AS TEMPORALIDADES
DA ANTIGUIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL
O propósito deste texto é fazer uma
reflexão preliminar sobre as implicações para o Ensino de História resultantes
do reconhecimento de múltiplas temporalidades na forma da História que chamamos
de Antiguidade. O texto está dividido em três partes. Na primeira eu pretendo
apresentar brevemente as possíveis e múltiplas temporalidades que podem ser
desveladas dentro da forma Antiguidade, e problematizar este ocultamento ou
subsunção causado pela nossa noção hegemônica de temporalidade, efetivada pela
narrativa homogênea e linear da História Universal
Eurocêntrica/ocidentalizante. Em seguida eu busco refletir sobre as
possibilidades de se trabalhar essa concepção plural de temporalidades
ofereceriam para o nosso currículo brasileiro, tomando como orientação algumas
das propostas de competências, habilidades e conteúdos correspondentes
sugeridos pelos PCNs ligados ao aprendizado da temporalidade histórica. Concluo
com uma breve reflexão sobre como a Antiguidade pode auxiliar na elaboração de
outras temporalidades para o Ensino de História.
I.
Introdução
A Antiguidade é em geral reconhecida
pelo senso comum como uma época distante da história da humanidade, uma época
repleta de origens. A origem das cidades, do Estado, da Civilização, ou mesmo,
para alguns, da assim chamada Civilização Ocidental. Esta ideia de “época” é
uma forma de abstrair as várias faces e temporalidades das sociedades denominadas
como antigas sob uma única temporalidade. O propósito desta comunicação é fazer
uma reflexão preliminar sobre como o reconhecimento de múltiplas temporalidades
na forma da História que chamamos de Antiguidade pode impactar o Ensino de
História no Brasil.
O texto está dividido em três
partes. Na primeira eu pretendo apresentar brevemente as possíveis e múltiplas
temporalidades que podem ser desveladas dentro da época ou Período denominados Antiguidade,
e, valendo-me do conceito de “formas da História”, busco problematizar o
ocultamento ou subsunção dessas temporalidades a uma noção unitária de
temporalidade que é resultante da narrativa homogênea e linear da História
Universal Eurocêntrica/ocidentalizante. Num segundo momento do texto, reflito
sobre a importância de se trabalhar uma perspectiva plural de temporalidades nas
propostas curriculares do contexto educacional brasileiro. Aqui tomo como
orientação algumas das propostas de competências, habilidades e conteúdos
correspondentes ligados ao aprendizado da temporalidade histórica sugeridos
pelos PCNs. Encerro com uma breve reflexão sobre as oportunidades que os
conteúdos de Antiguidade oferecem para a proposição de práticas de
ensino-aprendizagem que incluam essa reflexão sobre temporalidades no Ensino de
História.
II.
As Temporalidades da Antiguidade
1. A
visão eurocêntrica/ocidentalizante
Como mencionei há pouco, nosso senso
comum estabelece a Antiguidade como uma “época”. Tal perspectiva não é, porém,
uma característica inerente desse tempo passado, sendo, antes, resultado da
cuidadosa elaboração de grupos de intelectuais europeus ao longo de boa parte
do período moderno. Nossa ideia de Antiguidade foi artificialmente construída
em uma série de contextos intelectuais bastante particulares e é resultado
direto da formação da consciência histórica europeia. Esse movimento se inicia
com o renascimento e se seculariza com o iluminismo, mas apenas se consolida
com a institucionalização da disciplina História (como um conhecimento
acadêmico ou científico) no XIX, cristalizando uma visão do tempo da humanidade
como linear e evolutivo, tendo como sentido e critério dessa evolução o
progresso da sociedades europeias e, posteriormente, da assim chamada
Civilização Ocidental. As “épocas” tem um papel importante na organização dessa
visão. Elas são ao mesmo tempo etapas temporais dessa ideologia do progresso da
Europa ou do Ocidente, mas também setores de especialização dentro da História
Cientifica. É nestes termos que me valho da noção de “formas da História” e da
ideia da Antiguidade como uma destas formas (GUARINELLO, 2003).
Como setores de especialização da
disciplina, as formas organizam as fronteiras internas da disciplina e, o que é
crucial, as fronteiras documentais. Há vários tipos fundamentação das “formas”:
as espaciais (Atenas), as temporais (Antiguidade), as políticas (Império
Romano), “étnicas” (Gregos), e até mesmo estéticas (Era Clássica). Cada uma
dessas modalidades implica na criação de fronteiras documentais e de trabalho
investigativo. Também por causa delas os historiadores com diferentes
especializações acabam por não dialogar com estudiosos que estariam
cronologicamente muito próximos de si, enquanto conversam com outros que
estudam documentos oriundos de períodos mais distantes. As mais potentes e
efetivas, como o leitor deve ter intuído, são as formas que organizam a nossa
ideia de temporalidade linear, isto é, as etapas temporais da ideologia do
progresso, ou o que Jean Chesneaux chamou de quadripartismo: Antiguidade, Idade
Média, Idade Moderna e Contemporânea (CHESNEAUX, 1995). E é como estas etapas
que elas mais afetam a nossa cultura histórica e o desenvolvimento de
consciência histórica em contextos escolares. Pois essa visão da temporalidade
é permeada pela ideologia do progresso e vincula esse progresso ao
desenvolvimento de uma forma de sociedade em particular: a sociedade moderna
e/ou capitalista que surgiria numa pequena pontinha do ocidente da Eurasia no
século XVIII, que a partir desse momento foi capaz de pela força política e
econômica dominar o resto do globo. O resultado disso é que se elege essa forma
efêmera e recente de relacionamento dos seres humanos entre si e com a natureza
como a forma ótima de sociedade e articula-se ela como critério de compreensão
da história do mundo. A história particular e provinciana da Europa (e do
Ocidente) se torna História Universal e os passados das sociedades do resto do
planeta ficam subordinados aos seus encontros com essa “História Universal” –
em geral na forma da subordinação política ou econômica (CHAKRABARTY, 2000).
Tal perspectiva vem sendo duramente
criticada nas últimas duas décadas. A desconstrução do eurocentrismo inerente a
essa concepção de temporalidade não é mais movida apenas pela acusação de
alguns estudiosos ligados às áreas não europeias e não ocidentais e passou a
ser assumida também por aqueles que trabalham com especializações tradicionais
da história (como é o caso da História Antiga). Um dos maiores reflexos dessa
desconstrução é o desenvolvimento de uma nova forma de História Global da qual
um dos eixos principais é construir uma História do mundo que não seja
eurocêntrica ou ocidentalizante (CONRAD, 2016). E dentro deste contexto,
própria categoria de “consciência histórica”, anteriormente usada para demarcar
a excepcionalidade da cultura europeia ou ocidental, vem sendo utilizada de
forma mais generalista e desvinculada daquela perspectiva. Contribui para a
consolidação desse uso, principalmente, as investigações sobre historiografia
global que mostraram que esse desenvolvimento intelectual foi compartilhado por
intelectuais ligados a sociedades e culturas imperiais em várias partes do
globo (CROSSLEY, 2015; SUBRAHMANYAM, 1997).
2. As
múltiplas temporalidades da e na Antiguidade
Um das maneiras de lidar com a
temporalidade na Antiguidade e seu impacto no Ensino de História seria a
reflexão sobre as próprias categorias de tempo e temporalidade articuladas naquele
recorte (MARQUES, 2008). Eu pretendo aqui lidar com uma dimensão diferente. Assim
como as formas do no quadripartismo estão associadas à temporalidade e à
duração lineares da concepção de História Universal europeia, é possível
relacionar cada uma daquelas “formas da História” mais restritas que se
encontra dentro do estudo da Antiguidade a alguma ideia de temporalidade ou
duração. Em alguns casos tais temporalidades podem ser tão artificiais quanto
as das formas maiores, mas em outros, podem ser expressões da temporalidade das
relações sociais que se busca recuperar a partir dos vestígios empíricos do
passado.
Há nas representações modernas das
sociedades da Antiguidade, portanto, diferentes tipos de temporalidades (e suas
respectivas durações), associadas a diferentes fenômenos sociais (ou a
projeções modernas que buscam explicar e recriar supostos fenômenos sociais
antigos).
O primeiro tipo de temporalidade é a
ligada aos ritmos da “Política”. As investigações e narrativas sobre a
Antiguidade costumam articular-se por meio da temporalidade de seus governantes
ou das formas de governos de uma entidade política (talvez a mais importante
modalidade desta última seja ligada à ideia de cidade-estado). As Histórias do
Egito antigo contabilizadas por meio de dinastias (GRIMAL, 2012) ou as de
Atenas pela sucessão de formas de governos (FINLEY, 2002). Esta temporalidade
política também tem uma modalidade integracionista, isto é, a que articula a
narrativa como expressão de processos de integração em direção a unidades
políticas cada vez mais amplas, uma temporalidade da “Hegemonia” ou do
Império”, como se encontra nas Histórias da Mesopotâmia (GARELLI, 1982), ou do
Império Romano (GRIMAL, 2011).
Outro tipo de temporalidade é a
“Étnico-nacional”, cuja narrativa que expressaria o processo de desenvolvimento
de um povo (LEFEVRE, 2013). Tal modalidade é altamente problemática, pois
apesar de os documentos oriundos da Antiguidade apresentarem inúmeros tipos de
identidades sociais que poderíamos relacionar ao conceito de “etnia” (HALL,
1997), a narrativa moderna tende a projetar sobre essas identidades a
temporalidade do Estado-nacional, cujo ritmo é o de uma unidade cultural
politicamente imposta, via de regra ausente na antiguidade, tome-se como
exemplo a cultura grega e as ilusões a respeito de sua homogeneidade (VLASSOPOULOS,
2007).
Um terceiro tipo de temporalidade é ainda
mais problemática. Essa temporalidade, que eu chamaria de “Cultural-estética”,
está baseada na ideia de desenvolvimento da cultura das sociedades da
Antiguidade, cultura aqui sendo entendida como produção de artefatos culturais
de alto valor estético e civilizacional. A história das sociedades da
antiguidade fica aqui subsumido à narrativa de seu desenvolvimento intelectual
e artístico, marcada pela visão de evolução até um suposto apogeu e sua
subsequente e obrigatória decadência. É a temporalidade ligada à ideia de
“clássico” ou “época clássica” – ideias criadas pela obra conjunta do
Renascimento e do Iluminismo europeus – que desempenham um papel inegável na
visão de um excepcionalismo da Civilização Ocidental via um suposto “legado da
Antiguidade” (Beercroft, 2007; Greenwood, 2016).
Uma quarta forma de temporalidade
que eu chamaria de Material, parece um pouco mais próxima da realidade empírica
do que a anterior, mas é tão permeada de pressupostos ideológicos quanto ela.
Essa temporalidade baseia-se na observação dos diversos graus de domínio da
natureza e das formas dos instrumentos e ferramentas criadas pelos ser humano,
resultando numa temporalidade organizada em torno do desenvolvimento técnico
nas sociedades antigas e em expressões como Idade do Bronze e Idade do Ferro (LIVERANI,
2016), ou nos Modos de Produção do marxismo (ANDERSON, 2000). Contudo, tal
temporalidade foi desde o século XIX conformada pela ideologia do progresso,
convertendo-se em uma concepção linear daquele desenvolvimento técnico que
contaminou boa parte da historiografia sobre a Antiguidade, seja ela marxista,
finleyana, rostovzeffiana, ou filiada aos Annales.
Um último tipo, que estou chamando
de “temporalidades alternativas”, é em realidade um conjunto de temporalidades (contraditórias
entre si) que tem menos destaque nas narrativas tradicionais sobre a
Antiguidade. Uma delas abrange as temporalidades das regiões periféricas,
sociedades que a historiografia não considera centrais política, econômica ou
culturalmente (hicsos, núbios, fenícios, frígios, gauleses, cristãos hereges,
etc.), mas que apresentam seus ritmos históricos próprios quando aparecem como
coadjuvantes e resistentes na narrativa sobre as sociedades consideradas
centros civilizacionais (Roma, Grécia, Egito faraônico, etc.) ou quando
observadas diretamente (MATTINGLY; ALCOCK, 1997). A outra é ligada a uma visão
mais global da Antiguidade, resultado de desenvolvimento recentes, que tenta
reconstruir essa ideia de passado global sem se tornar refém dos pressupostos
eurocêntricos, ainda incipiente e que pensa a temporalidade (ou as
temporalidades) das conexões (comerciais, políticas, culturais) possíveis entre
as várias sociedades antigas (GUARINELLO, 2013; HORDEN; PURCELL, 2000).
Não pretendo reinventar a roda, apenas
apresentar possíveis temporalidades que podem ser inferidas a partir de
representações e narrativas já existentes e que compõem o estudo da
Antiguidade, há importantes implicações na existência dessas múltiplas temporalidades.
Elas demonstram que sob essa forma “Antiguidade”, uma forma da História que foi
projetada sobre o passado mediterrânico e mesopotâmico pelos intelectuais
europeus, há uma pluralidade de temporalidades. Tais temporalidades correspondem
a narrativas e histórias que não se reduzem a História Universal, mas elas
ainda assim acabam sendo articuladas por pressupostos ideológicos variados que
tendem a subsumi-las a algum tipo de concepção linear e evolutiva do tempo.
Isto é, mesmo que nós modernos nos livrássemos da forma Antiguidade, ainda
assim teríamos muitas camadas ideológicas conformando a temporalidade das
sociedades do passado (as ideologias do Estado-nação, do progresso, o juízo
estético). Há aí, porém, embriões de outras temporalidades, de uma história não
linear e de tempos não homogêneos, vítimas da artificialidade das formas e das
fronteiras disciplinares, da História como narrativa sobre os centro de poder,
temporalidades que colocadas em evidência podem dar visibilidade outras
histórias.
III.
Os desafios da temporalidade no Ensino de História
Há, certamente, desafios , mas
também grandes vantagens para o Ensino de História no Brasil ao se trabalhar a
partir desta perspectiva que reconhece essa múltiplas temporalidades. Como
objeto desta reflexão, eu uso as propostas de competências, habilidades e
conteúdos correspondentes ao aprendizado da temporalidade histórica no Ensino
Básico sugeridos pelos PCNs. Embora eu tenha consciência da distância que há
entre as propostas legais neles representadas e a duradoura resistência ao seu
uso da parte de professores de história, o seu papel na orientação tanto dos
livros didáticos quanto dos exames do Ensino resultaram em impactos na
organização dos currículos (MAGALHAES, 2006).
O tema da temporalidade de fato
aparece recorrentemente nos PCNs. Nos PCNs para Ensino Fundamental está
claramente expresso na descrição dos Objetivos
Gerais de História Para O Ensino Fundamental, que incluem “organizar alguns
repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa
multiplicidade de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões
do presente e do passado;” e “reconhecer mudanças e permanências nas vivências
humanas, presentes na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou
distantes no tempo e no espaço;” (BRASIL, 1997, p. 37). Dentre os conteúdos
para o 2º ciclo do Fundamental I, encontra-se o eixo temático Organização histórica e temporal, o qual
apresenta o sub-tema Organização
histórica e temporal (p. 51), onde se encontram conteúdos diretamente
ligados a esta reflexão. Tais incluem a uma série de propostas voltadas para a
construção de habilidades e competências nesse sentido: a construção de
sínteses históricas, a compreensão de calendários e medições de tempo de forma
a localizar acontecimentos de curta, média e longa duração, a construção de
sínteses cronológicas e a produção de linhas de tempo, todas elas tendo como
propósito relacionar a história local com a história regional e a história nacional
e a mundial. Há também uma densa proposta de construções de diferentes
periodizações históricas, de forma a caracterizar a temporalidade de modelos
econômicos, políticos e culturais, em relação a contextos locais e nacionais,
comparando com os recortes cronológicos tradicionais da disciplina (p. 50-51). É
importante notar que estas operações aqui foram pensadas em conexão com o
aprendizado de História em nível local, regional e nacional, com ênfase no
estabelecimento de conexões entre estes diferentes níveis, estando rigidamente
subordinadas a uma forma “Estado-nação” da História e não tendo conexão
imediata com a forma “Antiguidade” que abrange conteúdos do Fundamental II. Contudo,
a demarcação nos itens anteriores da necessidade, no que diz respeito à
compreensão das temporalidades históricas, do estabelecimento das relações
entre história local, regional, nacional e mundial mostra que tais questões devem
ser retomadas nos ciclos e etapas posteriores.
Por sua vez, no assim denominado 3º
ciclo do Fundamental II, um dentre os objetivos para este ciclo retoma a
reflexão sobre as temporalidades: “localizar acontecimentos no tempo, dominando
padrões de medida e noções para distingui-los por critérios de anterioridade,
posterioridade e simultaneidade” (BRASIL, 1998, p. 54). Aqui, ao se observar os
eixos temáticos e conteúdos correspondentes, há de fato, a menção recorrente
das habilidades ligadas à localização temporal. No eixo temático História Das Relações Sociais, Da Cultura E
Do Trabalho, dentro do subtema As
relações sociais, a natureza e a terra, há uma sequência de conteúdos que
abrangem as relações entre a sociedade, a cultura e a natureza, no que é
denominado “História Brasileira” (p.57-58), “História dos povos americanos” (p.
58-59) e “História de povos do mundo” (p. 59-60) em diferentes tempos. Estes
conteúdos são seguidos por um item que propõe como conteúdos as diferenças,
semelhanças, transformações e permanências nas relações entre a sociedade, a
cultura e a natureza, ressaltando a necessidade de compreensão da temporalidade
destas relações entre ser humano e natureza em diversos lugares do mundo (p.
60). Preocupações semelhantes se repetem no subtema Relações de Trabalho, que propõe a capacidade de caracterizar e analisar
diferentes tipos de forma de trabalho, assim como referenciar e localizá-las cronologicamente
e identificar as suas durações no tempo” (p. 62).
Por sua vez, nos PCNs para o Ensino
Médio encontra-se também itens relacionados à compreensão das temporalidades (BRASIL,
2000). A competência Investigação e
compreensão inclui as habilidades “relativizar as diversas concepções de
tempo e as diversas formas de periodização do tempo cronológico,
reconhecendo-as como construções culturais e históricas;” e “estabelecer
relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos processos
históricos”. Já a competência Contextualização
sócio-cultural inclui as habilidades “situar as diversas produções da
cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências, as
tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua
constituição e significação” e “situar os momentos históricos nos diversos
ritmos da duração e nas relações de sucessão e/ou de simultaneidade”. Aqui
contudo, são explicitamente denominados Habilidades e Competências e apresentados
desvinculados de conteúdos específicos, isto é de saberes que reflitam
sujeitos, processos e relações históricas.
Como se pode ver, nas propostas de
organização curricular dos três níveis de ensino aqui analisados, Fundamental
I, II e Médio, a preocupação com o desenvolvimento da capacidade de compreensão
da temporalidade está presente. Os parâmetros não apontam para a compreensão de
uma temporalidade linear e homogênea, estritamente ligada à História Universal
europeia, mas para a capacidade de reflexão, desde o início do processo
formativo, sobre a dimensão da temporalidade e o reconhecimento de suas
múltiplas dimensões e modalidades, com graus cada vez mais complexos e
aprofundados ao longo do tempo de estudo. Isso não deveria ser surpresa pois já
há um bom acúmulo intelectual no que diz respeito da necessidade de incorporar
a compreensão da temporalidade no ensino de história, posicionando-se contra um
ensino mais factual, o assim chamado “ensino conteudista” (BEZERRA, 2003;
BITTENCOURT, 2018; BITTENCOURT; NADAI, 2009; BOVO; DEGAN, 2017; FONSECA, 2010).
Tem-se, portanto, de um lado, o
reconhecimento na legislação da importância dessas capacidades e, do outro, uma
forma “Antiguidade” que apresenta dentre os seus saberes correspondentes
diversas oportunidades para o desenvolvimento de concepções mais plurais de
temporalidade. Não só na produção acadêmica mais recente onde isso é explícito
(FUNARI, 2003), mas como eu tentei mostrar aqui, mesmo a partir da
historiografia tradicional de meados do século XX. A dificuldade não está nas
sociedades da Antiguidade nem nas propostas legais para o currículo. Um dos
desafios está, como já mencionado, nos desacertos de nossas próprias categorias
culturais e na maneira colonial com a qual o Brasil olha para a Antiguidade. Há
uma outra dificuldade, que corresponde a um impasse já tradicional nas
discussões sobre organização curricular (e que se manifesta no cotidiano da
organização dos planos e de ensino de cada professor): a oposição entre uma organização
temporal ou cronológica (integrada e intercalada são temporais) ou por eixos
temáticos (BITTENCOURT, 2018; FONSECA, 2010). Tal impasse, em última instância,
é resultado da equiparação de uma organização curricular temporal
exclusivamente com a temporalidade do quadripartismo e do não reconhecimento
das possibilidade e ensino de outras temporalidades embutida na proposta por
eixos temáticos. Esse impasse, certamente, é resultado daquela estruturação
colonial de nossas categorias e do fato institucional e disciplinar que a temporalidade da História Universal europeia serve
de infraestrutura acadêmica e escolar para a disciplina História.
IV.
Conclusões
Não há repostas imediatas para esse
impasse, apenas a necessidade de trabalhar na direção de construir práticas de
ensino-aprendizagem que valorizem essa percepção mais rica das temporalidades e
do tempo histórico. Muito embora a forma de organização da disciplina História
impeça e imponha o uso do quadripartismo, na academia e na sala de aula, isso
não significa que, ao mesmo tempo que ele é usado pelo professor para articular
junto aos alunos concepções de temporalidades mundiais e de longa duração, não
possa ser problematizado e questionado. Neste contexto, o que eu busquei
apresentar aqui foi que o recorte ou forma Antiguidade, mesmo em suas
representações tradicionais apresenta inúmeras oportunidades para que a
reflexão sobre a coexistência de múltiplas temporalidades correspondentes a
diferentes processos e sujeitos históricos. Mais do que tornar o professor
refém de uma “linha do tempo” rígida e evolucionista, essa “forma da História”,
exatamente porque é uma construção artificial articulada com aquela linha do
tempo, guarda dentro de si inúmeras histórias e temporalidades que podem
permitir desconstruir, em sala de aula, a ideia de que a temporalidade da
História Universal europeia seja de fato universal e apontar na direção de
categorias de temporalidades mais amplas que não tomem uma parte (Europa,
Ocidente) pelo todo (o Globo).
Referências
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Silva é Professor do Departamento de História da UFRPE e membro do LEIR-MA-USP,
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O ensino de história como vemos em todo decorrer do curso nos mostra nas obras a luta pela liberdade, seja cultural, social ou religiosa, mais diante da desvalorização do ensino na sala de aula com o conhecimento a ser passado, como lhe dá com com as leis que obrigam o profissional da área a se limitar as escolhas do grupo escolar(administradores) a passar somente o que lhe imposto, mesmo sabendo da necessidade da turma em termos do que é preciso passar para que os alunos possam entender os vários processos e conflitos históricos no meio social?
ResponderExcluirOlá José Hernandes,
ExcluirAcredito que se eu entendi sua pergunta corretamente, vc quer saber como lidar com as leis que limitam o professor às escolhas do grupo escolar. Bom, não são exatamente as leis maiores da educação que estabelecem essa imposição, mas a maneira com a qual elas são manifestas no nível da administração. Ou seja, é necessária uma disputa política em níveis mais locais - o que significa lidar com os pequenos poderes de gestores ou professores acomodados.
Boa tarde, um dos problemas que o campo de estudos da história antiga têm atualmente no ensino da história nas escolas é sua desvalorização até mesmo dos próprios profissionais da área, que por sua trajetória acadêmica voltada a estudos específicos, acabam por não dar tanta importância seja a Antiguidade e ao Medievo. Esses problemas poderiam ser sanados de que forma ou pelo menos amenizados? NELES MAIA DA SILVA
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá Nelles,
ExcluirNo que diz respeito à Antiguidade e ao Medievo, os professores (e também os pesquisadores) tem que se distanciar de uma concepção que vincula o sentido desse passado numa herança ocidental e procurar um sentido que presentifique tais passados para nós, permtindo uma apropriação criativa e com sentido. Isso passa por problematizar os saberes relacionados a estas duas formas da História, assim como explorar sua presença na nossa cultura histórica.
Prof. Uiran Gebara da Silva, boa tarde. Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela reflexão expressa neste trabalho, completamente atualizada com os caminhos e descaminhos da História Antiga e de seu Ensino em um cenário tanto nacional quanto internacional. Chamou particularmente nossa atenção a ponderação do professor acerca de como a imposição do modelo quadripartite do Ensino de História inevitavelmente nos coloca - e por "nos" falo dos professores de História e historiadores brasileiros - em uma posição de colonizados, enxergada como inferior pelos responsáveis por tal imposição - que, como o professor bem informou, são os próprios criadores e maiores beneficiários dos modelos de História baseados nestas temporalidades. Neste sentido, ao afirmar que "não há repostas imediatas para esse impasse [colonial, imbrincado em nossos currículos], apenas a necessidade de trabalhar na direção de construir práticas de ensino-aprendizagem que valorizem essa percepção mais rica das temporalidades e do tempo histórico", o senhor crê que este movimento de valorização de outras percepções históricas que não as hegemônicas - baseadas no modelo quadripartite França, Itália, Alemanha e Inglaterra - poderia gerar uma consciência histórica no brasileiro que contribuiria potencialmente para o rompimento destas relações pós-coloniais com as potências europeias? Deixamos claro que o horizonte de pergunta são os reflexos desta atitude nas média e longa durações.
ResponderExcluirVictor Braga Gurgel
Olá Victor,
ExcluirEu acredito de fato que o caminho seja este. O impulso de descolonização do saber implica também na descolonização da nossa compreensão da Antiguidade. Isto é produzir um conhecimento sobre o passado das sociedades desse recorte que chamamos de Antiuidade que não pertence apenas à Europa, ou ao Ocidente, mas que é um patrimônio cultural mundial. É nos apropriarmos em nossos termos desse passado, e provincianizar a interpretação europeia.
Agradeço pela esclarecedora resposta!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirProf. Uiran Gebara da Silva, boa noite! Excelente reflexão. A História Antiga sempre me fascinou, mas tenho observado que muitos colegas da área não compartilham do mesmo pensamento, acredito que isso ocorra devido ao fato de muitos deles apenas tiveram contato com um ensino linear nessa área. As práticas de ensino-aprendizagem que valorizam a percepção mais rica das temporalidades e do tempo histórico me chamou a atenção. Poderia me indicar alguns livros que valorizam essa metodologia?
ResponderExcluirDavidson Santos de Melo.
Olá Davidson,
ExcluirNão há muitas publicações sobre isso à nossa disposição. Eu recomendaria começar pelos que mencionei no texto:
BEZERRA, 2003; BITTENCOURT, 2018; BITTENCOURT e NADAI, 2009; BOVO; DEGAN, 2017; FONSECA, 2010.
Eu incluiria aí também a obra Futuro Pasado de Reinhart Koselleck, que oferee um arcabouço teórico inicial importante.
Olá Uiran, boa noite! Gostei muito de suas explanações e penso que são muito atuais. Sou licenciando em História e recentemente na turma de 7° ano do meu estágio, conversamos sobre o processo de expansão árabe e a religiosidade islâmica. Teu argumento, sobre as possibilidades de se pensar as temporalidades e as pluralidades no ensino básico, se encaixa na minha prática pedagógica. Sempre tento levar a dúvida como carro-chefe da aula, seguido das várias percepções de um mesmo fato histórico. E claro, pensando a BNCC, Currículo Mínimo do Município e entre outras legislações importantes para a função. Além de toda a discussão feita por você, qual dica daria para mim, em início de carreira, no intuito de sempre trazer estas várias possibilidades das temporalidades e como inseri-las em sala de aula?
ResponderExcluirNewton Pinto Cordeiro.
Olá Newton,
ExcluirQue ótimo que meu argumento vai ao encontro da sua prática em sala de aula. Um das coisas que temos de fazer sistematicamente (com o risco de sermos cansativos) é sempre lembrar que essas fronteiras são arbitrárias, são construções, que os antigos não se consideravam "antigos", que isso é uma invenção. No que diz respeito ao conteúdo, o uso de documentos e problematização pode abrir possibilidades para discutir em sala de aula que o tempo vivido e a temporalidade dos processos sociais não corresonde ao do quadripartismo. Um bom momento para fazer isso é ao discutir "transições" como a da Antiguidade à Idade Média, por exemplo. Outro maneira de lidar com isso seria a reflexão sobre as concepções de tempo presentes nestas outras culturas, que é um trabalho bem produtivo e que permite trabalhar material mítico e poético.
È bom saber que na disciplina História Antiga há vários tipos de formas de estudos como por exemplos os espaciais (Atenas), os políticos (Império Romano), ètnicos (Gregos) e estéticos (Era Clássica). A História da Europa é Universal e os passados das Sociedades são referências para todo o Planeta.
ResponderExcluirAnderson Lúcio da Silva.
Olá Anderson,
ExcluirA perspectiva aqui vai em outro sentido: primeiro em desvincular a Antiguidade de seu papel ideológico na criação de um passado para a Europa; segundo ao propor que há muitas temporalidades que ficam escondidas dentro dessa caixa chamda "Antiguidade" arbitrariamente proposta pela Historiografia Europeia.
FAzer um bom ensino de História hoje é resgatar essas temporalidades eesses espaços do sequestro perpetrado pela "Historia Universal" (que em verdade não é universal, e provinciana, porque europeia)
Professor, primeiramente eu parabenizo-lhe pelo texto, um assunto bastante pertinente e muito instigante, aprendi muito com ele.
ResponderExcluirPenso que os historiadores selecionam, interpretam e apresentam os fatos, conferindo-lhes sentido no tempo, determinando como analisá-los, encaixando-os em uma temporalidade.
Entretanto, será que muitos historiadores, ao fazê-lo, não agem conforme seus próprios interesses e experiências? Traduzindo a vontade de sua época e o conceito de tempo em que estão inseridos, criando temporalidades historiográficas específicas?
Att.
Fábio Roberto Krzysczak
Olá Fábio,
ExcluirDe fato todos os historiadores fazem isso. Não há exceção. E os mais periogosos são os que dizem não fazer, alegando uma impossível neutralidade ideológica do conhecimento histórico, e o fazem ser ter consciencia de que o fazem.
A saída para isso é a objetividade da recriação do passado em nosso discurso, mas não baseada na neutralidade, mas na explicitação e problematização de nossas próprias posições de partida. A inclusão desses pontos de partida em nossa reflexão, o que oferece transparência sobre nossa argmentação aos leitores, alunos e críticos. Isso vale para as temporalidades ou outros aspectos do passado.
Boa Noite!
ResponderExcluirDesde já dirijo meus parabéns a você Prof. Uiran Gebara da Silva pelos seu excelente texto que aborda de forma construtiva as questões principalmente relacionadas a cerca do ensino de História do Brasil, sou professor e a cada ciclo de troca de livro didático percebo que cada vez mais os tais materiais abordam apenas de forma muito superficial a respeito do ensino de história do nosso país, alguns autores estão elaborando os materiais apenas sob a égide de suas concepções formalistas e centralizadoras e muitos dados importantes e cruciais ficam perdidos pelo caminho, é percebível que a contemporaneidade afeta de forma absurda na constatação e apresentação dos fatos passados, com isso o que poderia ser feito e quais medidas devem ser levadas em conta por estes autores no que tange a retratação correta para estes materiais?
Bruno Cena Macedo
Olá Bruno,
ExcluirComo eu respondi ao Fábio, não há como escapar da influência do nosso tempo e das nossas posições sobre o nosso trabalho como examinadores críticos da memória social. O passado é visto a partir de mudanças nos problemas colocados pelos historiadores a partir do presente e, por causa disso, hoje se fala de grupos subalternos e identidades marginais de uma forma que até metade do século XX não se fazia. Isso é positivo, pois é resultado da concordância da produção teoricamente controlada e empiricamente embasada do passado. O que não é positivo é que haja uma regressão nestes processos e que se tente valorizar intrepretações do passado que não correspondem à documentação ou a uma concepção emancipada do ser humano.
como despertar os alunos para pesquisar e ler de maneira autônoma, para além da historia dos cronogramas escolares, que de certa forma trazem um modelo de historia Europa e Ocidente,fazendo eles buscarem sobre como historia da africa por exemplo?
ResponderExcluirRonildo Pontes Oliveira
Olá Ronildo,
ExcluirA única boa resposta que eu posso te dar é "oferecer para eles a oportunidade de ler mateiriais sobre esses outros passados". Isso significa diminuir o uso do livro didático se desdobrar para conseguir esses outros materiais, abrir a discussão na sala de aula e fora dela. Também, eventualmente, incluir isso nos processo de avaliação, o que nunca é o mais efetivo.
Achei o texto excelente por problematizar as diversas temporalidades, em especial o modelo quadripartite francês. Eu confesso a minha dificuldade em pensar fora desse modelo para incluir os fatos históricos ao longo do tempo,e credito tal fato a toda uma formação que sempre me remetia ao modelo e a livros didáticos que não me davam outra alternativa, embora eu saiba que o papel como professora seria fundamental para quebrar esse ciclo. A BNCC tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Médio garante o Ensino de História nas diferentes temporalidades. Dessa forma, pergunto, como a formação inicial para o licenciado em História tem contribuído para a quebra do modelo quadripartite a partir dos seus currículos?
ResponderExcluirOlá Neila,
ExcluirOs PCN's e os DCN's garantem. A BNCC nem tanto. A produção da BNCC teve vários problemas e o resultado da terceira versão é bastante preocupante. Especificamente no que diz respeito às temporalidades, ela é bastante vaga e diminui a centralidade das habilidades e competências associadas a esse conceito quando comparamos a BNCC com os documentos anteriores, mais flexíveis.
QUanto à formação do licenciado em História, acho que e certo sentido ha muitos bons cursos que oferecem pontos de partida críticos do esquema tradicional. O que eu posso dizer sobre a área de Antiguidade é que o patamar da discussão hoje em dia entre os pesquisadores não permite mais aquela visão restrita. A questão é se o licenciado tem acesso à visão mais arejada, ou é formado de acordo com perspectivas dos anos 1950. Esse também é um trabalho continuo que deve inclusive ser pensado em termos de formação continuada.
Bom dia!
ResponderExcluirMe chamou a atenção um trecho do artigo que diz o seguinte:
“E é como estas etapas que elas mais afetam a nossa cultura histórica e o desenvolvimento de consciência histórica em contextos escolares. Pois essa visão da temporalidade é permeada pela ideologia do progresso e vincula esse progresso ao desenvolvimento de uma forma de sociedade em particular: a sociedade moderna e/ou capitalista que surgiria numa pequena pontinha do ocidente da Eurasia no século XVIII, que a partir desse momento foi capaz de pela força política e econômica dominar o resto do globo”.
É sabido que a discussão das grades curriculares e das práticas pedagógicas estão sempre permeadas pelo campo político, principalmente do grupo que está no poder e que tudo o que sabemos ou não sabemos é uma construção histórica. A minha questão é a seguinte: como pensar a prática pedagógica do ensino de história como libertária? Ou como relacionar os parâmetros curriculares do ensino de história com a temática de uma educação Democrática para o ensino de história?
No mais, ótimo texto, devemos como educadores questionar o ensino tradicional, o que funciona ou não, que prejudica a aprendizagem ou não. Parabéns.
Att,
Sarah Nathalia Cordeiro Cim
Olá Sarah,
ExcluirEssa é a grande questão de fundo: "Ou como relacionar os parâmetros curriculares do ensino de história com a temática de uma educação Democrática para o ensino de história?"
A nossa legislação já caminha nessa direção - Nem tanto a nova BNCC, que vai num sentido contrário, mais pela maneira descuidada e atropelada com que foi produzida do que por alguma ideologia de fundo.
O ensino de história como prática libertária é um ensino que se orienta pela emancipação, pela autonomia, pela crítica. No atual contexto tems de protegere nossa legislação (LDB, PCNs, DCNs) e criticar essa atual BNCC que caminha num sentido contrário.
No contexto da prática docente, acredito que apesar das péssimas condições de trabalho em que vive o professor, nosso objetivo é explorar a sala de aula como espaço de produção de conhecimento, de saberes. Nada mais autônomo e emancipador do que isso. Mas isso significa ir além das provinhas e testes conteudistas como forma de avaliação.
Professor,se tratarmos as temporalidades da Antiguidade como parte de um todo em um processo de longuíssima duração, seria possível estabelecer paralelos entre a Antiguidade e tempo presente.Com isso,seria possível aumentar a relevância do ensino da Antiguidade tanto clássica quanto oriental na base curricular de história?
ResponderExcluirOlá Filipe,
ExcluirEsse é certamente um caminho. O grande desafio neste caso é estabelecer precisamente quais seriam as características deste processo de longuíssima duração sem cair em teleologias ou retornar à ideia eurocêntrica de "legado clássico".
Inicialmente tecer o agradecimento ao trabalho pela abordagem da problemática que faz parte do contexto de estudante de graduação em licenciatura e desafios ao exercício da docência. Posto isso, minha questão está relacionada ao interesse dos discentes por leituras acerca da temática, principalmente no que diz respeito a mitologia, porém como despertar o mesmo interesse por leituras afro-brasileiras, a exemplo, a ancestralidade e raízes negras pouco vistas mesmo com a Lei 10.639/03 a partir do enfrentamento de uma história tradicional ainda vista nos materiais didáticos através do ensino da história social que valorize tais sujeitos invisibilizados fim de superar a “demonização” de suas práticas e de seus referentes?
ResponderExcluirAtt: Gabriela Grilo de Almeida Cordeiro
Olá Gabriela,
ExcluirA mitologia é um bom caminho para descobrir sociedades antigas, sejam elas do mediterrâneo, da Europa, ou da África. Para mim se trata em primeiro lugar da criação da oportunidade. Como professor de história, eu trabalho em sala de aula com muito narrativas míticas (dos povos do Mediterâneo e do antigo Oriente Próximo) do que eu gostaria. Mas tento criar oportunidades. Acho que o mesmo deve valer para as leituras ligadas à narrativas míticas africanas, área com a qual tenh pouca experiência de trabalho. Um caminho é a reflexão sobre a presença dessas temáticas na cultura e no dia a dia, principalmente na indústria cultural. Trazer isso para a sala de aula significa diferenciar essa presença na nossa cultura dos sentidos e funções nas socidades antigas. Felizmente hoje em dia há mais material para se trabalhar no que diz respeito à mitologia afro-brasileira do que mesmo há dez anos atrás. Colocar várias matrizes míticas lado a lado, comparando e problematizando as tradições pode ser frutífero também.
Boa tarde professor!
ResponderExcluirDentro da sala de aula, as múltiplas temporalidades são por muitas vezes deixadas de lado ou/e ignoradas, então, como trabalhar com o aluno a ideologia de temporalidades na antiguidade se ele já tem uma base, fundamentada por professores acomodados e até mesmo despreparados, de História Universal (Europeia) e positivista?
Fernando Raiol Mareco
Olá Fernando,
ExcluirSo um bom professor (ou bons alunos com autonomia) resolve os problemas gerados por professores despreparados e acomodados. Por outro lado, se já há nos alunos o desenvolvimento dessa concepção baseada na História Universal, se há essa base, há um objeto que pode ser problematizado, desconstruído e a partir do qual podemos repensar a história global. Essa base, existindo, pode e deve ser criticada.
Boa tarde professor Uiran. O tema que o senhor nos convidar a refletirmos e fascinante tanto para jovens, crianças e adultos. Aprendi muito com seu texto e fiquei ainda mais fascinado pela temática. Nas aulas de história eu procuro sempre entrar no tema a partir de uma situação atual. Partir da realidade do aluno para ensinar História significa tomar o cotidiano dos alunos como a primeira referência. Como isso pode ser feito pelo professor tendo como referencia a História antiga?
ResponderExcluiratt,
Jorge Luis de Medeiros Bezerra/Antônio Guanacuy Moura
Olá Jorge e Antônio,
ExcluirCom a Antiguidade é bastante possível trabalhar o ensino a partir de temas atuais ou do cotidiano, visto que muito dos conteudos e saberes associados a esta área dialogam com problemas políticos e sociais do mundo moderno, como é o caso da reforma agrária romana ou tributação rural no Egito, ou são pensados a partir de categorias ali criadas, como é o caso das noções "politica" ou "república". O cuidado aí é não forçar excessivamente a compração, e lembrar que parte do nosso trabalho com a Antiguidade também é provocar o estranhamento e usá-lo para entender a alteridade dessas sociedades.
Olá, minha pergunta é necessariamente, como os professores especialistas em Antiguidades, vem lidando com essa transição cada vez maior na área em relação a pesquisa e ensino do século XX para o XXI, especialmente em universidades?
ResponderExcluirMaria Luísa Soares Marcolino
Olá Maria Luisa,
ExcluirEu não sei se entendi a sua questão. Acho que do ponto de vista do trabalho do especialista, a Antiguidade que ele pesquisa se tornou não mais distante, mas mais próxima do que seria o ensino no século XXI. Ela é mais interessante porque mais plural. É mais fácil então trabalhar as sociedades da Antiguidade no contexto de ensino básico quando as representações possíveis dessas sociedades são mais ricas, mais dinâmicas e mais distantes daquele tipo de história política das elites ou uma história econômica sem sujeitos que eram as faces mais visíveis da História Antiga tradicional. O outro lado do problema é como pensar essa Antiguidade arejada no contexto da formação e atualização dos professores, uma vez que essa área tende a ser subvalorizada em iniciativas nesse campo.
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