Milena Rodrigues de Oliveira e Paula Jociane Maia dos Santos


CURTINDO UM CURTA E APRENDENDO PATRIMÔNIO CULTURAL


O presente texto reflete de forma mais específica, a experiência vivenciada na Escola de Ensino Médio Lauro Rebouças, no município cearense de Limoeiro do Norte, 200 km da capital Fortaleza, no final de 2018, quando foi colocado em prática o projeto intitulado “Curtindo um curta”. Este teve como principal pilar o tema Educação Patrimonial a partir do olhar das produções de audiovisuais já produzidas e presentes no espaço das redes sociais, como o Youtube. O projeto e planejamento foi realizado pelo grupo de alunos do curso de Licenciatura Plena em História da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM, também localizada em Limoeiro do Norte-Ce.

A disciplina de Ação Educativa Patrimonial, teve como ponto principal trabalhar a cultura material e imaterial presentes na sociedade, com uma percepção acerca da preservação daquilo que os pertence e educando o olhar para perceber a importância de salvaguardar elementos que podem se perder no tempo, como práticas seculares de um determinado povo, espaços construídos pelo o homem de uma época passada que guardam uma simbologia de uma sociedade, além de paisagens naturais que podem conter aspectos caracterizadores de um dado grupo.

A disciplina efetuou-se em dois espaços, ou seja, estudos e planejamentos com a professora na faculdade, e em dias alternados os graduandos se deslocavam até a Escola de Ensino Médio. Dessa forma, a cada encontro com os alunos os estagiários iam realizando indagações e incentivando-os a um olhar mais crítico para com suas comunidades e bairros, percebendo o quê, para eles, seriam considerado patrimônio. Objetivou-se com isso, que os alunos sob orientação dos estagiários produzissem um curta metragem sobre patrimônio. Ao final dos encontros do projeto, o curta metragem foi produzido a partir do material (fotografias e pequenos vídeos) colhido pelos alunos da escola em um passeio realizado em alguns patrimônios no centro de Limoeiro do Norte. No entanto,o que seguimos a sintetizar nesse texto são os usos dos curtas metragens como instrumento didático nos nossos encontros com os alunos da escola.

Passamos a relatar o desenvolvimento das atividades:No primeiro contato com os alunos da Escola os estagiários tentaram estabelecer um diálogo mais descontraído, perguntando seus nomes, apresentando e explicando-os objetivos principais do projeto, sempre os indagando se eles concordavam com as ideias, ou se possuíam alguma sugestão, ou seja, entendeu-se que o processo de ensino-aprendizagem é uma construção em conjunto, não podendo ser algo imposto, dado. Foi também nesse encontro que se aplicou um questionário oral, buscando identificar se os alunos da Escola já tiveram algum contato com curtas metragens, e se eles compreendiam ser possível estudar História através desses recursos cinematográficos.

A partir dessas primeiras impressões reproduzimos o audiovisual “As aventuras de Pedro: o que é patrimônio”. Com duração de 1 minuto e 16 segundos e publicado em 17 de novembro de 2015, o vídeo é construído de maneira que proporciona uma fácil compreensão, pois ele faz parte de uma série do projeto “Preserve sua História” em que se busca educar crianças sobre a necessidade de preservar o patrimônio histórico. O curta metragem conta a história sobre uma ida de Pedro e sua mãe ao mercado em que se deparam no decorrer do caminho com uma placa escrita com a frase “patrimônio público”, e a partir daí o menino indaga sua mãe sobre o que é patrimônio, e em seguida sobre o que é patrimônio público. Então, a mãe do garoto respondendo às perguntas explica rapidamente e de forma bem simplificada sobre o que seria o patrimônio e patrimônio público.

Tendo em vista o desconhecimento em relação ao nível de entendimento dos alunos para os quais iria ser reproduzido o vídeo, optou-se por este por ser uma produção curta e de linguagem simples que poderia chamar mais a atenção do público em questão sem deixá-los fatigados. A partir da exibição desse material iniciamos os debates a respeito do que seria patrimônio, buscando perceber se os alunos já tinham algum conhecimento prévio sobre esse conceito e quais eram os conhecimentos que eles tinham em relação a isso. Dessa forma, percebeu-se que alguns alunos, mesmo que de forma simples e superficial, possuíam um certo entendimento acerca do assunto, com isso, naquele momento, houve uma contribuição proporcionada a eles para melhor compreender sobre patrimônio.

Em seguida, foi utilizado uma fotografia do prédio do Museu Nacional que anteriormente foi residência da família real, nela era possível observar principalmente a fachada. Assim a imagem foi utilizada com o intuito de representar para os alunos da escola um exemplo de patrimônio material, possibilitando uma conversa com eles que direcionou-se aos conceitos de memória e identidade.

Em outro encontro foi utilizadoo vídeo “Casarão das Artes” contendo 6 minutos e 46 segundos de duração e publicado em 29 de abril de 2016. Esse material discorre sobre o projeto Casarão das Artes desenvolvido em Arneiroz - CE, uma cidade pequena localizada na região dos Inhamuns, onde através desse projeto um casarão existente na cidade a mais de cem anos, este que é considerado um patrimônio cultural material, pôde ser utilizado pela comunidade da região como um espaço para promover a realização de atividades artísticas e culturais com crianças, jovens e adultos. De forma lúdica e trazendo trechos de algumas atividades realizadas no casarão, juntamente com a fala dos participantes e responsáveis pelo projeto, o vídeo retrata o quanto esse espaço se fez importante para a cidade de Arneiroz, tornando o casarão como o principal meio de incentivo à arte e a cultura, possibilitando ao público atendindo a inserção em atividades como pintura, teatro, dança, entre outros.

Ao utilizar esse curta, teve-se como finalidade entender a História Local e perceber a importância dada a ela, notando que através dela é possível conhecer a cultura de um determinado grupo de pessoas como também seus patrimônios materiais e imateriais, como é exemplificado no vídeo por meio do casarão. Além disso,outro objetivo pensado para o planejamento desta aula foi instigar os alunos da Escola a identificarem na cidade de Limoeiro do Norte possíveis locais onde houvessem uma certa semelhança com o exemplo que foi exibido no vídeo, para que, posteriormente, eles pudessem aproveitar a ideia para também produzir um vídeo sobre a História local do seu município, comunidade.

Pensando em aulas que pudessem contribuir para a fabricação de um curta metragem voltado para o patrimônio local foi necessário discutir sobre o uso da história oral, haja vista que boa parte da história escrita – tida como “oficial” – não contempla as vivencias e práticas culturais de pequenas localidades e vilarejos, sendo necessário recorrer, em muitos casos, para a oralidade local. Assim, compreender o saber fazer das farinhadas, por exemplo, exigirá ouvidos atentos e sensíveis para perceber que é necessário registrar também essa parte da história, que poderá perder-se com o tempo.

A utilização de curtas metragens em sala de aula mostra que ele pode ser um importante instrumento didático para o professor, que poderá fazer um ótimo uso do vídeo desde que tenha seus objetivos definidos e um bom planejamento, tendo em vista que assim como qualquer outro instrumento didático este também requer um certo preparo para que haja uma boa apropriação por parte do docente.

No mais, foi notório a presença de algumas dificuldades, dentre elas destaca-se o número reduzido de alunos que aceitaram participar de uma atividade no período contra turno e com o tema proposto, uma vez que a ideia de patrimônio parece ser ainda pouco explorada,e por isso, compreendida de uma forma limitada. Apesar disso, essas experiências contribuíram para uma melhor compreensão do espaço escolar, da singularidade de cada aluno e das dificuldades estruturais que podem estar presentes e impedir que esse tipo de projeto seja executado de uma forma mais eficiente. Portanto, a vivência da docência de forma real só é possível a partir do contato diário com os alunos, procurando se reinventar a cada experiência vivida.

REFERÊNCIAS

Graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte, bolsista pelo Programa de Educação Tutorial (PET).

Graduanda do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte, bolsista pelo Programa de Residência Pedagógica da Capes. Sub projeto coordenado pela professora Doutora Ivaneide Barbosa Ulisses

PRESERVE SUA HISTÓRIA. As aventuras de Pedro: O que é Patrimônio. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=M94XptwIMXA >. Acessado em: 08 mar. 2019.

ARTE JUCÁ. Casarão das Artes. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=V4_VNBwGyhE&feature=share&fbclid=IwAR0a3ImMGQdGf9roTcJ06toCF-n4RGuZ_Ph6UqshkdDOcSm7E1jjrm_0IOM >. Acessado em: 08 de mar. 2019.


7 comentários:

  1. Milena e Paula, como foi um processo/relato oriundo do estágio (um deles) escrevam sobre como isso fez com q vcs refletissem sobre a docência. Como ajudam a se perceberem como professores. Abraço

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  2. Dentre outros elementos, essa experiência nos proporcionou um alargamento da perspectiva do cotidiano escolar. Tal cotidiano está repleto de circunstâncias que nem sempre são favoráveis a execução do que foi planejado pelo docente, nesse sentido, em muitos casos se faz necessário uma mudança de estratégia por parte do professor, tornando-o um sujeito versátil diante de um ambiente escolar algumas vezes inesperado. (Milena de Oliveira Rodrigues e Paula Jociane Maia dos Santos)

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    1. Verdade, Paula. Porém, quanto mais trabalhamos no planejamento, principalmente em aulas com fontes mais capazes são os professores de mudarem na hora as sua estratégias.

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    2. Muito bem colocado, Ivaneide. Essa vivência, juntamente com as outras do estágio, nos fez perceber o quanto é importante que o docente realize seu planejamento. No entanto, ele deve ser formulado tendo em vista que alguns imprevistos podem surgir, proporcionando ao professor muito mais uma base, um norte, do que um caminho a ser fielmente seguido. Assim o professor planeja mas não fica limitado apenas aquilo que planejou, lidando melhor com essas situações inesperadas.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá Paula e Milena!
    Diversos conceitos foram utilizados na realização deste projeto, como Educação Patrimonial, Patrimônio Cultural Material e Imaterial. No entanto, acho necessário a realização das devidas referencias sobre qual a perspectiva que vocês utilizaram, afinal, todo projeto deve ser devidamente referenciado.

    Abraços!

    Victor Pereira do Prado

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