Jorge Luís Bezerra e Antônio Guanacuy Moura




Introdução
Todos os anos no início do semestre letivo os docentes da disciplina de história tentam responder a uma indagação, para que estudar história? Uma pergunta aparentemente simples, porém com uma resposta complexa, levando-se em consideração a compreensão por vezes equivocada de ser a História uma disciplina que trata do passado. Para Marc Bloch (2001, p.55), a História é a ciência “dos homens no tempo”, ou seja, “nunca se explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de seu momento” (BLOCH, 2001, p.60). Porém, passado e presente devem ser vistos nas suas imbricadas relações já que é o historiador a partir de seu tempo e dos problemas levantados pelo presente que analisa o passado. Portanto, não há compreensão do atual sem estabelecer um diálogo com o passado. Enfim, nas palavras de um dos fundadores do Annales: “a ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente; compromete, no presente, a própria ação” (BLOCH, 2001, p.63).

A tentativa de “unir o estudo dos mortos ao dos vivos” e de romper com a incompreensão do presente devido à ignorância do passado, como apontada por Marc Bloch (2001, p.67) poderia abrir uma possibilidade de compreensão da necessidade do estudo da história. Todavia, na sequência do livro clássico da historiografia “Apologia da História ou o Ofício do Historiador” Bloch parece muito mais preocupado com as disputas dentro do “campo” buscando legitimidade para uma concepção de história que daria maior distinção social e acadêmica para um grupo específico de historiadores do que pela proposição de uma didática da história.

Nesse artigo propomos  apresentar uma proposta de metodologia de ensino que possa trazer um aprendizado mais significativo aos estudantes, onde os mesmos possam se apropriar da sua própria história, apresentar um diálogo entre passado e presente visível e compreensível, apresentando a disciplina de História como a ciência responsável por oferecer orientações para a vida prática tendo como principal objeto de estudo não o tempo, mas o homem.

Nessa perspectiva, a partir da análise da metodologia da educação patrimonial buscamos apresentar uma proposta que seja viável e permita um espaço de diálogo entre o ensino de história e educação histórica.

A educação patrimonial possibilita ao estudante uma reflexão sobre seu tempo, pois o patrimônio histórico cultural sendo ele material ou imaterial traz consigo referencias simbólicas de uma memória ou mesmo de uma narrativa construída para inculcar sentimento de pertencimento, oferecendo um passado que legitime o presente. Moura e Faria no artigo Ensino de História e consciência Histórica: a teoria de Jörn Rüsen (2017) comentam sobre a importância do papel do ensino de história na formação da identidade nacional, onde a disciplina de história é vista como uma ferramenta importante para o projeto de Brasil elitista e branco. “Em suma, buscava-se através da história a construção de um passado histórico onde o povo surge como um simples espectador.” (Moura e Faria, 2017, p. 57).

O projeto de Brasil é orquestrado pelas elites dirigentes tendo como proposta apresentar a todos um passado comum, onde todos se identifiquem, tendo como referencia o “modelo “civilizador” europeu”. Como efeito colateral uma parte importante de nosso passado passa a ser negado, onde determinados grupos sociais como negros e mestiços são silenciados e visto como exemplo de atraso.

Moura e Faria (2017) faz uma reflexão importante que norteia esse nosso artigo. Para os autores o ensino de história deve ser comprometido com a problematização e reflexão da vida cotidiana do estudante. Moura e Faria propõem um ensino de história que dê legitimidade ao sujeito onde ele não esteja a serviço da legitimação de poderes constituídos.

Ensino de História em Rüsen
Para Jörn Rüsen o ensino de história tem como uma de suas finalidades o desenvolvimento da consciência histórica, proporcionando orientação para vida prática dos indivíduos.  Em sua matriz disciplinar Rüsen aponta os caminhos que devem ser percorridos para gerar ao estudante um aprendizado histórico eficiente. O ponto de partida são as carências de orientação do individuo ou interesse por compreender o presente, a problematização do seu cotidiano e a busca no passado de indícios que auxiliem na compreensão do seu momento histórico, isso faz com que o estudante com auxilio do professor encontre um canal de comunicação, ligando presente e passado e possibilitando um diálogo que leve ao estudante uma compressão da disciplina de História e passe a se orientar no tempo histórico.

Rüsen define tipologicamente a consciência histórica em quatro categorias, definida hierarquicamente, porém manifestadas em muitos casos de forma concomitante. Sendo elas: tradicional, exemplar, critica e genética

A tipologia tradicional manifesta a necessidade da preservação dos monumentos públicos uma vez que esses são agentes imbuídos de memórias que remontam a um passado comum. A “unidade” dos grupos sociais ou da sociedade em seu conjunto, entretanto mantêm o sentimento de uma origem comum.” (RÜSEN, 2011, pág. 64).

 A tipologia exemplar faz menção ao passado no intuito de que com um fato passado possamos tirar um exemplo que possa espelhar a sociedade no presente, retomando assim, ao princípio de historiae vitae maestrae.

A tipologia critica contrapõe-se ao senso comum com evidências históricas, pode se opor a tipologia tradicional e a exemplar, uma vez que propõem a revisão de antigos conceitos tidos como determinantes e universais.

Finalmente, a quarta tipologia que Rüsen define é a genética. Ao atingir esse grau de consciência histórica a pessoa poderá perceber as mudanças e as permanências dentro do contexto histórico percebendo, por exemplo, que certas tradições que visualmente não parecem ter sentido podem ser vistas de uma maneira diferente sem perder sua essência.

Essa aprendizagem histórica tem que ter um caráter evolutivo, onde o receptor do conhecimento histórico adquire experiências e as transformam em competências e as usa para transformar ou mudar as estruturas, saindo assim de uma consciência tradicional avançando para um modo genético, pois como afirma RÜSEN (2011, p. 87) “os modelos tradicionais de interpretação se tornam exemplares, os exemplares, críticos, e os críticos, genéticos”.

Ensino de História e Patrimônio
Uma das formas de despertar a consciência histórica tradicional é através da Educação Patrimonial. A Educação Patrimonial tem uma função pedagógica, pois desperta o interesse do educando para o seu meio, aproxima o mesmo de sua comunidade despertando o interesse para as tradições inerentes ao seu meio social, levando-o a se compreender como agente de transformação, pois desperta a memória coletiva que, segundo Halbawachs (1992), é onde a memoria individual floresce sendo essa também fruto de uma memória histórica que resultará na construção de uma identidade.

No Brasil, o conceito de patrimônio tem suas bases lançadas na Semana de Arte Moderna em 1922 onde se tentou romper com os paradigmas europeus e dar expressão e uma identidade própria brasileira. Mario de Andrade em seu anteprojeto de 1936 propõe um conceito de patrimônio que contempla a manifestações populares e os bens culturais imateriais. Porém essa definição ficou restrita aos bens móveis e imóveis.

Na construção do conceito de patrimônio nacional brasileiro ficam de fora os quilombos, vilas operárias, senzalas que Segundo Nolasco et. ali. (2011) era uma forma de esconder um passado sem conflitos e contradições sociais. Esse conceito só veio a ser ampliado em 1988 com Promulgação da Constituição Brasileira do mesmo ano que em seu artigo 216 estabeleceu:

“Os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de e edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-cultural, os conjuntos urbanos e sítios de criar, fazer valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico paleontológico.”

A partir de então, o conceito patrimônio e, por consequência, as políticas oficiais do Estado brasileiro para a preservação e valorização do patrimônio cultural passaram a considerar a diversidade cultural material e, sobretudo, o patrimônio imaterial (Nolasco et. ali. 2011).

A autora Helena Pinto, em seu artigo Interpretação de fontes patrimoniais em educação Histórica (2012), próximo à tendência teórica do pensamento de Rüsen, aponta como o patrimônio pode ser um importante instrumento na formação da consciência histórica. Pinto desenvolveu um estudo de caso a partir do patrimônio material, no qual o objeto de estudo foi o Centro Histórico de Guimarães, em Portugal, onde avaliou um grupo de 87 alunos cursando do 7° ao 10° ano. Dessa forma, a autora procurou, em seu trabalho, observar os diferentes olhares que os estudantes tinham a respeito do patrimônio local, valorizando o conhecimento prévio e residual dos estudantes sobre o patrimônio cultural do Centro Histórico da cidade de Guimarães.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9394/96 – no Art. 26, aponta que devem ser trabalhados os aspectos culturais em seus níveis locais e regionais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) trazem em seus temas transversais a possibilidade das escolas abordarem no ensino fundamental através de projetos de Educação Patrimonial os temas relacionados à diversidade cultural.

Essa nova concepção sobre o patrimônio cultural, mais inclusivo apresenta uma série de culturas que estavam fora do projeto de nação, que eram marginalizadas, dando voz aos diferentes grupos e comunidades, apresentando os diferentes rostos que compõem a sociedade brasileira, sendo um país cuja nação é multicultural. Assim, acreditamos que o ensino de História e a inclusão do Patrimônio Cultural nas discussões em sala abrem caminho para novas abordagens quanto às fontes, recursos didáticos e novas discussões sobre a didática da História e suas metodologias de ensino, entre elas, como colocamos acima, a Educação Patrimonial e histórica com suas novas perspectivas e dinâmicas.

A partir disso pensando no ensino de História de acordo com a perspectiva acima mencionada, ou seja, como ciência que busca compreender os fundamentos na vida prática selecionamos um grupo de estudantes da Escola SESI de Araguaína. Os estudantes pertenciam todos a 1º série do ensino médio, com um público de 35 alunos sendo 17 meninos e 18 meninas com idade variando entre 15 e 16 anos.

Para iniciarmos as atividades primeiramente aplicamos um questionário para mensuramos qual a compreensão que os estudantes têm com relação à história enquanto disciplina escolar e ciência, outros conceitos também foram explorados como cultura, patrimônio material e imaterial, identidade e memória.

Depois de tabulados os dados foi realizado a apresentação dos resultados aos estudantes onde foi possível discutir esses conceitos de forma mais ampla. Após a apropriação desses conceitos foi organizado uma oficina de educação patrimonial a partir do filme Narradores de Javé.

A narrativa do filme apresenta questões do cotidiano de uma cidade e de seus moradores em situação de conflito relacionados à formação cultural, heranças históricas, crenças, memória, história, o valor da oralidade na construção de narrativas históricas e de sua escrita Instigando os educandos através de perguntas, o professor consegue conduzir uma reflexão não apenas restrita ao conceito de história, mas também aos elementos simbólicos constitutivos de uma sociedade como cultura, costumes, tradições e memória coletiva. Muitas foram às perguntas realizadas pelos alunos; “por que o sino era o objeto que mais aparecida no filme?” Não esqueceram o sino da Igreja. “Toda cultura acabou?”

Os questionamentos introduziram as discussões sobre a atividade do questionário e do filme. O patrimônio cultural começa a ser percebido como elemento unificador de uma comunidade ou de um povo como também foi possível que os alunos percebessem as permanências e mudanças existentes em todas as cidades, inclusive Araguaína. Ao afirmar que “Toda cultura acabou!” problematizamos a importância da comunidade para construir os elementos de identificação da memória do grupo. Ancorado no pensamento de Halbwachs (2006) que chama a atenção que a memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva, colocando que todas as lembranças, reflexões, verdades, são construídas a partir do grupo.

A partir do questionário aplicado no primeiro dia e pelo uso do filme como recurso foi possível perceber que seis alunos salientaram que o conhecimento histórico é necessário como forma de conhecer a própria realidade, como pode ser observada em suas respostas: “Saber interpretar o presente estudando o passado. Para saber dar valor e importância as devidas coisas que temos hoje e como surgiu e saber sobre como fomos feitos” (V. M. 27/01/2016) a “História para mim é conhecimento, ciência e evolução. Que tem um papel muito importante nos dias de hoje como forma de estudar o passado para compreendermos o presente” (M.D. F. 27/01/2016). Assim, é válido enfatizar que a História enquanto ciência é sempre solicitada como mecanismo de compreensão e de orientação. Com isso, é importante observar que esses educandos articulam as duas dimensões do tempo na busca de orientação para vida prática. A imersão no passado é resultado do que Rüsen (2010) classifica em sua matriz disciplinar como carência de orientação, no qual essa carência vem do presente e faz com que o indivíduo enquanto sujeito histórico busque respostas para suas inquietações cotidianas.

Por isso é necessário uma compreensão de como as instituições agem na organização do ensino. Para que aja uma elucidação é necessário problematizar a cultura escolar para que assim compreendamos claramente e direcionemos com mais eficácia o nosso trabalho de educação patrimonial junto aos educandos.  
Após essa compreensão traçamos estratégias para o trabalho de campo. Como já citamos trabalhos o mercado público municipal de Araguaína. Então para explorar os espaços de memoria adotamos a metodologia de educação patrimonial das autoras HORTA; GRUNBERG e MONTEIRO (1999) Guia básico de educação patrimonial.

Nesse material pioneiro as autoras dividem a educação patrimonial em 4 fases (observação, registros, exploração e avaliação). Na primeira visita os estudantes do grupo A com 11 estudantes dividiram se em outros três grupos de forma proporcional e iniciaram através de um caminhamento sistemático a observação e o registro dos patrimônios presente no Mercado Público Municipal O registro foi realizado através de desenhos, fotografias e vídeos. Após essa etapa foi realizado a terceira etapa a exploração onde os estudantes começam a contextualizar o patrimônio observado e registrado num contexto mais amplo. Através de leituras e pesquisas buscam informações sobre o contexto politico e social a nível mais geral, a intenção é compreender o processo de construção ou exclusão do patrimônio estudado.

Na última etapa que denominada avaliação através de uma ação pratica os estudantes expõem como se deu o processo de apropriação dos temas estudados. Através de textos produzidos e de uma exposição fotográficas podemos observar os registros fotográficos e perceber como se deu o olhar do aluno ao seu patrimônio. Os textos trouxeram também a recepção dos estudantes que não fizeram parte do projeto mas foram contemplados com exposição fotográfica.

Ao final da exposição foi realizada uma roda de conversa com os estudantes envolvidos no projeto e os mesmos levantaram a necessidade de estudar mais um pouco sobre a história local e compreender como se dá o processo de construção da identidade do Tocantins. Como proposta ficou o encaminhamento por parte dos estudantes de se criar um núcleo de estudos em patrimônio cultural.

A partir da fala dos estudantes percebemos que a metodologia de educação patrimonial problematiza o ensino de historia e que ao tirar os alunos da inercia, rompendo com os muros da escola damos significado ao ensino e que essa metodologia viabiliza a problematização do conhecimento histórico a partir de outros olhares.

REFERÊNCIAS
Jorge Luís de Medeiros Bezerra. Graduado em História pela UFT (Universidade Federal do Tocantins/Porto Nacional), Professor de História da Educação Básica e Tecnológica IFTO (Instituto Federal do Tocantins). Mestre em Ensino de História. Prof-História/ Araguaína/UFT.
Antonio Guanacuy Almeida Moura. Graduado em História pela UESPI, professor de História da Educação Básica e Tecnológica do IFTO (Instituto Federal do Tocantins) Mestre em Ensino de História. Prof-História – Araguaína/UFT.

ALMEIDA, Vasni de – Educação, História da Educação e Ensino de História In SILVA, Norma Lúcia da, Vieira Martha Victor (Org.) Ensino de História e formação continuada: teorias, metodologia e práticas– Goiânia: Ed. PUC Goiás, 2013.

BARCA, Isabel. Educação Histórica: uma nova área de investigação. Revista da Faculdade de Letras – História. Porto. III série. Vol. 02, 2001. p. 013/021.

BERGMANN, Klaus, et al (Orgs.). A História na Reflexão Didática. p. 207/217. Instituto Jeismann, 1989.

BRAUDEL, Fernand. Os Jogos das Trocas: civilização material, economia e capitalismo, séculos XV-XVIII, tomo 2. Lisboa: Cosmos, 1985. (Coleção Rumos do Mundo)

BRZEZINSKI, Iria (Org.). LDB de anos depois: reinterpretação sob diversos olhares. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.

BURKE Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru, SP: EDUSC, 2004.

FILGUEIRAS, Beatriz Silveira Castro. Do mercado popular ao espaço de vitalidade: Mercado Central de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 2006.

GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial. Brasília: IPHAN, 2007.

HORTA, Maria de Lourdes Parreira. Patrimônio cultural e cidadania. In Encontro do 4º Fórum Estadual de Museus. Farroupilha: Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Novembro/1994.

____. A utilização dos bens culturais como recursos educacionais.  Petrópolis: Museu Imperial, 1994.

_____. Educação Patrimonial. Petrópolis: Acervo Histórico e Artístico do Museu Imperial, 1995.

HORTA, M.L.P; GRUNBERG, E; MONTEIRO, A. Guia básico de educação patrimonial do IPHAN. Brasília; Petrópolis: IPHAN, 1999.

LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânio Carneiro de. Usos sociais da fotografia. In PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tânia Regian de. O Historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2011.

NOLASCO, Genilson Rosa Severino. As faces do patrimônio cultural. In PEDREIRA, Antônia Custodia (Org.) As diferentes faces e interfaces do patrimônio – registros para preservação e memória. Porto Nacional, 2013.

NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. São Paulo: PUC. N° 10. 1993.

MARC, Bloch.  Apologia da história ou oficio do historiador. Rio de Janeiro – RJ. Jorge Zahar Editor Ltda, 2001.

MOURA, Antônio Guanacuy A.; FARIA, Ronair Justino de. Ensino de História e consciência histórica: a teoria de Jörn Rusen. In: MANIERI (Org.). A temporalidade da Historia. Porto Alegre – RS, Editora Fi, 2017.

MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

QUEIROZ, Moema Nascimento. A Educação Patrimonial como Instrumento de Cidadania. Revista Museu. 2004. Disponível em <www.revistamuseu.com.br/artigos>. Acessado em 06 de julho de 2016.

RÜSEN, Jörn. História Viva: Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. da UNB, 2010.


8 comentários:

  1. Olá Jorge e Antônio.

    Primeiramente parabéns pelo trabalho/estudo de vocês, sou apaixonada por essa temática.

    Quanto ao meu questionamento:

    É muito comum ainda professores trabalharem patrimônio em sala de aula partindo do "macro" para o "micro" (muitas vezes negligenciando o micro), baseados apenas pelo conteúdo presente nos livros didáticos.
    Tomemos como exemplo para uma breve reflexão alunos que moram em uma cidadezinha no interior de Santa Catarina e que aprendem, nas aulas de História, que o Casario de Ouro Preto (MG) e o Elevador Lacerda (BA), por exemplo, são nossos Patrimônios Históricos Culturais.
    Sem desmerecer a importância de tais patrimônios para o nosso país e para nossa própria história, é preciso considerar que são patrimônios distantes da realidade de tais alunos, e, portanto, desinteressante para eles.
    Sabendo que, todo lugar/espaço é carregado de historicidade, seja através do material ou do imaterial e ainda do natural, como vocês percebem esse tipo de ensinamento transmitido aos alunos em sala de aula? Falta para muitos educadores a compreensão de que, para que o aluno se reconheça enquanto agente no processo histórico ele precisa conhecer a historicidade daquilo que o cerca, descobrindo sua identidade cultural e assim construindo certa consciência histórica?

    Abraço,

    Danila Gomes Corrêa.

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    1. Danila Gomes bom dia. Ótima sua observação. Ao meu ver a primeira coisa que os estudantes tem que compreender os conceitos. O que é um patrimônio cultural, sua simbologia, refletir porque determinados monumentos são imbuídos de significados. Um exemplo por que o monumento aos bandeirantes existe? Existem todo um interesse politico por de trás da constituição de um memória. Nossa memória foi construída a partir de alguns símbolos e nessa disputa pela memória alguns referencias ficaram de fora. Por que ficaram? Trabalhar primeiramente conceitos como memória, identidade, patrimônio material e imaterial é um passo e então começar essa desconstrução. Quando esses conceitos são discutidos e você trás para realidade deles eles começam compreender de forma mais ampla. Quando as referencias são cotidianas. Trabalhar a memória da infância e ensinar eles a dar importâncias as coisas mais próximas. Recentemente desenvolvemos uma projeto de ensino na nossa instituição. Trabalhamos os conceitos primeiramente. Depois dividimos os alunos em grupos e pedimos para que eles fotografassem patrimônios da cidade. Depois socializamos as pesquisas que alem das fotografias eles foram buscar relatos das histórias do monumentos. Os estudantes ficaram maravilhados com as histórias e falaram que não sabia que a cidade deles tão pequenas tinha tanta história e isso mudou totalmente o olhar deles com relação a cidade. Tem um fato curioso no nosso município. Em 1919 ocorreu uma chacina que ficou conhecida com chacina dos 9. Tem um monumento e uma praça com uma capela no local do fato. Os estuantes fotografaram e foram pesquisar e descobriram em muitos relatos que foram não 9 mas 10 pessoas, mas pelo fato de ser um negro ele não entrou na contagem. A partir dessa informação entraremos em outras discussões. Vamos buscar mais informações. O fato que esse detalhe nas narrativas nos dá outros olhares. Como por exemplo perceber o momento histórico daquele acontecimento e discutir o por que desse silenciamento quanto a um personagem. Quando damos sentido ao se estuda, quando tem significado e aplicação prática a aprendizagem tornasse mais prazerosa. Ensinar história tornasse muito difícil quando não atingimos ao aluno. Gosto muito quando você coloca que estudamos o patrimônio lá de Ouro Preto, mas não reconhecemos o que esta a nossa volta. Sempre falamos para os estudantes não adianta valorizar a casa do vizinho se eu não cuido da minha. Quando se apropriamos do que é nosso e compreendemos a importância, respeitamos o que é do próximo. Muitos colegas professores tem dificuldades de trabalhar com essa temática devido a série de entraves que são colocados. Um desse entraves é o tempo curto para conseguir vencer uma quantidade muito grande de conteúdos para poucas aulas. Mas no momento que eles compreendem os conceitos eles já começam a perceber suas cidade de forma diferente.
      Não sei se conseguimos responder ou contribuir um pouco. Obrigado por sua postagem.
      Jorge Luis de Medeiros Bezerra/ Antônio Guanacuy Alemeida Moura

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  2. Danila Gomes bom dia. Ótima sua observação. Ao meu ver a primeira coisa que os estudantes tem que compreender os conceitos. O que é um patrimônio cultural, sua simbologia, refletir porque determinados monumentos são imbuídos de significados. Um exemplo por que o monumento aos bandeirantes existe? Existem todo um interesse politico por de trás da constituição de um memória. Nossa memória foi construída a partir de alguns símbolos e nessa disputa pela memória alguns referencias ficaram de fora. Por que ficaram? Trabalhar primeiramente conceitos como memória, identidade, patrimônio material e imaterial é um passo e então começar essa desconstrução. Quando esses conceitos são discutidos e você trás para realidade deles eles começam compreender de forma mais ampla. Quando as referencias são cotidianas. Trabalhar a memória da infância e ensinar eles a dar importâncias as coisas mais próximas. Recentemente desenvolvemos uma projeto de ensino na nossa instituição. Trabalhamos os conceitos primeiramente. Depois dividimos os alunos em grupos e pedimos para que eles fotografassem patrimônios da cidade. Depois socializamos as pesquisas que alem das fotografias eles foram buscar relatos das histórias do monumentos. Os estudantes ficaram maravilhados com as histórias e falaram que não sabia que a cidade deles tão pequenas tinha tanta história e isso mudou totalmente o olhar deles com relação a cidade. Tem um fato curioso no nosso município. Em 1919 ocorreu uma chacina que ficou conhecida com chacina dos 9. Tem um monumento e uma praça com uma capela no local do fato. Os estuantes fotografaram e foram pesquisar e descobriram em muitos relatos que foram não 9 mas 10 pessoas, mas pelo fato de ser um negro ele não entrou na contagem. A partir dessa informação entraremos em outras discussões. Vamos buscar mais informações. O fato que esse detalhe nas narrativas nos dá outros olhares. Como por exemplo perceber o momento histórico daquele acontecimento e discutir o por que desse silenciamento quanto a um personagem. Quando damos sentido ao se estuda, quando tem significado e aplicação prática a aprendizagem tornasse mais prazerosa. Ensinar história tornasse muito difícil quando não atingimos ao aluno. Gosto muito quando você coloca que estudamos o patrimônio lá de Ouro Preto, mas não reconhecemos o que esta a nossa volta. Sempre falamos para os estudantes não adianta valorizar a casa do vizinho se eu não cuido da minha. Quando se apropriamos do que é nosso e compreendemos a importância, respeitamos o que é do próximo. Muitos colegas professores tem dificuldades de trabalhar com essa temática devido a série de entraves que são colocados. Um desse entraves é o tempo curto para conseguir vencer uma quantidade muito grande de conteúdos para poucas aulas. Mas no momento que eles compreendem os conceitos eles já começam a perceber suas cidade de forma diferente.
    Não sei se conseguimos responder ou contribuir um pouco. Obrigado por sua postagem.

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  3. Boa noite Jorge e Antônio.

    Concordo que primeiramente é preciso trabalhar conceitos. Melhor ainda se estes conceitos, no tocante ao patrimônio, forem ensinados e exemplificados com aquilo que faz parte do cotidiano do aluno, não é mesmo?

    Achei muito interessante o relato sobre o fato ocorrido em seu município, "a chacina dos 9". Quanta história há por trás de determinados acontecimentos e que ainda necessitam de pesquisa para que se desvelem novas "histórias" por trás de narrativas muitas vezes intencionalmente construídas, como vocês bem apontam. Que excelente iniciativa levar os alunos a desvendar essas "histórias", uma verdadeira construção do conhecimento. E como vocês mesmo colocam, uma questão puxa outra e assim o conhecimento vai se fazendo. Maravilhoso!

    Concordo também que, ensinar qualquer coisa é difícil quando não atinge o aluno, mas no caso da História essa dificuldade parece sempre maior, uma vez que os alunos já vêm pra sala de aula carregados de preconceito com relação à disciplina por acreditarem que a História trata de questões de uma temporalidade distante e que não influencia na realidade. Mas tenho esperanças de que com o tempo venceremos essas dificuldades.

    Adorei o feedback de vocês, muito obrigada mesmo por responder.
    Abraços.

    Danila Gomes Corrêa.

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    1. Obrigado você! Uma coisa que sempre colocamos nas nossa aulas e fazer eles (alunos) entender que a História é uma ciência que estuda o homem em seu tempo.

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  4. Prezados Jorge e Antônio, primeiramente parabéns pelo trabalho. Sabemos que dentro do mundo globalizado a preservação do Patrimônio torna-se fundamental para manter o mundo com suas diversidades, tendo cada grupo sua característica e sua história. Deste modo, vemos a importância da Educação Patrimonial no ambiente escolar. Sobre a importância da preservação patrimonial: que outras metodologias sugerem para realizarmos a inserção do patrimônio no currículo escolar?

    Willys Soares da Silva

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    1. Boa tarde, obrigado pelo comentário e pelo questionamento.
      O currículo escolar tem o papel de ser norteador de todo o processo educacional de uma escola, e driblar a cultura escolar de certas instituições não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de instituições particulares. Primeiro temos conhecer essa cultura inerente de cada instituição para avaliar quais medidas podem ser tomadas. Uma metodologia que vale ser feita são atividades multidisciplinares. Onde pode pode ser envolvidos os professores das mais diversas área do conhecimento. Trabalhar temas do patrimônio material, imaterial e natural. Projetos de pinturas e fotografias são possibilidades de trabalho, amostra de filmes. Fica como sugestão o documentário: Ser Tão Velho Cerrado. Esse documentário trabalha o impacto do agronegócio no cerrado ( patrimônio Natural) e nas comunidades tradicionais que habitam e vivem em harmonia nesse bioma.
      Abraços e obrigado,
      Jorge Luis de Medeiros Bezerra/Antonio Guanacuy Moura.

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  5. Boa tarde, obrigado pelo comentário e pelo questionamento.
    O currículo escolar tem o papel de ser norteador de todo o processo educacional de uma escola, e driblar a cultura escolar de certas instituições não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de instituições particulares. Primeiro temos conhecer essa cultura inerente de cada instituição para avaliar quais medidas podem ser tomadas. Uma metodologia que vale ser feita são atividades multidisciplinares. Onde pode pode ser envolvidos os professores das mais diversas área do conhecimento. Trabalhar temas do patrimônio material, imaterial e natural. Projetos de pinturas e fotografias são possibilidades de trabalho, amostra de filmes. Fica como sugestão o documentário: Ser Tão Velho Cerrado. Esse documentário trabalha o impacto do agronegócio no cerrado ( patrimônio Natural) e nas comunidades tradicionais que habitam e vivem em harmonia nesse bioma.

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