A
CONCEPÇÃO POSITIVISTA DA HISTÓRIA E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI
Introdução
No momento atual, no contexto educacional,
alguns debates ganham importância. Uma das discussões que se destaca versa
sobre as mudanças necessárias à educação, no sentido de acompanhar as
transformações porque passa a sociedade contemporânea. Dentro desse quadro, as
referências às inovações tecnológicas, especialmente no campo das tecnologias
da informação e seus impactos no campo educacional, são frequentemente aludidas
(CORDEIRO, 2009).
Além disso, rediscutem-se, também,
concepções e funções da educação, como, por exemplo, a função da educação na
sociedade contemporânea, bem como o papel do professor e do estudante no
contexto das novas relações no processo educacional, que sofre impactos do
processo inevitável de transformações da sociedade.
Ademais, esse cenário traz à tona,
também, discussões importantes e inevitavelmente mais complexas, como por
exemplo, a relação entre sociedade/política/economia e escola na atualidade.
Como se não bastassem essas transformações na dinâmica interna das sociedades
contemporâneas, que exigem respostas apropriadas aos desafios que apresentam;
existe uma tendência de transição em concepções mais amplas, dizendo respeito à
macro visão de mundo que predomina no Ocidente pelo menos desde a Revolução Científica
do século XVII (CAPRA, 1999) quando, na passagem do século XVIII para o XIX a
História “(...) torna-se científica; ou, ao menos, assume clara e
explicitamente a pretensão à cientificidade como campo de saber a se situar
entre outras disciplinas universitárias” (BARROS, 2011, p. 1).
Assim, nesse quadro mais amplo,
passa a existir, também, uma mudança na visão cosmológica do Ocidente. Novello
(2002), informa que estamos passando exatamente por essa mudança, transitando,
segundo ele, de uma visão de tempo linear, e portanto, de história contínua (percepção
essa que pode ser visualizada na acepção de relativo domínio público da Teoria
do Big Bang), para uma (re)visão de tempo e História num sentido cíclico.
Enfim, juntando todas essas
tendências, ou seja, da dinâmica das sociedades contemporâneas, bem como da
mudança na visão cosmológica predominante até então no Ocidente, qual o impacto
disso na concepção de História que se trabalha cotidianamente em sala de aula? Qual
é a matriz teórica que fundamenta a visão predominante dos processos históricos
que se trabalha na Educação? Existe alguma atualização na concepção de História
que se trabalha atualmente em sala de aula, no sentido de responder às
exigências de resposta decorrente das transformações em curso?
Para se discutir especificamente a
questão da concepção predominante de História no contexto educacional e suas
possíveis transformações atualmente, no contexto das amplas mudanças porque
estamos passando, partimos da pressuposição de que a visão predominante de
história que se trabalha no processo educacional é a concepção de História
positivista.
Partindo desse pressuposto e
buscando justificar tal escolha, estruturaremos o presente trabalho da seguinte
forma: primeiro, buscaremos definir o que é o Positivismo e qual é sua concepção
de história; segundo, buscaremos estabelecer uma crítica à relação predominante
entre sociedade/política/economia e escola à que a concepção positivista da
história supostamente serve; por fim, apontaremos em que medida esse amplo
conjunto de transformações porque estamos passando atualmente pode exigir uma
nova concepção de História, e em que medida estaríamos empreendendo essa
mudança.
Metodologia
O procedimento metodológico que
fundamenta a geração dos conhecimentos que embasam a elaboração desse trabalho,
bem como a problematização do tema que se estabelece no seu decorrer, está
embasado em estudos, reflexões e observações especialmente do primeiro autor
como professor de filosofia e sociologia ao longo de quinze anos. No contexto
dessa vivência existiu, por repetidas vezes, discussões críticas sobre essa
temática envolvendo outros profissionais da educação de outras áreas de
formação, incluindo, nesse caso, o segundo autor desse artigo, cuja formação é
no campo da História.
Toda essa vivência dos dilemas
cotidianos da educação enfrentados pelos autores do presente artigo, são
confrontados com leituras críticas sobre a temática, no sentido de problematizar
e entender melhor a questão. O presente trabalho traz, como metodologia básica,
a relação dialógica entre essa vivência e diferentes interpretações teóricas
que buscam compreendê-la, sendo que algumas serão apresentadas e discutidas
nesse texto.
A concepção positivista de história
e a educação: alcances, limites e questionamentos
O Positivismo pode ser entendido
como um produto típico do século XIX, no sentido de que está circunscrito, como
produto, no conjunto das revoluções e transformações sociais, políticas e econômicas
desse século. Nesse sentido, para se entender o Positivismo, é preciso levar em
conta um conjunto de influências culturais e transformações sociais que se
processam nesse período. Isso significa considerar, principalmente, que o
século XIX é herdeiro do Iluminismo, e se caracteriza, portanto, como um século
burguês. Assim, o que embasa o surgimento do Positivismo se configura como um
conjunto de crenças ou configurações ancoradas na ideologia do progresso, no Cientificismo,
no Iluminismo e no Antropocentrismo, características básicas para o
desenvolvimento da organização socioeconômica e cultural capitalista.
Posto isso, pode-se
definir o Positivismo, inicialmente, como uma filosofia típica do século XIX,
que define uma visão específica da realidade, da sociedade e do ser humano. Segundo
Fonseca (2009), o Positivismo enquanto visão da realidade está bastante próximo
do que se denomina em filosofia como Realismo. Ou seja, concebe a realidade
como objetiva e independente do sujeito, configurando o real como uma instância
de que se possa auferir constatações sensíveis. Dito de outro modo, para a
filosofia positivista, a realidade é aquilo que está para mim disponível em
termos de constatação empírica; restringindo, nesse sentido, qualquer concepção
da realidade que não esteja estritamente vinculada à possibilidade de
verificação sensível.
Em termos do Positivismo como essa
filosofia da realidade, emerge, aqui, uma razão evidente porque o Positivismo
foi erigido como um dos pilares da ciência moderna; pois, como informa Lövy
(1994), apesar de os pressupostos teóricos do Positivismo “primitivo” do século
XIX estarem ultrapassadas, suas premissas epistemológicas acabaram por
tornarem-se as bases do pensamento científico moderno. Isso indica que o
Positivismo como filosofia, ou seja, como visão da realidade, da sociedade e do
ser humano, se coaduna com os princípios emergentes da nova ciência, que se
encaixa, por sua vez, no conjunto da visão de mundo que se estabelece com as
revoluções burguesas que se consolidam no século XIX.
Assim, conforme já indicamos, quando
se fala em revoluções burguesas, Iluminismo, Cientificismo, Antropocentrismo
etc., deve-se levar em conta o substrato poderoso dessa tendência que é a
consolidação do mercado como um novo centro organizador da vida em sociedade.
Ou seja, é especialmente a partir desse momento que se consolidam as sociedades
modernas como sociedades centradas no mercado, e as concepções de realidade, de
sociedade e de ser humano inerentes ao Positivismo, contribuem para a
consolidação cultural dessa visão.
A tese que queremos defender aqui é,
portanto, a de que essa nova configuração da sociedade centrada no mercado coaduna-se
com a filosofia positivista e sua concepção de história que lhe subsiste como
uma ideologia propulsora. Ou seja, a concepção da realidade que emerge do Positivismo,
é a visão propícia ao desenvolvimento do mercado; bem como a crença no progresso,
na ciência e no ser humano como medida elementar da organização social, são
pressupostos básicos para o próprio desenvolvimento do capitalismo.
Nesse sentido, a abordagem
positivista da História que se estabelece na educação formal a partir desse
período é ao mesmo tempo um resultado e um condicionante dessa visão da
realidade, da sociedade e do ser humano que se encontra no Positivismo. É assim
que, quase de modo natural, se estabelece (ou se reforça) uma concepção de
história linear, hierárquica e progressiva como um enlevo à própria crença no
mercado, no progresso, na ciência e no homo
faber/economicus; concepções
essas à que a educação nos moldes modernos servirá para edificar,
principalmente.
Por isso para o Positivismo a
História é entendida como essa sucessão de acontecimentos progressivos,
linearmente encadeados e que seguem uma espécie de padrão universal de evolução
da sociedade e da própria humanidade (COSTA, 1987). Ou seja, o padrão de
desenvolvimento das sociedades segue, necessariamente, as etapas do
desenvolvimento de sociedades capitalistas, passando pela consolidação de bases
científicas, tecnológicas, industriais, institucionais etc. Assim, ainda que
cada sociedade possa ter seu próprio ritmo, se houver seguimento do curso normal
da história, todas as sociedades passarão pelas mesmas etapas de
desenvolvimento social, político e econômico. Nesse ínterim aparece, novamente,
a forte perspectiva da ideologia do progresso, configurado na crença de que há
um percurso padrão de evolução social, político e econômico, convergente,
obviamente, com a própria evolução do sistema socioeconômico capitalista.
Uma das implicações fortes dessa
perspectiva é o encadeamento hierárquico das sociedades, sendo que o contato
entre as civilizações pode afetar o próprio percurso de cada uma delas. Por
isso os positivistas pregavam que civilizações superiores teriam a obrigação
moral de ajudar civilizações inferiores a evoluir mais rapidamente (COSTA, 1987).
Cabe questionar o que significa isso: trata-se de uma tentativa de padronização
da sociedade conforme os cânones do mercado? Seria essa uma justificativa para
o imperialismo desigual e mercadológico como ainda acontece nos dias de hoje?
Ao se afunilar essa macro-visão da
sociedade para uma realidade de trabalho educacional em sala de aula, o que
temos é a perspectiva clássica de como a história é trabalhada no âmbito
educacional. Primeiro, todos os acontecimentos estão orquestrados
(favoravelmente ou contrariamente) ao progresso social entendido num sentido
linear e hierarquizado por etapas sucessivas. Por isso adota-se uma abordagem
historiográfica pela perspectiva dos grandes acontecimentos e dos grandes
personagens históricos, buscando conformar acontecimentos particulares ao
processo histórico universal, como seguimento inelutável do próprio progresso
do capitalismo.
A crítica que pode ser feita aqui é
de que essa abordagem da história funciona como uma poderosa justificativa do desenvolvimento
do mercado, chegando até a situação atual do mercado como completamente
abrangente nas sociedades atuais, não existindo, aparentemente, alguma
alternativa ou via civilizacional outra que não a subordinação completa da
ordem social à lógica instrumental e mercadológica.
Além disso, como as transformações
profundas porque passamos atualmente podem contribuir para uma visão mais
diversificada da história? Existe a possibilidade de se pensar uma perspectiva
de entendimento da história num sentido mais plural, permitindo, por exemplo,
justificar a necessidade de restrição do impacto avassalador do mercado sobre a
organização social humana? Como a revolução nas tecnologias da informação e sua
aparente “democratização” podem permitir pensar em termos de alternativa e restauração
de núcleos vitais na sociedade, para além da rigidez fria e calculista dos
mercados, como nos alerta Polanyi (2012)?
Considerações
finais
Desde as décadas finais do século XX
estamos passando por profundas transformações em múltiplos sentidos, e que nos
afetam inevitavelmente. Essas transformações são sentidas, inicialmente como
crise, que se apresenta cada vez mais como inarredável e exige mudanças. O
sentido da crise é multifacetada: social, ambiental, econômica, cultural,
política, ética, existência etc. Assim, as mudanças acerca do próprio
conhecimento, ou seja, como se processa o conhecimento, como se veicula o
conhecimento e como se acessa ou se democratiza o conhecimento – que nos
referimos no começo desse texto, e que afetam diretamente o processo
educacional, parecem ser uma consequência direta da crise multidimensional que
se processa (ou se intensifica) nos últimos trinta anos.
Além disso, essa crise é geradora de
impasses. Fala-se, por exemplo, em fim das certezas (PRIGOGINE, 1996, HEISENBERG,
1996 e DEMO, 2000) e fim da História (FUKUYAMA, 1992). Seria essa situação
geradora de alternativas, ou estamos caminhando para um beco sem saída? As
novas características da informação, sua fluidez, impermanência (ou mesmo
incerteza) significam algum aprimoramento para o conhecimento humano, ou sua
decadência? Como esse conjunto de mudanças em nível ambiental, social e
tecnológico, impactam no entendimento do processo histórico no âmbito
educacional? Ou seja, estamos construindo um novo entendimento da fluidez
histórica, ou essa mudança ainda não começou a acontecer, ou nem vai acontecer?
Considerando o conjunto das
transformações que estamos passando atualmente, parece que estamos progredindo
em direção a horizontes sociais de fluidez, impermanência (BAUMAN, 2001). Em
que sentido isso impacta na educação? Ou mais especificamente, isso pode trazer
uma concepção diferente do processo histórico, num sentido de maior
diversidade, pluralidade e descentralização?
Ainda é cedo para constatar isso,
mas aventamos a hipótese de que esse é um processo inevitável, considerando,
principalmente, o modo como cada sujeito se insere, atualmente, nas dinâmicas
sociais. Se considerarmos o conjunto das novas tecnologias da informação, ou os
modelos tecnológicos de difusão de informação, como as redes sociais, por
exemplo.
O quadro que se tinha até pouco
tempo atrás era do sujeito subordinado ao monopólio da informação das grandes
mídias sociais, que eram abertas, no sentido da permissividade de acesso, mas
completamente fechadas no sentido da manipulação da informação. Esse era o
quadro geral das redes de televisão e o conjunto dos telespectadores, por um
lado, estritamente ligados; por outro, completamente separados, com uma
poderosa linha de influência unilateral, vindo do sistema televisivo e incidindo
sobre a massa dos telespectadores.
Com o fenômeno recente das redes sociais,
esse quadro está mudando radicalmente. Agora o núcleo gerador e difusor de
informações é o próprio sujeito, que midiatiza seu cotidiano, edita
virtualmente e publica como quiser. Evidentemente, essa é uma configuração
altamente complexa e questionável, como com relação à validade informacional,
veracidade, cientificidade, lógica social etc., o que não significa que a
configuração midiática clássica do telespectador passivo também não fosse
questionável. O fato é que estamos vivendo um processo de mudança na produção,
organização, gestão e difusão de informação num sentido cada vez mais
descentralizado, e isso sem dúvida impacta no processo educacional (formal e
informal) de um modo geral e possivelmente no modo como se concebe o processo
histórico.
Referências bibliográficas
Everton Marcos Batistela é
licenciado em Filosofia, Mestre e Doutor em Sociologia, Professor na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Manoel Adir Kischener é Bacharel e
Licenciado em História, Mestre em Desenvolvimento Regional e Doutorando em
História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
BARROS, José D. Considerações sobre
o paradigma positivista em História. Revista Historiar, Sobral, v. 4, n. 4, p.
1-20, jan./jun., 2011.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade
Líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Trad.
Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1999.
CORDEIRO, Jaime. Didática. São
Paulo: Contexto, 2009.
COSTA, Maria C. C. Sociologia:
introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1987.
DEMO, Pedro. Certeza da incerteza.
São Paulo: Ed. Plano, 2000.
FONSECA, Ricardo M. O Positivismo,
“Historiografia Positivista” e a História do Direito. Argumenta Journal Law, Jacarezinho,
n. 10, p. 143-163, jan./jun., 2009.
FUKUYAMA, Francis. O fim da História
e o último homem. Trad. Aulyde S. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
HEISENBERG, Werner K. A parte e o
todo: encontros e conversas sobre física, filosofia, religião e política. Trad.
Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
LÖVY, Michel. As aventuras de Karl
Marx contra o Barão de Munchausem: Marxismo e Positivismo na teoria do
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NOVELLO, Mário. Do Big Bang ao
Universo eterno. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2002.
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas:
tempo, caos e as leis da natureza. Trad. Roberto L. Ferreira. São Paulo:
Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.
POLANYI, Karl. A subsistência do
homem e ensaios correlatos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto,
2012.
Nos é ensinado uma História Eurocêntrica, onde a Europa é o centro do mundo. Hoje vivemos em um tempo em que os Estados Unidos é a maior potência do mundo. Pode-se acreditar que um dia a História se baseará nos E.U.A como centro do mundo e a partir disso ensinar um novo conceito de História nas escolas?
ResponderExcluirJéssica Marcelle Martins Passos
Manoel Adir Kischener
ResponderExcluirAgradecido. Tentando responder: uma posição pessoal e, de repente o co-autor terá outra, não acredito “que um dia a História se baseará nos E.U.A”, como você escreveu. E por duas justificativas, i) não nos é ensinada mais uma história eurocêntrica, acredito e, e se o é, deve-se muito aos professores (a nós mesmos, em última instância) afinal a história se renovou, a novas abordagens e novas perspectivas se avançou, a escrita está mais interdisciplinar (os historiadores estão a se permitir), até os sujeitos sociais que antes apareciam apenas como vítimas e de forma esporádica, agora ganham versões, às vezes até deles mesmos, como é o caso dos camponeses... poderão argumentar que, existe a Base e ela ainda é eurocêntrica, os livros didáticos, alguns ainda são, até pode ser, mas quem de fato, em sala de aula os segue à risca? e é possível (quando?) fazer uma aula tal como o planejado, ao menos na Educação Básica? existe ensino/docência/aprendizagem sem transgressão? E a internet, quem ainda não a usa, para acessar periódicos especializados, palestras, vídeos dos ditos especialistas? Dentre outros fatores, que me parece, assinalam que não se faz mais uma História eurocêntrica; em relação direta está a justificativa ii) se existiu (e existe, acredito!) ainda uma História eurocêntrica, penso, se devia justamente a preponderância do que escrevi, as abordagens, os métodos, as universidades e os centros de disseminação a partir de Europa, com tudo que está a ocorrer, há uma guinada de sentidos e possibilidades, depende muito do professor, qual lado ou lados ele deseja considerar... se pesquisar há as mais variadas possibilidades, considerando o ponto de vista a partir do continente que se vive.
Parabéns Pelo texto.
ResponderExcluirGostaria de colocar outro ponto em debate. Quando estamos no ensino fundamental e médio, temos um contato enorme com a história europeia.
Existe a busca pelo grande fato, acontecimento, personagem, e etc. Nas universidades, também somos expostos o tempo todo a historiografia marcadamente europeia. Existem poucas disciplinas(mesmo na universidade) sobre história de outros povos ou continentes, além de pouco material referencial disponível em português, por exemplo, sobre civilizações orientais, tais como a chinesa, japonesa, ou indiana. Ao pensarmos nessa diversidade proposta pelo texto, seria possível um conceito de História global, tratando temas como o feudalismo, como uma realidade geográfica de um determinado local, e não como uma realidade de todos os povos em questão naquele período?
Bom dia Alan! Obrigado pela pergunta! Respondendo seu questionamento, gostaria de pontuar que observando a trajetória educacional de cada um, vemos que existe, de fato, um ensino de história eurocêntrico. Sobre a minha história educacional, por exemplo, nasci e tive formação educacional até o ensino médio numa determinada região do Paraná, mas não lembro de ter estudado um acontecimento muito importante para a formação dessa mesma região, que foi um conflito agrário acontecido na década de 1957. Também a Guerra do Contestado que teve uma influência marcante na ocupação e composição étnica dessa região, só vim a conhecê-la e estudá-la, em maior profundidade, no ensino superior. A questão é se seria possível uma História Global ou mais descentralizada. Sobre isso, gostaria de pontuar duas situações: primeiro, que estamos vivendo um processo de globalização em múltiplos sentidos, e isso poderia favorecer a conscientização sobre essa História Global. Porém, um dos problemas disso é que essa mesma globalização é cada vez mais efêmera, mudando de foco e direção com rapidez, o que pode dificultar a estruturação de uma rede conceitual dessa história global. Segundo: lembro de que na graduação um professor me disse, certa ocasião, que a história da filosofia é como uma estrada com pontos bem definidos, em que todo estudante de filosofia vai passar e estudar. Mas, segundo ele, existe a margem da estrada, em que, pelo menos em filosofia, os autores “marginais” são geralmente os mais interessantes. Seria necessário, assim, segundo ele, que prestássemos atenção numa “filosofia marginal” que pode ser bem interessante e útil. Talvez em relação à história seja também dessa forma, onde caberia a nós, professores de história, resgatar relatos, acontecimentos e interpretações históricas “marginais”, o que pode ser muito útil para a construção dessa visão histórica mais ampla.
ResponderExcluirMuito Obrigado!
Everton Marcos Batistela