EDUCAÇÃO HISTÓRICA
E DIDÁTICA DA HISTÓRIA: PROPOSTAS DE RENOVAÇÃO EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA
DENTRO DO ENSINO
O presente
trabalho tem por objetivo traçar um panorama sobre os distanciamentos e as
aproximações entre dois campos investigativos sobre o saber histórico e a
relação ensino aprendizagem, sendo esses dois campos, a Didática da História e
a Educação Histórica. Ainda que num primeiro momento essas vertentes
representem matrizes de pensamento comum, cada uma tem suas particularidades em
suas propostas de investigação. Ambas as correntes sustentadas a partir do
pensamento de Jörn Rüsen, buscam caminhos diferentes de resgatar a função de
orientação para a vida prática que o pensamento histórico é tributário desde
suas raízes na antiguidade. Para esse autor, todos os seres necessitam se
orientar historicamente, e conscientemente, ou não fazem uso da história em seu
cotidiano. Dessa forma busca-se traçar um panorama do surgimento das duas
correntes e de como as diferentes propostas (oriundas de contextos
histórico-educacionais diferentes) se consolidam como propostas renovadoras para
o ensino da História. A partir das discussões teóricas levantadas por aqueles
que debatem o tema, torna-se compreensível que as duas correntes, por caminhos
distintos, contribuem para uma renovação do ensino de história a partir de sua
própria epistemologia. Sendo assim, ambas se preocupam com o desenvolvimento da
consciência histórica e o pensamento histórico da sociedade.
Introdução
O
desenvolvimento das pesquisas sobre o ensino da História ganhou contornos
significativos com o avanço de pesquisas e da contribuição teórica advinda dos
estudos sobre Didática da História (Geschichtsdidaktik
de matriz alemã) e Educação Histórica (History
Education de matriz anglo-saxônica). Pensar as contribuições e a
particularidade teórica de cada uma das correntes e consequentemente sua
incorporação na realidade educacional brasileira a partir de tais campos é o
objetivo desta discussão.
Todavia,
é necessário antes de categorizar cada matriz de pensamento, recuperar o
contexto histórico de produção de tais teorias sobre o saber histórico: a
didática da História de matriz alemã teve início no final da década de 1960.
Tal discussão surge a partir da necessidade da sociedade alemã balizar-se
temporalmente no pós-guerra.
Havia
uma carência temporal muito grande na sociedade e um conflito de gerações sobre
o ocorrido na guerra, principalmente nas questões que se referem ao holocausto.
Assim, num primeiro momento, houve o esquecimento, ou seja, uma recusa em abordar
e trazer à tona tais acontecimentos, tornando-se assim uma história difícil de
ser trabalhada. Tal quebra na experiência histórica temporal dos alemães gerou
uma carência e novos desafios de se elaborar projetos de ensino da história que
contemplassem a particularidade do caso alemão.
Desse
próprio contexto que era marcado pelo sentimento de culpa e embate de gerações
surge a necessidade de se rediscutir o passado, tendo como lastro, o ensino da
história e sua função didática que deveria fazer sentido para a vida prática,
contemplando uma formação emancipadora, pois, ainda era lecionada nos marcos da
construção de uma identidade nacional, que culminou nos nacionalismos e na
Segunda Guerra Mundial.
Dessa
forma, os pensadores que gravitavam em torno da discussão da Didática da
História (Jörn Rüsen, Klaus Bergman, Karl Ernst Jeismann, etc.) começaram a
pensar em uma reformulação das implicações didáticas do pensamento histórico a
partir da própria ciência de referência. Para tal corrente de pensamento, a
história precisava recuperar sua dimensão magistra
vitae, sendo indissociavelmente interligada às questões da vida prática do
agente histórico. É justamente a partir desse contexto histórico situado na
Alemanha do pós-guerra de que:
“Um
conjunto de historiadores foi impulsionado a se debruçar sobre a ciência
histórica, tanto visando suprir o seu déficit teórico, quanto demonstrar a
relevância da história para a vida humana” (SADDI, 2014, p. 137).
A
Didática da História esboçada pelos teóricos alemães, se consolidou para além
das representações formais de ensino do conhecimento histórico que transpõe tal
barreira e passa a questionar a apreensão do pensamento histórico em outros
espaços (tais como os usos públicos e a própria historiografia). Em síntese, a
“Didática da História não lida simplesmente com a educação ou com o ensino, mas
com o modo como as representações sobre o passado produzem compreensões do
presente e projeções de futuro” (SADDI, 2010, p. 75).
Desse
modo, se constitui historicamente e consolida na Alemanha a perspectiva de uma
matriz disciplinar que tem por objetivo investigar a aprendizagem da
consciência histórica da sociedade, mas antes de aprofundar em seus aspectos
teóricos, é preciso lucidar também as condições originárias de produção da
Educação Histórica de origem anglo-saxã. Para a partir disso delinear as
matrizes e balizas teóricas que ambas se fundamentam.
A
educação histórica surge também de um contexto de crise educacional na
Grã-Bretanha. As reformulações curriculares ocorridas na década de 1970,
colocaram a disciplina histórica em segundo plano, tornando-a disciplina
optativa. Atentando para a baixa procura dos alunos pela disciplina um grupo de
estudiosos, trabalhou no desenvolvimento de investigação que contemplasse quais
seriam os motivos dessa crise de procura pelo saber histórico.
A
princípio, foram investigadas as ideias que os alunos tinham sobre o
conhecimento histórico, ou seja, partiam dos pressupostos e do conhecimento dos
próprios alunos. As pesquisas apontaram que a história ensinada, era muitas
vezes sem sentido para a vida dos alunos, com uma apresentação de conteúdos maçantes
e de memorizações de datas, o que muitas vezes não produzia sentido na vida
cotidiana dos alunos. Por isso, compreendendo a disciplina histórica enquanto
conhecimento vivo Isabel Barca (2012, p. 40) afirma que a história “com as suas
teorias, métodos e formas alimenta-se dos interesses e funções da vida prática,
sendo desejável que esta seja, por sua vez, por ela alimentada de forma
consistente”.
Nessa
perspectiva, partiu da realidade dos alunos para se compreender como eles
concebiam a história e as ideias que tinham sobre conhecimentos históricos. Ou
seja, a corrente iniciada por autores como Peter Lee, Rosalyn Ashby (entre
outros), visava compreender como os estudantes raciocinavam historicamente. Direcionando
a partir disso, métodos situados em torno da cognição histórica dos alunos.
Assim, as duas correntes se consolidam enquanto campo de pesquisas, que para
além de somente fornecer levantamento de dados e estatísticas, preocupavam-se
em formular uma práxis que atuasse
efetivamente dentro no quadro da aprendizagem histórica, consolidando-se também
como propostas inovadoras dentro do ensino.
Perspectivas
teóricas: encontros e desencontros
Durante
o século XIX ocorreu um processo de cientificização das áreas de conhecimento:
as ciências naturais delimitavam suas discussões em volta da delimitação da
objetividade; nas
ciências humanas, algumas correntes buscavam os mesmos intuitos e objetivos, e
os historiadores não ficam à par dessas discussões.
Centrada
unicamente em seu processo de cientificização, a História (ou o corpo
profissional de historiadores) preocupa-se em erigir um método que padronize a
escrita da história e lhe conceda um “padrão” de ciência especializada. O manejo
das fontes, (crítica externa e interna de documentos, e tantas outras
delimitações, impulsionadas principalmente pelas escolas positivista francesa e
pelo historicismo alemão) conduziram a disciplina histórica ao patamar de
ciência que trabalhava com os fatos passados.
Ocorre
dessa maneira um processo que culmina no distanciamento da prática histórica e
a sociedade. Essa separação entre teoria e prática na sociedade, precisava ser
resolvida, e é justamente a partir das discussões oriundas em torno da Didática
da História, passou-se a pensar que:
“Enquanto
a teoria da história analisa a práxis historiográfica visando fundamentar sua
racionalidade, a didática da história a analisa buscando compreender os
pressupostos didáticos dessa práxis.
A investigação da didática da história sobre a práxis historiográfica
transforma assim a percepção do historiador. A ciência histórica precisa
prestar contas de seus vínculos com o mundo social e com os interesses e
demandas que ela sustenta” (SADDI, 2010, p. 219).
Todo
esse processo pelo qual passa a produção do conhecimento em história resulta em
um processo ambíguo: se por um lado a disciplina se consolida na pesquisa nas
cátedras das academias, acaba afastando a história científica do público em
geral. Assim, não se encontrava mais conexão entre a história e a vida concreta
ou sua utilidade para o cotidiano social. Como confirma Rüsen (2006, p. 8):
“Durante
o século XIX, quando os historiadores definiram sua disciplina, eles começaram
a perder de vista um importante princípio, a saber, que a história é enraizada
nas necessidades sociais para orientar a vida dentro da estrutura tempo”.
A
partir desse contexto teórico se origina os debates acerca da função didática
da história. É nesse sentido que a didática da História passa a pensar o
vínculo entre a história produzida cientificamente e sua relação com a
sociedade que não era pensada de forma mecanizada, de mera transposição do
conteúdo científico produzido nas universidades para “recipientes vazios”, na
maioria das vezes, os alunos.
Saddi
(2010; 2014) compreende a didática da história como uma sub-disciplina da
própria ciência histórica, tal como a teoria da história e também a pesquisa historiográfica,
compreendendo as três numa totalidade formando assim a ciência histórica. A
didática da história investiga a aprendizagem da consciência histórica na
sociedade, pautada a partir da própria ciência de referência. Nesse sentido, Jörn
Rüsen toma como pressuposto básico que a didática da história é investigar o
aprendizado histórico:
“O
aprendizado histórico é uma das dimensões e manifestações da consciência
histórica. É o processo fundamental de socialização e individualização humana e
forma o núcleo de todas estas operações. A questão básica é como o passado é
experienciado e interpretado de modo a compreender o presente e antecipar o
futuro [...]. Assim concebida, a didática da história ou ciência do aprendizado
histórico pode demonstrar ao historiador profissional as conexões internas
entre história, vida prática e aprendizado” (RÜSEN, 2006, p. 16).
Um
aspecto a ser citado é que as investigações da didática da história se subdividem
em três áreas. A primeira investiga a aprendizagem no ambiente escolar. A
segunda vai além do ambiente escolar, investigando os usos da história em
espaços públicos, como meios de comunicação de massa, museus, cinema, redes
sociais, espaços em que o conhecimento histórico também pode ser formado, o uso
público da história. Por último a terceira área de investigação se concentra na
produção científica do conhecimento histórico, ou seja, na própria
historiografia.
Delimita
assim o campo de investigação que a didática da História abrange, enquanto a
educação histórica constrói seu arcabouço metodológico a partir das ideias
históricas dos alunos direcionando suas investigações diretamente ao ambiente
escolar. De certa forma, tenta-se encontrar um paralelo entre o pensamento
histórico da ciência histórica e o pensamento histórico dos estudantes. Ronaldo
Cardoso Alves, (2013, p. 61) descreve que a educação histórica contribui para
“uma formação histórica que compreenda os estudantes não como depositários de
conteúdos factuais”, mas revela que possuem “habilidades e competências que os
farão enfrentar, crítica e autonomamente, os desafios do mundo contemporâneo”.
É
justamente a partir dos problemas levantados e da realidade dos alunos que se
constrói toda uma gama de estratégias para se pensar um ensino que contemple
uma dimensão humanista e emancipadora, desvencilhado de amarras ultrapassadas. É
uma espécie de junção entre teoria e prática, pensada a partir da realidade do
ensino de história, na qual metodologias de aprendizagem são desenvolvidas para
um melhor desenvolvimento do raciocínio histórico. Peter Lee, delineia os aspectos
do conhecimento histórico pautado em tal metodologia onde:
“O
conhecimento escolar do passado e atividades estimulantes em sala de aula são
inúteis se estiverem voltadas somente à execução de ideias de nível muito
elementar, como que tipo de conhecimento é a história, e estão simplesmente
condenadas a falhar se não tomarem como referência os pré-conceitos que os
alunos trazem para suas aulas de história” (LEE, 2006, p. 136).
A
finalidade seria capacitar os alunos para pensar historicamente, pautados nos
princípios da ciência histórica. Talvez esse seja um ponto de ligação entre as
duas correntes aqui discutidas, em utilizar os pressupostos da ciência
histórica na construção de seus trajetos metodológicos. Partindo, portanto, das
ideias previas dos estudantes, é direcionado o estudo da cognição histórica.
Como
metodologia a educação histórica constrói uma junção entre conceitos
substantivos (fatos históricos concretos) e conceitos de segunda ordem baseados
na própria epistemologia da ciência histórica tais como evidência histórica,
multiperspectividade, narrativa histórica e outros. Visando uma progressão na
compreensão e na forma de pensar histórica do indivíduo. Saddi (2010, p. 63)
sintetiza da seguinte forma a metodologia da educação histórica:
“Ao
colocar como central a compreensão das ideias históricas dos alunos e
professores, a metodologia da Educação Histórica se volta para o acúmulo
teórico e epistemológico da Ciência Histórica, visando pensar o ensino de
História a partir das elaborações próprias do pensamento histórico”.
Assim,
uma série de metodologias foram incorporadas ao ensino não só na Grã-Bretanha,
mas iniciadas lá e que contribuem efetivamente para propostas de renovação do
ensino de história. Um exemplo são as aulas oficinas desenvolvidas pela
professora e pesquisadora na área Isabel Barca, que dá seguimento às discussões
propostas no contexto anglo saxão construindo uma metodologia inovadora de
pesquisa e ensino. Para Isabel Barca (2012, p. 37) as pesquisas em educação
histórica nascem justamente da necessidade de;
“Ligar
a teoria à prática, isto é, não apresentar apenas propostas prescritivas não
testadas em estudos empíricos, mas sim criar, implementar e analisar situações
de aprendizagem reais, em contextos concretos, e disseminar resultados que
possam ser ajustados a outros ambientes educativos”.
Como
podemos perceber, os dois campos se consolidam na pesquisa e também dentro do
ensino, com propósitos muito semelhantes e originários de contextos no qual a
história requer uma renovação em seus preceitos e métodos. As duas matrizes
teóricas, se consolidam como propostas de renovação no quadro de ensino.
Acompanhando
a realidade brasileira, nota-se que a mesma também está imersa em um cenário de
desafios que se colocam no ensino das humanidades. As diversas reformas e
também, o avanço do campo conservador na política, colocam o ensino de História
a repensar suas bases metodológicas. Logo o processo educacional ainda se situa
como referência para o enfoque da problemática da aprendizagem histórica:
“Todo
conhecimento acerca do que seja a aprendizagem histórica requer o conhecimento
do que seja a história, daquilo que consiste a especificidade do pensamento
histórico e da forma científica em que se expressa. No cerne da questão está a
capacidade de pensar historicamente, a ser desenvolvida nos processos de educação
e formação” (RÜSEN, 2016, p. 248).
As
incorporações dos dois campos, deve ser pensado também na realidade educacional
brasileira. Há diversos centros de pesquisa em torno dos referenciais teóricos
tanto da educação histórica, quando da didática da história. Tomando em conta
que há uma particularidade na realidade educacional brasileira, busca-se
compreender, por meio de uma chave analítica inovadora, propostas de ensino que
também se efetuem na prática enquanto diferentes. O desafio está posto, nos resta
incorporar tais práticas dentro do cotidiano escolar, ousando mudar a realidade
do ensino de história.
Considerações
finais
Objetivou-se
nesse trabalho traçar um paralelo entre duas correntes teóricas: Didática da
História (Geschichtsdidaktik) e Educação
Histórica (History Education), cada
uma a sua maneira inauguram um novo capítulo para se pensar, pesquisar e
praticar o ensino da história. Ambas colaboram com uma nova forma de contemplar
a história, como algo inerente à pratica humana, corroborando a ideia de que o
homem
“Com
um conhecimento da história estará melhor situado não mais do que um homem
carente desse conhecimento, mas do que ele próprio estaria se não tivesse esse
conhecimento” (LEE, 2011, p. 37).
Definindo
de forma sintética as balizas de cada corrente, compreende-se que;
“De
um lado, a Didática da História alemã parte da racionalidade histórica,
estruturada principalmente no espaço escolar, que relaciona a História às
necessidades da vida cotidiana com a finalidade de construir consciência
histórica. Do outro lado, a Educação Histórica anglo-saxã, toma a vivência
escolar como ponto de partida para a construção do conhecimento histórico,
mediada por uma reflexão epistemológica construtora de metodologias que dotem
alunos e professores de habilidades e competências históricas que os façam ler
e agir no mundo que os cerca” (ALVES, 2013, p. 60).
Ainda
que no primeiro momento as duas vertentes teóricas representem a mesma
discussão, percebe-se, que tomando a particularidade de cada linha teórica as
metodologias de pesquisa se diferem. A didática da história, parte da matriz
teórica rüseniana, e de teóricos oriundos do momento temporal alemão, o que
levou a uma renovação sobre discussões da próprio corpus teórico-epistemológico
da história. A educação histórica parte de discussões acerca do cotidiano
escolar da história ensinada, incorporando a
posteriori tais referenciais que também fundamentam e solidificam suas
discussões.
O
ponto em que essas propostas de campos teóricos assentam suas bases definitivas
é o da consciência histórica, compreendendo-a como um conjunto de operações
mentais, com as quais os agentes históricos interpretam um determinado passado,
dotando essas interpretações de sentido presente, que oriente as ações futuras.
É justamente a aprendizagem de tal consciência e de como pensar historicamente
de maneira autônoma que as pesquisas das duas correntes teóricas apontam seus
caminhos.
Tendo
claramente as balizas de cada campo, é de suma importância ressaltar, que os
dois campos transpõem fronteiras, dialogando e contribuindo efetivamente para
renovações nas discussões e nos pressupostos teóricos. Em suma, há uma
valorização da história como guia prático para a vida cotidiana, rompendo com
esse desligamento que, sem intenção, ocorreu durante a profissionalização do
ofício de historiador. Constrói-se então uma renovação epistemológica capaz de
situar o agente histórico no tempo, corroborando com a utilidade desse
conhecimento para a vida em sociedade.
REFERÊNCIAS
Flávio
José Dalazona é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História–
UNICENTRO/Campus Irati.
Heitor
Alexandre Trevisani Lipinsk é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em
Educação – UNICENTRO.
ALVES,
R. C. História e vida: o encontro epistemológico entre didática da história e
educação histórica. História &
Ensino, Londrina, v. 19, n. 1, p. 49-69, jan./jun. 2013.
BARCA,
Isabel. Ideias chave para a educação histórica: uma busca de (inter) identidades.
Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p.
37-51, jan./jun. 2012.
LEE,
Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. Educar, Curitiba, Especial, p. 131-150, 2006.
LEE,
Peter. Por que aprender história. Educar
em Revista. Curitiba, n. 42, p. 19-42, out/dez. 2011.
RÜSEN,
Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso
alemão. Práxis Educativa, Ponta
Grossa – PR. v.1, n.2, 2006.
RÜSEN,
Jörn. Teoria da História: uma teoria da
história como ciência. Curitiba: Editora UFPR, 2015.
SADDI,
Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência histórica. História & Ensino, Londrina, v.16,
n.1, p.61-80, 2010.
SADDI,
Rafael. Didática da história na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o
ambiente de surgimento da neu
geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história
no Brasil. OPSIS, Catalão-GO, v. 14,
n. 2, p. 133-147 - jul./dez. 2014.
SADDI,
RAFAEL. O parafuso da didática da História: o objeto de pesquisa e o campo de
investigação de uma didática da história ampliada. Acta Scientiarum. Education,
v.34, n.2, p. 211-220, Maringá, 2010.
Professor, parabéns pelo texto. Provoca mesmo muitas reflexões.
ResponderExcluirObservando o processo de discussão acerca do ensino de História, pergunto: Como a Educação Histórica pode se diferir do ensino tradicional e tornar o ensino da disciplina mais significativo?
Obrigado
Paulo Roberto de Freitas
Olá Paulo! Pode-se dizer que o campo da educação histórica no Brasil, ainda é incipiente (Diferente de países como Portugal e Inglaterra). O que se tem amplitude são as pesquisas e algumas experiências de práticas de ensino. Concebe-se que a trajetória do ensino de História no Brasil é marcada pelo tradicionalismo desde seus marcos institucionais no século XIX. Contudo, a educação histórica enquanto um campo teórico-metodológico, situa-se justamente em um processo de renovação do ensino, pautado nas bases epistemológicas da própria ciência histórica. Tal processo visa, capacitar o aluno de pensar historicamente, progressivamente, pautada nos princípios que norteiam e fundamentam a própria prática historiográfica. Para citar mais referencialmente expomos o pensamento de dois autores específicos da questão. Vou tomar outras vozes para que minha resposta seja coerente. Primeiro, para que uma educação histórica seja realizada na prática é necessário que se conheça o mundo conceitual do aluno, porque segundo Peter Lee (2005) só se pode mudar conscientemente aquilo que se conhece. Isabel Barca complementa esse pensamento dizendo que é preciso desenvolver, no campo da aprendizagem situada a compreensão epistemológica dos procedimentos investigativos, pois precisa considerar o pensamento histórico nos diversos níveis. Isso “implica uma especial atenção às ideias de ‘segunda ordem’ [...] para sinalizar noções que estão imersas na compreensão da história substantiva e que tecem a natureza deste saber específico” (BARCA,2018). Em síntese a educação histórica, pode ser implantada na prática de ensino, situando, sujeitos históricos integrantes nessa prática (alunos e também professores) como indivíduos que contribuem para a efetivação da construção do conhecimento histórico, significando-o em sua prática diária. Não sendo apenas receptores da prática científica metodologicamente regulada, e sim tendo um papel efetivo na construção do conhecimento histórico. Esperamos ter sanado suas dúvidas Paulo!
ExcluirAtt Flávio e Heitor.
Gostaria de parabenizá-lo pelo excelente texto! Sendo acadêmica do curso de História e desenvolvendo pesquisas na área do ensino de História, tive algumas dúvidas a respeito da diferenciação de ambas as correntes, que foram melhor esclarecidas em seu texto. Acredito que a maior relevância tanto da Didática da História como da Educação História esteja em tornar (no caso da História escolar) a História relevante no sentido prático da vida dos estudantes. Gostaria de sanar uma dúvida a respeito do conceito de aprendizagem histórica, pois tenho receio de estar equivocada. Para Rüsen, o aprendizado histórico ocorre quando há a possibilidade de orientação temporal na vida prática a partir dos próprios procedimentos utilizados na produção historiográfica (como por exemplo a interpretação)?
ResponderExcluirGrata
Mariana de Sá Gaspar
Olá Mariana! Suas bases teóricas estão bem fundamentadas, e é nesse sentido que se opera os marcos da aprendizagem histórica. Talvez o que paute as premissas das concepções de Rüsen é estabelecer conexões entre as três dimensões do tempo: Passado, Presente e Futuro. Experiência, interpretação e orientação são processos que habilitam o sujeito para lidar conscientemente com os desafios que são lhe postos cotidianamente. Pode-se dizer que a carência interpretativa e de orientação humana são uma constante antropológica. Dessa forma a busca para essa interpretação (presente) se faz através da experiência (passado) de modo a orientar uma determinada ação (futuro) historicamente situada. É nesse marco que se estabelece a aprendizagem histórica, quando o sujeito consegue operar uma síntese mental através das três dimensões temporais. Porém no final da sua fala, concernente à questão de uma orientação pautada na historiografia, creio eu que tal assertiva precisa ser melhor trabalhada. A aprendizagem histórica é pautada sim na historiografia. Porém, como expresso no campo da didática da história, a aprendizagem vai para além da ciência e prática historiográfica, além mesmo até dos marcos institucionais do ensino. Pode-se citar os espaços públicos como museus, as mídias, jogos de vídeo game etc. que produzem também uma determinada orientação histórica. Contudo, não se deve contentar em mapear tais construções mentais históricas sobre esses espaços, e sim inferir em uma prática, onde pautada na ciência histórica e na teoria da histórica capacite o sujeito de pensar historicamente. Esperamos ter sanado suas dúvidas.
ExcluirAtt Flávio e Heitor
Embora não discutido em seu texto, tenho mais uma dúvida a respeito do pensamento de Rüsen, caso o autor possa me ajudar a compreender: como a identidade é importante em relação às comparações ou construções de narrativas históricas?
ResponderExcluirGrata
Mariana de Sá Gaspar
Olá Mariana, vamos lá então. Creio que para o Rüsen, a questão da identidade está atrelada ao próprio processo da consciência histórica. Caso queira ler está no livro Razão Histórica: teoria da História: fundamentos da ciência histórica. O autor sintetiza que: “A constituição da identidade efetiva-se, pois, numa luta contínua por reconhecimento entre indivíduos, grupos, sociedades, culturas, que não podem dizer quem ou o que são, sem ter de dizer, ao mesmo tempo, quem ou o que são os outros com os quais têm a ver. Porque isso é assim e porque as histórias são também atribuições de identidade [...]. Elas têm de ser narradas de tal forma que as dúvidas que surgem na luta pelo reconhecimento não cheguem a ser formuladas ou pelo menos venham logo a ser resolvidas pelas histórias no movimento de sua narrativa” (RÜSEN, 2010, p. 87). Logo a narrativa histórica, colocada em questão por você, contribui para o processo de reconhecimento do mesmo e afirmação do seu processo indenitário. Para tal, a narrativa histórica precisa fazer sentido ao sujeito que dela se assenhora. Espero ter sanado suas dúvidas.
ResponderExcluirAtt Flávio e Heitor.
Boa noite, Flávio e Heitor!
ResponderExcluirAchei muito interessante o seu texto, principalmente por ser aluna do mestrado em ensino de história e me deparar diariamente com essas questões acerca da consciência histórica e aprendizagem histórica. Infelizmente muitos cursos de graduação em história deixam de lado a parte de ensino, tornando uma deficiência na formação do professor de história. Essa deficiência muitas vezes acaba sendo refletida em sua sala de aula, pois muitos dos nossos alunos não veem relação alguma dos conteúdos de história e sua vida real. Rüsen me abriu muito a mente sobre isso, em relacionar os assuntos estudados pelos alunos e sua vida prática. Você citou Peter Lee, nesse caso, podemos dizer que a educação histórica se encaixaria na Literacia Histórica abordada por tal autor?
Att,
Fernanda Andrade Silva
Olá Fernanda boa tarde! Poderia-se dizer que o conceito de literacia histórica é por conseguinte, um dos conceitos chaves da matriz teórica da educação histórica. Infelizmente não conseguimos abordar durante a discussão devido a estrutura do texto. Compreende-se que o conceito de literacia estaria diretamente pautado a partir de um "letramento" em história. O termo literacia traduzido do português (Portugal) para o português (brasileiro) remeteria à um aprimoramento desse conceito destinado ao termo letramento. Sendo assim, o que se pauta a partir desse conceito, advindo de teóricos da educação histórica (principalmente Isabel Barca e Peter Lee) é que deveria em síntese ocorrer um processo de letramento em história, em um processo em que, os próprios alunos poderiam pensar historicamente a partir dos princípios do pensar e produzir história de maneira mais elaborada teoricamente. Esperamos ter sanado suas dúvidas no tocante à questão.
ExcluirAtt Flávio e Heitor
Parabéns ao autores pelo ótimo texto!
ResponderExcluirEm certo momento do texto vocês afirmam "É justamente a aprendizagem de tal consciência e de como pensar historicamente de maneira autônoma que as pesquisas das duas correntes teóricas apontam seus caminhos". Como entender este processo de aprendizagem a partir de Rusen se na própria teoria do autor a consciência histórica é inerente ao humano(logo seria impossível um ser sem consciência histórica ou pouco consciente) e as tipologias elaboradas são meramente recursos para melhor entendimento, onde os tipos de consciências não são hierárquicos e nem progressivos, e se encontrando no mundo prático todas misturadas? Partindo destes pressupostos (inerência, não hierárquica e simultânea) não teríamos como aferir se o sujeito desenvolveu uma consciência de tipo genética.A priore todos nós temos a consciência histórica, todos nós produzimos todos os sentidos (tradicional,exemplar,crítico e genético).
Não sei se me fiz entender, mas COMO AVALIAR UMA PROGRESSÃO DA APRENDIZAGEM PARA ALGO QUE NÃO É CLASSIFICÁVEL?
Cláudio Correia de Oliveira Neto
Olá Claudio! Então, não sei se saberíamos lhe responder pautados principalmente na teoria da história sobre Jörn Rüsen. Porém, podemos fazer algumas assertivas sobre o tema, a partir é claro de conhecimentos iniciais sobre a teoria da consciência histórica que temos, ressaltando que podemos estar equivocados, nos perdoe se for o caso. Partindo da concepção que a consciência histórica um construto mental, onde os seres em sociedade usam para organizar suas relações com o tempo. O que se concebe é que mediante o processo de narrativa, sendo o mesmo a materialização do conhecimento histórico, é que se poderia mediar as diferentes constituições de sentido que os seres atribuem às suas significações de sentido sobre determinado processo temporal. Então seria a partir dos conceitos produzidos e utilizados pelos sujeitos que se poderia localizar, mapear e esquadrinhar conceitos utilizados pelos agentes históricos que os classificaria em determinado saber histórico específico. Obviamente, nossas assertivas podem não estar completamente corretas, se for assim esperamos que nos desculpe por tal conhecimento insuficiente. Mas de qualquer forma, esperamos ter dado uma nova contribuição acerca do debate e suscitar diferentes problemáticas.
ExcluirAtt Flávio e Heitor
Obrigado pela resposta. Pensar como operar em sala de aula a partir de Rüsen é complexo mesmo. Mas estes esforços e diálogos no caminho são produtivas.
ExcluirContinuando as colocações, mas agora de outra ordem. Vocês caracterizaram muito bem a Didática da História e a Educação Histórica, todavia não me parece claro qual a principal diferença entre elas.
ResponderExcluirÉ possível a construção de uma 3ª via que reúna a didática e a educação?
O trabalho de vocês deixa claro que estes dois movimentos são frutos de sues contextos de criação. Não seria um problema usar estas teorias para contextos distintos do original, não seriam ideias fora do lugar para o Brasil?
Por fim, não seria preferível uma elaboração de uma didática da história brasileira, construída a parte de nossa própria carência de orientação temporal?
Cláudio Correia de Oliveira Neto.
Olá Cláudio, agradecemos suas pontuações acerca do nosso texto. Entendemos claramente que uma mera transposição de tais ideais para a realidade brasileira não bastaria para dar conta da particularidade que é o ensino de história no Brasil. Pois " Tomando em conta que há uma particularidade na realidade educacional brasileira, busca-se compreender, por meio de uma chave analítica inovadora, propostas de ensino que também se efetuem na prática enquanto diferentes".Entende-se que é a partir da realidade brasileira que deve-se empreender uma renovação epistemológica e metodológica do ensino pautado no princípios das seguintes correntes. Acho meio precipitado criar uma assertiva de 3° via, pois ainda é cedo o próprio desenvolvimento das incorporações das pesquisas em cenário brasileiro. Isso é o que compreendemos como jovens pesquisadores acerca de tais correntes. Esperamos ter sanado suas dúvidas!
ExcluirAtt Flávio e Heitor
Obrigado. Concordo. Mas como então avançar ou desenvolver a área?
ExcluirOlá, então creio eu que as atividades e discussões teóricas, apontadas para pensar o desafio de uma história que produza sentido às ações cotidianas dos sujeitos, tanto na área dita científica (academia) com suas produções teóricas, e também nos desenvolvimentos práticos no espaço escolar. Creio que as propostas se sustentam por si só a partir de seus pressupostos, o que temos são desafios de avançar tanto no processo contínuo da pesquisa e autorreflexão do conhecimento histórico, quanto no desenvolvimento de práticas na atividade docente enquanto professores de história.
ExcluirCaros Professores, é possível pensar numa Didática da História sem pensar no professor como pesquisador, rompendo com a dicotomia entre pesquisa e docência na História?
ResponderExcluirAbraço
José Alexandre Gomes de Freitas Morais
Olá José! Então, cremos que a didática da história precisa ser norteada a partir da própria teoria da história. Seria necessário pensar em uma práxis de ensino que construísse uma prática de ensino pautada nos princípios epistemológicos da própria ciência da história. Contudo, concebe-se que o ambiente escolar é marcada por muitas ambiguidades e também contradições, no tocante às próprias condições do professor em sala de aula, nos mais variados contextos do cenário educacional brasileiro, sendo a precarização do trabalho docente, talvez a mais decisiva delas. De fato é difícil para professores darem conta de executar seu processo de ensino e ainda pesquisarem. Porém é uma realidade que precisa ser pensada por diferentes flancos: numa capacitação dos próprios professores e de melhores condições onde se possa pensar uma prática docente mais livre e mais emancipada, para o próprio docente em sala de aula. Esperamos poder ter sanado suas dúvidas.
ResponderExcluirAtt Flávio e Heitor