é um esteriótipo ou manipulação? Sobre a representação, como o Fantasma, exite um conceito de direito dos africanos e afrodescendentes baseado na indulgência do branco, como a discutida indulgência da princesa Isabel na libertação dos escravos, então é sempre um tema complexo e que cabe muita discussão.

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  3. Olá

    De que outras formas o conteúdo poderia ser abordado em sala de aula, para chamar ainda mais a atenção dos alunos? Já teve a oportunidade?

    Att
    Wiliana Maiara do Nascimento

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    1. Olá Wiliana, tudo bem? Acho que o primeiro passo seria conscientizar como os direitos são adquiridos. no mundo e no Brasil. Nunca gostei de impor leituras extensas para os alunos, por isso minha dissertação de mestrado foi uma HQ, e expus o conteúdo dessa forma, que faz parte do universo infanto-juvenil, que também é mais palatável e leve. É sensibilizar para conscientizar. A partir do gosto pela temática você vai inserindo outras perspectivas, outras leituras, para que os estudantes se aprofundem e sejam autônomo do próprio processo de aprendizagem, vou te dar um exemplo: os estudantes do terceiro ano tinham dificuldades de interpretação de texto, a professora de Língua Portuguesa não quis reforçar a questão porque tinha que voltar conteúdos de anos anteriores e tal, pois bem, pedi como uma das notas para que eles lessem um livro. escolhi pra uma garota Persépolis, uma HQ que, de imediato ela reclamou da espessura da obra, no final ela estava indignada pela forma como os mulheres eram tratadas naquela sociedade, perceba que a leitura mexeu com as convicções da garota. Mas a forma de abordagem é essencial. Conquistar é melhor que impor.

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  4. Olá Luciano!
    É um prazer conhecer trabalhos de pessoas que enxergam nos quadrinhos uma ferramenta para alcançarmos a hoje tão disputada atenção da juventude. O que trago é mais a titulo de contribuição. Pesquise a HQ CUMBE de Marcelo D'Salete, ele é o ganhador do Eisner 2018 na categoria melhor publicação estrangeira nos E.U.A. ela aborda a luta de pessoas oprimidas por um regime ao qual elas não escolheram. Para nós que discutimos a escravidão e fazemos o uso dos quadrinhos ela é hoje um dos materiais mais ricos que possuímos para tratar do tema. No mais parabéns pelo seu trabalho e espero poder lê-lo novamente em outras oportunidades

    Marcos Vinicius de Andrade Gomes

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    1. Obrigado Marcos, tenho Angola Janga de D'Salete mas confesso que não li ainda, está na lista de leituras. Quando fiz a pesquisa percebi que existe uma infinidade de quadrinhos, uns mais densos outros mais populares como Pele de Rafael Calça e Jefferson Costa da Maurício de Souza Produções e dá pra fazer uma discussão legal na sala de aula com as HQs, mas enquanto professores precisamos abrir o leque de opções ferramentais e oferecer aos estudantes mais que apenas os heróis, que são muito legais, mas que não é só isso, HQ é muuuuuito mais. Abraços

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  6. Boa Noite Prof. Luciano,

    Parabéns pelo belo trabalho realizado em sala de aula, problematizando temáticas fundamentais, utilizando metodologias diferenciadas e recursos alternativos, como as histórias em quadrinhos que com certeza chamam a atenção das crianças e jovens, e permitem a construção de um novo olhar acerca dos conteúdos com o auxílio das representações artísticas. Sou professora do Estado do Rio Grande do Sul e ao introduzir a história da escravidão africana no 8º ano, também utilizei algumas imagens referentes ao navio negreiro, os diversos trabalhos realizados pelos negros no Brasil, instrumentos de castigo, formas de resistência africana. Foi uma experiência muito significativa, permitindo dialogar abertamente com os estudantes sobre o assunto e constituindo a consciência histórica acerca do tipo de vida que os africanos levavam, os preconceitos que persistem até hoje, e a análise crítica sobre a própria construção das imagens pelos artistas, tendo em vista que não são neutras.

    Atenciosamente,
    Laís Francine Weyh

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    1. Olá Laís, tudo bem? Que bom que nós estamos encampados na luta para levar conteúdo com qualidade e significação para a vida cotidiana dos estudantes, devemos resistir para que nossa voz se mantenha sempre viva e audível para mostrar que nós professores não somos os incompetentes que os políticos tentam mostrar, parabéns a você e todos os colegas professores que estão tirando dinheiro do bolso pra conseguir fazer algumas atividades além do óbvio. Grato.

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