Introdução
Todos os anos no início do semestre letivo os docentes da
disciplina de história tentam responder a uma indagação, para que estudar
história? Uma pergunta aparentemente simples, porém com uma resposta complexa,
levando-se em consideração a compreensão por vezes equivocada de ser a História
uma disciplina que trata do passado. Para Marc Bloch (2001, p.55), a História é
a ciência “dos homens no tempo”, ou seja, “nunca se explica plenamente um
fenômeno histórico fora do estudo de seu momento” (BLOCH, 2001, p.60). Porém,
passado e presente devem ser vistos nas suas imbricadas relações já que é o
historiador a partir de seu tempo e dos problemas levantados pelo presente que
analisa o passado. Portanto, não há compreensão do atual sem estabelecer um
diálogo com o passado. Enfim, nas palavras de um dos fundadores do Annales: “a
ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente;
compromete, no presente, a própria ação” (BLOCH, 2001, p.63).
A tentativa de “unir o estudo dos mortos ao dos vivos” e de
romper com a incompreensão do presente devido à ignorância do passado, como
apontada por Marc Bloch (2001, p.67) poderia abrir uma possibilidade de
compreensão da necessidade do estudo da história. Todavia, na sequência do
livro clássico da historiografia “Apologia da História ou o Ofício do
Historiador” Bloch parece muito mais preocupado com as disputas dentro do
“campo” buscando legitimidade para uma concepção de história que daria maior
distinção social e acadêmica para um grupo específico de historiadores do que
pela proposição de uma didática da história.
Nesse
artigo propomos apresentar uma proposta
de metodologia de ensino que possa trazer um aprendizado mais significativo aos
estudantes, onde os mesmos possam se apropriar da sua própria história,
apresentar um diálogo entre passado e presente visível e compreensível,
apresentando a disciplina de História como a ciência responsável por oferecer
orientações para a vida prática tendo como principal objeto de estudo não o
tempo, mas o homem.
Nessa
perspectiva, a partir da análise da metodologia da educação patrimonial
buscamos apresentar uma proposta que seja viável e permita um espaço de diálogo
entre o ensino de história e educação histórica.
A
educação patrimonial possibilita ao estudante uma reflexão sobre seu tempo,
pois o patrimônio histórico cultural sendo ele material ou imaterial traz
consigo referencias simbólicas de uma memória ou mesmo de uma narrativa
construída para inculcar sentimento de pertencimento, oferecendo um passado que
legitime o presente. Moura e Faria no artigo Ensino de História e consciência Histórica: a teoria de Jörn Rüsen
(2017) comentam sobre a importância do papel do ensino de história na
formação da identidade nacional, onde a disciplina de história é vista como uma
ferramenta importante para o projeto de Brasil elitista e branco. “Em suma, buscava-se através da história a
construção de um passado histórico onde o povo surge como um simples
espectador.” (Moura e Faria, 2017, p. 57).
O projeto
de Brasil é orquestrado pelas elites dirigentes tendo como proposta apresentar
a todos um passado comum, onde todos se identifiquem, tendo como referencia o
“modelo “civilizador” europeu”. Como efeito colateral uma parte importante de nosso
passado passa a ser negado, onde determinados grupos sociais como negros e
mestiços são silenciados e visto como exemplo de atraso.
Moura e Faria (2017) faz uma reflexão importante que norteia
esse nosso artigo. Para os autores o ensino de história deve ser comprometido
com a problematização e reflexão da vida cotidiana do estudante. Moura e Faria
propõem um ensino de história que dê legitimidade ao sujeito onde ele não
esteja a serviço da legitimação de poderes constituídos.
Ensino de História em Rüsen
Para Jörn Rüsen o ensino de história tem como uma de suas
finalidades o desenvolvimento da consciência histórica, proporcionando
orientação para vida prática dos indivíduos. Em sua matriz disciplinar Rüsen aponta os
caminhos que devem ser percorridos para gerar ao estudante um aprendizado
histórico eficiente. O ponto de partida são as carências de orientação do
individuo ou interesse por compreender o presente, a problematização do seu
cotidiano e a busca no passado de indícios que auxiliem na compreensão do seu
momento histórico, isso faz com que o estudante com auxilio do professor encontre
um canal de comunicação, ligando presente e passado e possibilitando um diálogo
que leve ao estudante uma compressão da disciplina de História e passe a se
orientar no tempo histórico.
Rüsen define tipologicamente a consciência histórica em
quatro categorias, definida hierarquicamente, porém manifestadas em muitos
casos de forma concomitante. Sendo elas: tradicional, exemplar, critica e
genética
A tipologia tradicional manifesta a necessidade da
preservação dos monumentos públicos uma vez que esses são agentes imbuídos de
memórias que remontam a um passado comum. A “unidade” dos grupos sociais ou da
sociedade em seu conjunto, entretanto mantêm o sentimento de uma origem comum.”
(RÜSEN, 2011, pág. 64).
A tipologia exemplar
faz menção ao passado no intuito de que com um fato passado possamos tirar um
exemplo que possa espelhar a sociedade no presente, retomando assim, ao princípio
de historiae
vitae maestrae.
A tipologia critica contrapõe-se ao senso comum com
evidências históricas, pode se opor a tipologia tradicional e a exemplar, uma
vez que propõem a revisão de antigos conceitos tidos como determinantes e
universais.
Finalmente, a quarta tipologia que Rüsen define é a genética.
Ao atingir esse grau de consciência histórica a pessoa poderá perceber as
mudanças e as permanências dentro do contexto histórico percebendo, por
exemplo, que certas tradições que visualmente não parecem ter sentido podem ser
vistas de uma maneira diferente sem perder sua essência.
Essa aprendizagem histórica tem que ter um caráter evolutivo,
onde o receptor do conhecimento histórico adquire experiências e as transformam
em competências e as usa para transformar ou mudar as estruturas, saindo assim
de uma consciência tradicional avançando para um modo genético, pois como
afirma RÜSEN (2011, p. 87) “os modelos tradicionais de interpretação se tornam
exemplares, os exemplares, críticos, e os críticos, genéticos”.
Ensino
de História e Patrimônio
Uma das formas de despertar a consciência histórica
tradicional é através da Educação Patrimonial. A Educação Patrimonial tem uma
função pedagógica, pois desperta o interesse do educando para o seu meio,
aproxima o mesmo de sua comunidade despertando o interesse para as tradições
inerentes ao seu meio social, levando-o a se compreender como agente de
transformação, pois desperta a memória coletiva que, segundo Halbawachs (1992),
é onde a memoria individual floresce sendo essa também fruto de uma memória
histórica que resultará na construção de uma identidade.
No Brasil, o conceito de
patrimônio tem suas bases lançadas na Semana de Arte Moderna em 1922 onde se
tentou romper com os paradigmas europeus e dar expressão e uma identidade
própria brasileira. Mario de Andrade em seu anteprojeto de 1936 propõe um
conceito de patrimônio que contempla a manifestações populares e os bens
culturais imateriais. Porém essa definição ficou restrita aos bens móveis e
imóveis.
Na construção do
conceito de patrimônio nacional brasileiro ficam de fora os quilombos, vilas
operárias, senzalas que Segundo Nolasco et.
ali. (2011) era uma forma de esconder um passado sem conflitos e
contradições sociais. Esse conceito só veio a ser ampliado em 1988 com
Promulgação da Constituição Brasileira do mesmo ano que em seu artigo 216
estabeleceu:
“Os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de
e edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-cultural,
os conjuntos urbanos e sítios de criar, fazer valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico paleontológico.”
A partir de então, o
conceito patrimônio e, por consequência, as políticas oficiais do Estado
brasileiro para a preservação e valorização do patrimônio cultural passaram a
considerar a diversidade cultural material e, sobretudo, o patrimônio imaterial
(Nolasco et. ali. 2011).
A autora
Helena Pinto, em seu artigo Interpretação
de fontes patrimoniais em educação Histórica (2012), próximo à tendência
teórica do pensamento de Rüsen, aponta como o patrimônio pode ser um importante
instrumento na formação da consciência histórica. Pinto desenvolveu um estudo
de caso a partir do patrimônio material, no qual o objeto de estudo foi o
Centro Histórico de Guimarães, em Portugal, onde avaliou um grupo de 87 alunos
cursando do 7° ao 10° ano. Dessa forma, a autora procurou, em seu trabalho,
observar os diferentes olhares que os estudantes tinham a respeito do
patrimônio local, valorizando o conhecimento prévio e residual dos estudantes
sobre o patrimônio cultural do Centro Histórico da cidade de Guimarães.
A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9394/96 – no Art. 26, aponta
que devem ser trabalhados os aspectos culturais em seus níveis locais e
regionais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) trazem em seus temas
transversais a possibilidade das escolas abordarem no ensino fundamental
através de projetos de Educação Patrimonial os temas relacionados à diversidade
cultural.
Essa nova
concepção sobre o patrimônio cultural, mais inclusivo apresenta uma série de
culturas que estavam fora do projeto de nação, que eram marginalizadas, dando
voz aos diferentes grupos e comunidades, apresentando os diferentes rostos que
compõem a sociedade brasileira, sendo um país cuja nação é multicultural.
Assim, acreditamos que o ensino de História e a inclusão do Patrimônio Cultural
nas discussões em sala abrem caminho para novas abordagens quanto às fontes,
recursos didáticos e novas discussões sobre a didática da História e suas
metodologias de ensino, entre elas, como colocamos acima, a Educação Patrimonial
e histórica com suas novas perspectivas e dinâmicas.
A partir
disso pensando no ensino de História de acordo com a perspectiva acima
mencionada, ou seja, como ciência que busca compreender os fundamentos na vida
prática selecionamos um grupo de estudantes da Escola SESI de Araguaína. Os
estudantes pertenciam todos a 1º série do ensino médio, com um público de 35
alunos sendo 17 meninos e 18 meninas com idade variando entre 15 e 16 anos.
Para
iniciarmos as atividades primeiramente aplicamos um questionário para
mensuramos qual a compreensão que os estudantes têm com relação à história
enquanto disciplina escolar e ciência, outros conceitos também foram explorados
como cultura, patrimônio material e imaterial, identidade e memória.
Depois de
tabulados os dados foi realizado a apresentação dos resultados aos estudantes
onde foi possível discutir esses conceitos de forma mais ampla. Após a
apropriação desses conceitos foi organizado uma oficina de educação patrimonial
a partir do filme Narradores de Javé.
A narrativa do filme apresenta questões do cotidiano de uma
cidade e de seus moradores em situação de conflito relacionados à formação
cultural, heranças históricas, crenças, memória, história, o valor da oralidade
na construção de narrativas históricas e de sua escrita Instigando os educandos
através de perguntas, o professor consegue conduzir uma reflexão não apenas
restrita ao conceito de história, mas também aos elementos simbólicos
constitutivos de uma sociedade como cultura, costumes, tradições e memória
coletiva. Muitas foram às perguntas realizadas pelos alunos; “por que o sino
era o objeto que mais aparecida no filme?” Não esqueceram o sino da Igreja.
“Toda cultura acabou?”
Os questionamentos introduziram as discussões sobre a
atividade do questionário e do filme. O patrimônio cultural começa a ser
percebido como elemento unificador de uma comunidade ou de um povo como também
foi possível que os alunos percebessem as permanências e mudanças existentes em
todas as cidades, inclusive Araguaína. Ao afirmar que “Toda cultura acabou!”
problematizamos a importância da comunidade para construir os elementos de
identificação da memória do grupo. Ancorado no pensamento de Halbwachs
(2006) que chama a atenção que a memória individual existe sempre a partir de
uma memória coletiva, colocando que todas as lembranças, reflexões, verdades,
são construídas a partir do grupo.
A partir
do questionário aplicado no primeiro dia e pelo uso do filme como recurso foi
possível perceber que seis alunos salientaram que o conhecimento histórico é
necessário como forma de conhecer a própria realidade, como pode ser observada
em suas respostas: “Saber interpretar o presente estudando o
passado. Para saber dar valor e importância as devidas coisas que temos hoje e
como surgiu e saber sobre como fomos feitos” (V. M. 27/01/2016) a “História para mim é conhecimento, ciência e
evolução. Que tem um papel muito importante nos dias de hoje como forma de
estudar o passado para compreendermos o
presente” (M.D. F. 27/01/2016). Assim, é válido enfatizar que a
História enquanto ciência é sempre solicitada como mecanismo de compreensão e
de orientação. Com isso, é importante observar que esses educandos articulam as
duas dimensões do tempo na busca de orientação para vida prática. A imersão no
passado é resultado do que Rüsen (2010) classifica em sua matriz disciplinar
como carência de orientação, no qual essa carência vem do presente e faz com
que o indivíduo enquanto sujeito histórico busque respostas para suas
inquietações cotidianas.
Por isso
é necessário uma compreensão de como as instituições agem na organização do
ensino. Para que aja uma elucidação é necessário problematizar a cultura
escolar para que assim compreendamos claramente e direcionemos com mais
eficácia o nosso trabalho de educação patrimonial junto aos educandos.
Após essa
compreensão traçamos estratégias para o trabalho de campo. Como já citamos
trabalhos o mercado público municipal de Araguaína. Então para explorar os
espaços de memoria adotamos a metodologia de educação patrimonial das autoras HORTA; GRUNBERG e MONTEIRO (1999) Guia básico de educação patrimonial.
Nesse material pioneiro as autoras dividem a
educação patrimonial em 4 fases (observação,
registros, exploração e avaliação). Na primeira visita os estudantes do
grupo A com 11 estudantes dividiram se em outros três grupos de forma
proporcional e iniciaram através de um caminhamento sistemático a observação e o registro dos patrimônios
presente no Mercado Público Municipal O registro
foi realizado através de desenhos, fotografias e vídeos. Após essa etapa
foi realizado a terceira etapa a exploração
onde os estudantes começam a contextualizar o patrimônio observado e registrado
num contexto mais amplo. Através de leituras e pesquisas buscam informações sobre
o contexto politico e social a nível mais geral, a intenção é compreender o
processo de construção ou exclusão do patrimônio estudado.
Na última etapa que denominada avaliação através de uma ação pratica os estudantes expõem como se
deu o processo de apropriação dos temas estudados. Através de textos produzidos
e de uma exposição fotográficas podemos observar os registros fotográficos e
perceber como se deu o olhar do aluno ao seu patrimônio. Os textos trouxeram
também a recepção dos estudantes que não fizeram parte do projeto mas foram
contemplados com exposição fotográfica.
Ao final da exposição foi realizada uma roda de
conversa com os estudantes envolvidos no projeto e os mesmos levantaram a
necessidade de estudar mais um pouco sobre a história local e compreender como
se dá o processo de construção da identidade do Tocantins. Como proposta ficou
o encaminhamento por parte dos estudantes de se criar um núcleo de estudos em
patrimônio cultural.
A partir da fala dos estudantes percebemos que a
metodologia de educação patrimonial problematiza o ensino de historia e que ao
tirar os alunos da inercia, rompendo com os muros da escola damos significado
ao ensino e que essa metodologia viabiliza a problematização do conhecimento
histórico a partir de outros olhares.
REFERÊNCIAS
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História pela UFT (Universidade Federal do Tocantins/Porto Nacional), Professor
de História da Educação Básica e Tecnológica IFTO (Instituto Federal do
Tocantins). Mestre em Ensino de História. Prof-História/ Araguaína/UFT.
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História pela UESPI, professor de História da Educação Básica e Tecnológica do
IFTO (Instituto Federal do Tocantins) Mestre em Ensino de História. Prof-História
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RÜSEN,
Jörn. História Viva: Teoria da
História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. da UNB, 2010.
Olá Jorge e Antônio.
ResponderExcluirPrimeiramente parabéns pelo trabalho/estudo de vocês, sou apaixonada por essa temática.
Quanto ao meu questionamento:
É muito comum ainda professores trabalharem patrimônio em sala de aula partindo do "macro" para o "micro" (muitas vezes negligenciando o micro), baseados apenas pelo conteúdo presente nos livros didáticos.
Tomemos como exemplo para uma breve reflexão alunos que moram em uma cidadezinha no interior de Santa Catarina e que aprendem, nas aulas de História, que o Casario de Ouro Preto (MG) e o Elevador Lacerda (BA), por exemplo, são nossos Patrimônios Históricos Culturais.
Sem desmerecer a importância de tais patrimônios para o nosso país e para nossa própria história, é preciso considerar que são patrimônios distantes da realidade de tais alunos, e, portanto, desinteressante para eles.
Sabendo que, todo lugar/espaço é carregado de historicidade, seja através do material ou do imaterial e ainda do natural, como vocês percebem esse tipo de ensinamento transmitido aos alunos em sala de aula? Falta para muitos educadores a compreensão de que, para que o aluno se reconheça enquanto agente no processo histórico ele precisa conhecer a historicidade daquilo que o cerca, descobrindo sua identidade cultural e assim construindo certa consciência histórica?
Abraço,
Danila Gomes Corrêa.
Danila Gomes bom dia. Ótima sua observação. Ao meu ver a primeira coisa que os estudantes tem que compreender os conceitos. O que é um patrimônio cultural, sua simbologia, refletir porque determinados monumentos são imbuídos de significados. Um exemplo por que o monumento aos bandeirantes existe? Existem todo um interesse politico por de trás da constituição de um memória. Nossa memória foi construída a partir de alguns símbolos e nessa disputa pela memória alguns referencias ficaram de fora. Por que ficaram? Trabalhar primeiramente conceitos como memória, identidade, patrimônio material e imaterial é um passo e então começar essa desconstrução. Quando esses conceitos são discutidos e você trás para realidade deles eles começam compreender de forma mais ampla. Quando as referencias são cotidianas. Trabalhar a memória da infância e ensinar eles a dar importâncias as coisas mais próximas. Recentemente desenvolvemos uma projeto de ensino na nossa instituição. Trabalhamos os conceitos primeiramente. Depois dividimos os alunos em grupos e pedimos para que eles fotografassem patrimônios da cidade. Depois socializamos as pesquisas que alem das fotografias eles foram buscar relatos das histórias do monumentos. Os estudantes ficaram maravilhados com as histórias e falaram que não sabia que a cidade deles tão pequenas tinha tanta história e isso mudou totalmente o olhar deles com relação a cidade. Tem um fato curioso no nosso município. Em 1919 ocorreu uma chacina que ficou conhecida com chacina dos 9. Tem um monumento e uma praça com uma capela no local do fato. Os estuantes fotografaram e foram pesquisar e descobriram em muitos relatos que foram não 9 mas 10 pessoas, mas pelo fato de ser um negro ele não entrou na contagem. A partir dessa informação entraremos em outras discussões. Vamos buscar mais informações. O fato que esse detalhe nas narrativas nos dá outros olhares. Como por exemplo perceber o momento histórico daquele acontecimento e discutir o por que desse silenciamento quanto a um personagem. Quando damos sentido ao se estuda, quando tem significado e aplicação prática a aprendizagem tornasse mais prazerosa. Ensinar história tornasse muito difícil quando não atingimos ao aluno. Gosto muito quando você coloca que estudamos o patrimônio lá de Ouro Preto, mas não reconhecemos o que esta a nossa volta. Sempre falamos para os estudantes não adianta valorizar a casa do vizinho se eu não cuido da minha. Quando se apropriamos do que é nosso e compreendemos a importância, respeitamos o que é do próximo. Muitos colegas professores tem dificuldades de trabalhar com essa temática devido a série de entraves que são colocados. Um desse entraves é o tempo curto para conseguir vencer uma quantidade muito grande de conteúdos para poucas aulas. Mas no momento que eles compreendem os conceitos eles já começam a perceber suas cidade de forma diferente.
ExcluirNão sei se conseguimos responder ou contribuir um pouco. Obrigado por sua postagem.
Jorge Luis de Medeiros Bezerra/ Antônio Guanacuy Alemeida Moura
Danila Gomes bom dia. Ótima sua observação. Ao meu ver a primeira coisa que os estudantes tem que compreender os conceitos. O que é um patrimônio cultural, sua simbologia, refletir porque determinados monumentos são imbuídos de significados. Um exemplo por que o monumento aos bandeirantes existe? Existem todo um interesse politico por de trás da constituição de um memória. Nossa memória foi construída a partir de alguns símbolos e nessa disputa pela memória alguns referencias ficaram de fora. Por que ficaram? Trabalhar primeiramente conceitos como memória, identidade, patrimônio material e imaterial é um passo e então começar essa desconstrução. Quando esses conceitos são discutidos e você trás para realidade deles eles começam compreender de forma mais ampla. Quando as referencias são cotidianas. Trabalhar a memória da infância e ensinar eles a dar importâncias as coisas mais próximas. Recentemente desenvolvemos uma projeto de ensino na nossa instituição. Trabalhamos os conceitos primeiramente. Depois dividimos os alunos em grupos e pedimos para que eles fotografassem patrimônios da cidade. Depois socializamos as pesquisas que alem das fotografias eles foram buscar relatos das histórias do monumentos. Os estudantes ficaram maravilhados com as histórias e falaram que não sabia que a cidade deles tão pequenas tinha tanta história e isso mudou totalmente o olhar deles com relação a cidade. Tem um fato curioso no nosso município. Em 1919 ocorreu uma chacina que ficou conhecida com chacina dos 9. Tem um monumento e uma praça com uma capela no local do fato. Os estuantes fotografaram e foram pesquisar e descobriram em muitos relatos que foram não 9 mas 10 pessoas, mas pelo fato de ser um negro ele não entrou na contagem. A partir dessa informação entraremos em outras discussões. Vamos buscar mais informações. O fato que esse detalhe nas narrativas nos dá outros olhares. Como por exemplo perceber o momento histórico daquele acontecimento e discutir o por que desse silenciamento quanto a um personagem. Quando damos sentido ao se estuda, quando tem significado e aplicação prática a aprendizagem tornasse mais prazerosa. Ensinar história tornasse muito difícil quando não atingimos ao aluno. Gosto muito quando você coloca que estudamos o patrimônio lá de Ouro Preto, mas não reconhecemos o que esta a nossa volta. Sempre falamos para os estudantes não adianta valorizar a casa do vizinho se eu não cuido da minha. Quando se apropriamos do que é nosso e compreendemos a importância, respeitamos o que é do próximo. Muitos colegas professores tem dificuldades de trabalhar com essa temática devido a série de entraves que são colocados. Um desse entraves é o tempo curto para conseguir vencer uma quantidade muito grande de conteúdos para poucas aulas. Mas no momento que eles compreendem os conceitos eles já começam a perceber suas cidade de forma diferente.
ResponderExcluirNão sei se conseguimos responder ou contribuir um pouco. Obrigado por sua postagem.
Boa noite Jorge e Antônio.
ResponderExcluirConcordo que primeiramente é preciso trabalhar conceitos. Melhor ainda se estes conceitos, no tocante ao patrimônio, forem ensinados e exemplificados com aquilo que faz parte do cotidiano do aluno, não é mesmo?
Achei muito interessante o relato sobre o fato ocorrido em seu município, "a chacina dos 9". Quanta história há por trás de determinados acontecimentos e que ainda necessitam de pesquisa para que se desvelem novas "histórias" por trás de narrativas muitas vezes intencionalmente construídas, como vocês bem apontam. Que excelente iniciativa levar os alunos a desvendar essas "histórias", uma verdadeira construção do conhecimento. E como vocês mesmo colocam, uma questão puxa outra e assim o conhecimento vai se fazendo. Maravilhoso!
Concordo também que, ensinar qualquer coisa é difícil quando não atinge o aluno, mas no caso da História essa dificuldade parece sempre maior, uma vez que os alunos já vêm pra sala de aula carregados de preconceito com relação à disciplina por acreditarem que a História trata de questões de uma temporalidade distante e que não influencia na realidade. Mas tenho esperanças de que com o tempo venceremos essas dificuldades.
Adorei o feedback de vocês, muito obrigada mesmo por responder.
Abraços.
Danila Gomes Corrêa.
Obrigado você! Uma coisa que sempre colocamos nas nossa aulas e fazer eles (alunos) entender que a História é uma ciência que estuda o homem em seu tempo.
ExcluirPrezados Jorge e Antônio, primeiramente parabéns pelo trabalho. Sabemos que dentro do mundo globalizado a preservação do Patrimônio torna-se fundamental para manter o mundo com suas diversidades, tendo cada grupo sua característica e sua história. Deste modo, vemos a importância da Educação Patrimonial no ambiente escolar. Sobre a importância da preservação patrimonial: que outras metodologias sugerem para realizarmos a inserção do patrimônio no currículo escolar?
ResponderExcluirWillys Soares da Silva
Boa tarde, obrigado pelo comentário e pelo questionamento.
ExcluirO currículo escolar tem o papel de ser norteador de todo o processo educacional de uma escola, e driblar a cultura escolar de certas instituições não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de instituições particulares. Primeiro temos conhecer essa cultura inerente de cada instituição para avaliar quais medidas podem ser tomadas. Uma metodologia que vale ser feita são atividades multidisciplinares. Onde pode pode ser envolvidos os professores das mais diversas área do conhecimento. Trabalhar temas do patrimônio material, imaterial e natural. Projetos de pinturas e fotografias são possibilidades de trabalho, amostra de filmes. Fica como sugestão o documentário: Ser Tão Velho Cerrado. Esse documentário trabalha o impacto do agronegócio no cerrado ( patrimônio Natural) e nas comunidades tradicionais que habitam e vivem em harmonia nesse bioma.
Abraços e obrigado,
Jorge Luis de Medeiros Bezerra/Antonio Guanacuy Moura.
Boa tarde, obrigado pelo comentário e pelo questionamento.
ResponderExcluirO currículo escolar tem o papel de ser norteador de todo o processo educacional de uma escola, e driblar a cultura escolar de certas instituições não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de instituições particulares. Primeiro temos conhecer essa cultura inerente de cada instituição para avaliar quais medidas podem ser tomadas. Uma metodologia que vale ser feita são atividades multidisciplinares. Onde pode pode ser envolvidos os professores das mais diversas área do conhecimento. Trabalhar temas do patrimônio material, imaterial e natural. Projetos de pinturas e fotografias são possibilidades de trabalho, amostra de filmes. Fica como sugestão o documentário: Ser Tão Velho Cerrado. Esse documentário trabalha o impacto do agronegócio no cerrado ( patrimônio Natural) e nas comunidades tradicionais que habitam e vivem em harmonia nesse bioma.