CURTINDO UM CURTA E APRENDENDO
PATRIMÔNIO CULTURAL
O presente texto reflete de forma mais específica, a
experiência vivenciada na Escola de Ensino Médio Lauro Rebouças, no município
cearense de Limoeiro do Norte, 200 km da capital Fortaleza, no final de 2018,
quando foi colocado em prática o projeto intitulado “Curtindo um curta”. Este
teve como principal pilar o tema Educação Patrimonial a partir do olhar das
produções de audiovisuais já produzidas e presentes no espaço das redes
sociais, como o Youtube. O projeto e planejamento foi realizado pelo grupo de
alunos do curso de Licenciatura Plena em História da Faculdade de Filosofia Dom
Aureliano Matos – FAFIDAM, também localizada em Limoeiro do Norte-Ce.
A disciplina de Ação Educativa Patrimonial, teve como ponto
principal trabalhar a cultura material e imaterial presentes na sociedade, com
uma percepção acerca da preservação daquilo que os pertence e educando o olhar
para perceber a importância de salvaguardar elementos que podem se perder no
tempo, como práticas seculares de um determinado povo, espaços construídos pelo
o homem de uma época passada que guardam uma simbologia de uma sociedade, além
de paisagens naturais que podem conter aspectos caracterizadores de um dado
grupo.
A disciplina efetuou-se em dois espaços, ou seja, estudos e
planejamentos com a professora na faculdade, e em dias alternados os graduandos
se deslocavam até a Escola de Ensino Médio. Dessa forma, a cada encontro com os
alunos os estagiários iam realizando indagações e incentivando-os a um olhar
mais crítico para com suas comunidades e bairros, percebendo o quê, para eles,
seriam considerado patrimônio. Objetivou-se com isso, que os alunos sob
orientação dos estagiários produzissem um curta metragem sobre patrimônio. Ao
final dos encontros do projeto, o curta metragem foi produzido a partir do
material (fotografias e pequenos vídeos) colhido pelos alunos da escola em um
passeio realizado em alguns patrimônios no centro de Limoeiro do Norte. No
entanto,o que seguimos a sintetizar nesse texto são os usos dos curtas
metragens como instrumento didático nos nossos encontros com os alunos da
escola.
Passamos a relatar o desenvolvimento das atividades:No
primeiro contato com os alunos da Escola os estagiários tentaram estabelecer um
diálogo mais descontraído, perguntando seus nomes, apresentando e explicando-os
objetivos principais do projeto, sempre os indagando se eles concordavam com as
ideias, ou se possuíam alguma sugestão, ou seja, entendeu-se que o processo de
ensino-aprendizagem é uma construção em conjunto, não podendo ser algo imposto,
dado. Foi também nesse encontro que se aplicou um questionário oral, buscando
identificar se os alunos da Escola já tiveram algum contato com curtas metragens,
e se eles compreendiam ser possível estudar História através desses recursos
cinematográficos.
A partir dessas primeiras impressões reproduzimos o
audiovisual “As aventuras de Pedro: o que é patrimônio”. Com duração de 1
minuto e 16 segundos e publicado em 17 de novembro de 2015, o vídeo é
construído de maneira que proporciona uma fácil compreensão, pois ele faz parte
de uma série do projeto “Preserve sua História” em que se busca educar crianças
sobre a necessidade de preservar o patrimônio histórico. O curta metragem conta
a história sobre uma ida de Pedro e sua mãe ao mercado em que se deparam no
decorrer do caminho com uma placa escrita com a frase “patrimônio público”, e a
partir daí o menino indaga sua mãe sobre o que é patrimônio, e em seguida sobre
o que é patrimônio público. Então, a mãe do garoto respondendo às perguntas
explica rapidamente e de forma bem simplificada sobre o que seria o patrimônio
e patrimônio público.
Tendo em vista o desconhecimento em relação ao nível de entendimento dos
alunos para os quais iria ser reproduzido o vídeo, optou-se por este por ser
uma produção curta e de linguagem simples que poderia chamar mais a atenção do
público em questão sem deixá-los fatigados. A partir da exibição desse material
iniciamos os debates a respeito do que seria
patrimônio, buscando perceber se os alunos já tinham algum conhecimento prévio
sobre esse conceito e quais eram os conhecimentos que eles tinham em relação a
isso. Dessa forma, percebeu-se que alguns alunos, mesmo que de forma simples e
superficial, possuíam um certo entendimento acerca do assunto, com isso,
naquele momento, houve uma contribuição proporcionada a eles para melhor
compreender sobre patrimônio.
Em seguida, foi utilizado uma fotografia do prédio do Museu
Nacional que anteriormente foi residência da família real, nela era possível
observar principalmente a fachada. Assim a imagem foi utilizada com o intuito
de representar para os alunos da escola um exemplo de patrimônio material, possibilitando
uma conversa com eles que direcionou-se aos conceitos de memória e identidade.
Em outro encontro foi utilizadoo vídeo “Casarão das Artes”
contendo 6 minutos e 46 segundos de duração e publicado em 29 de abril de 2016. Esse
material discorre sobre o projeto Casarão das Artes desenvolvido em Arneiroz - CE,
uma cidade pequena localizada na região dos Inhamuns, onde através desse
projeto um casarão existente na cidade a mais de cem anos, este que é considerado
um patrimônio cultural material, pôde ser utilizado pela comunidade da região
como um espaço para promover a realização de atividades artísticas e culturais
com crianças, jovens e adultos. De forma lúdica e trazendo trechos de algumas
atividades realizadas no casarão, juntamente com a fala dos participantes e
responsáveis pelo projeto, o vídeo retrata o quanto esse espaço se fez
importante para a cidade de Arneiroz, tornando o casarão como o principal meio
de incentivo à arte e a cultura, possibilitando ao público atendindo a inserção
em atividades como pintura, teatro, dança, entre outros.
Ao utilizar esse curta, teve-se como finalidade entender a
História Local e perceber a importância dada a ela, notando que através dela é
possível conhecer a cultura de um determinado grupo de pessoas como também seus
patrimônios materiais e imateriais, como é exemplificado no vídeo por meio do
casarão. Além disso,outro
objetivo pensado para o planejamento desta aula foi instigar os alunos da
Escola a identificarem na cidade de Limoeiro do Norte possíveis locais onde
houvessem uma certa semelhança com o exemplo que foi exibido no vídeo, para
que, posteriormente, eles pudessem aproveitar a ideia para também produzir um
vídeo sobre a História local do seu município, comunidade.
Pensando em aulas que pudessem contribuir para a fabricação
de um curta metragem voltado para o patrimônio local foi necessário discutir
sobre o uso da história oral, haja vista que boa parte da história escrita –
tida como “oficial” – não contempla as vivencias e práticas culturais de
pequenas localidades e vilarejos, sendo necessário recorrer, em muitos casos,
para a oralidade local. Assim, compreender o saber fazer das farinhadas, por
exemplo, exigirá ouvidos atentos e sensíveis para perceber que é necessário
registrar também essa parte da história, que poderá perder-se com o tempo.
A utilização de curtas metragens em sala de aula mostra que
ele pode ser um importante instrumento didático para o professor, que poderá
fazer um ótimo uso do vídeo desde que tenha seus objetivos definidos e um bom
planejamento, tendo em vista que assim como qualquer outro instrumento didático
este também requer um certo preparo para que haja uma boa apropriação por parte
do docente.
No mais, foi notório a presença de algumas dificuldades,
dentre elas destaca-se o número reduzido de alunos que aceitaram participar de
uma atividade no período contra turno e com o tema proposto, uma vez que a
ideia de patrimônio parece ser ainda pouco explorada,e por isso, compreendida
de uma forma limitada. Apesar disso, essas experiências contribuíram para uma
melhor compreensão do espaço escolar, da singularidade de cada aluno e das
dificuldades estruturais que podem estar presentes e impedir que esse tipo de
projeto seja executado de uma forma mais eficiente. Portanto, a vivência da
docência de forma real só é possível a partir do contato diário com os alunos,
procurando se reinventar a cada experiência vivida.
REFERÊNCIAS
Graduanda do curso de Licenciatura em História da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte, bolsista pelo
Programa de Educação Tutorial (PET).
Graduanda do curso de Licenciatura em História da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus Limoeiro do Norte, bolsista pelo
Programa de Residência Pedagógica da Capes. Sub projeto coordenado pela
professora Doutora Ivaneide Barbosa Ulisses
PRESERVE SUA HISTÓRIA.
As aventuras de Pedro: O que é Patrimônio. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=M94XptwIMXA >. Acessado em: 08 mar. 2019.
ARTE JUCÁ. Casarão das
Artes. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=V4_VNBwGyhE&feature=share&fbclid=IwAR0a3ImMGQdGf9roTcJ06toCF-n4RGuZ_Ph6UqshkdDOcSm7E1jjrm_0IOM
>. Acessado em: 08 de mar. 2019.
Milena e Paula, como foi um processo/relato oriundo do estágio (um deles) escrevam sobre como isso fez com q vcs refletissem sobre a docência. Como ajudam a se perceberem como professores. Abraço
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirDentre outros elementos, essa experiência nos proporcionou um alargamento da perspectiva do cotidiano escolar. Tal cotidiano está repleto de circunstâncias que nem sempre são favoráveis a execução do que foi planejado pelo docente, nesse sentido, em muitos casos se faz necessário uma mudança de estratégia por parte do professor, tornando-o um sujeito versátil diante de um ambiente escolar algumas vezes inesperado. (Milena de Oliveira Rodrigues e Paula Jociane Maia dos Santos)
ResponderExcluirVerdade, Paula. Porém, quanto mais trabalhamos no planejamento, principalmente em aulas com fontes mais capazes são os professores de mudarem na hora as sua estratégias.
ExcluirMuito bem colocado, Ivaneide. Essa vivência, juntamente com as outras do estágio, nos fez perceber o quanto é importante que o docente realize seu planejamento. No entanto, ele deve ser formulado tendo em vista que alguns imprevistos podem surgir, proporcionando ao professor muito mais uma base, um norte, do que um caminho a ser fielmente seguido. Assim o professor planeja mas não fica limitado apenas aquilo que planejou, lidando melhor com essas situações inesperadas.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Paula e Milena!
ResponderExcluirDiversos conceitos foram utilizados na realização deste projeto, como Educação Patrimonial, Patrimônio Cultural Material e Imaterial. No entanto, acho necessário a realização das devidas referencias sobre qual a perspectiva que vocês utilizaram, afinal, todo projeto deve ser devidamente referenciado.
Abraços!
Victor Pereira do Prado